sábado, julho 28, 2012

Lagosta e malte unidos na mesa do MPLA!




O ex-embaixador da UNITA em Portugal e Espanha, Isaac Wambembe, anunciou hoje, em Luanda, a sua desvinculação deste partido e, é claro, o seu apoio ao MPLA.

Isaac Wambembe diz agora que não se revê na forma como o Presidente da organização, Isaías Samakuva, tem conduzido a organização e “pelos maus tratos de que os quadros são alvo”.

Falando em conferência de imprensa, o médico de profissão, manifestou a sua disponibilidade de servir as comunidades, colocando-se à disposição do Estado angolano.

“Representei o partido com toda dedicação e sofri a pior humilhação humana”, disse, frisando que depois dos acordos de paz do Luena, em 2002, os seus colegas da missão externa foram reinseridos nas embaixadas e noutras actividades, menos ele.

“Consciente da grande tarefa que todos os angolanos devem desempenhar para ajudar no desenvolvimento do nosso país, revejo-me no projecto de sociedade apresentado pelo MPLA”, destacando o programa de combate à fome, à pobreza e as grandes endemias, cujos resultados disse estarem reflectidos positivamente no seio das populações, diz Isaac Wambembe.

Quando, em Março de 2009, vi e ouvi a intervenção no programa Prós e Contras, da RTP, de Isaac Wambembe  na sua qualidade de delegado/representante da UNITA em Portugal, escrevi que foi nítida a  percepção de que algo ia mal, muito mal, pessimamente mal, no partido fundado por Jonas Malheiro Savimbi.

Apesar de o programa ter sido montado para, com uma outra excepção que confirma a regra, ser mais uma montra de apologia, por vezes demasiado subserviente, do regime angolano, a oportunidade poderia e deveria ter sido aproveitada para mostrar a outra face de Angola.

Não foi isso que aconteceu. E como me diziam alguns portugueses que ao meu lado assistiram ao programa, para além de tudo ser bom em Angola – inclusive a corrupção -, ficou claro que a UNITA não é alternativa e que – cito um deles – “se calhar até deveria ter tido bem menos do que os 10% de votos que teve nas legislativas”.

Como escrevi na altura, se Isaac Wambembe era o melhor que a UNITA tinha para chefiar uma delegação, ou uma representação, em Portugal, o melhor era Isaías Samakuva encerrar por falência intelectual e política essa representação.

Numa altura em que a UNITA precisava de se reafirmar como séria e competente alternativa ao MPLA, assistiu-se ao seu ébrio suicídio. Aguinaldo Jaime, representante oficial do Governo angolano no programa (todo os outros protagonistas principais eram representantes oficiosos), teve aliás a elevação ética de não amesquinhar o seu compatriota da UNITA, o que poderia facilmente fazer se tivesse dirigido qualquer questão a Isaac Wambembe.

O problema não foi – apesar de ter sido – o facto de Isaac Wambembe mostrar que não sabia o que ali estava a fazer. A assistência afecta ao MPLA teve múltiplos orgasmos quando viu que, apesar de não estar em condições psico-somáticas, Isaac Wambembe teimou em falar.

Nem mesmo a insistência de outros elementos afectos à UNITA evitou que Isaac Wambembe levasse à cena aquela burlesca tragicomédia que, por ser de tão fraca qualidade, até mereceu a comiseração do próprio Aguinaldo Jaime.

Até a própria produção do programa deu uma ajuda para remediar os estragos, procurando com café diminuir os visíveis e notórios resultados de alguns excessos da fermentação do malte.

Mas, reconheço, já há muito que Isaac Wambembe se sentia melhor fazendo a política do MPLA. Em entrevista (Março de 2009) ao Correio da Manhã, fez mais pelo regime do que pelos angolanos. Pelos vistos valeu a pena.

À pergunta “O que mais deseja na cooperação com Portugal?”, Isaac  Wambembe respondeu: “Apelo ao reforço da cooperação em todas as áreas, mas principalmente nos sectores da Saúde, Educação e Transportes”.

Se calhar o delegado da UNITA pensou (agora percebe-se melhor) que representava o MPLA, ou o Governo, por sinal são uma e a mesma coisa. Ou então, de facto, a UNITA é isso mesmo que esperava de Portugal.

“Que papel desempenha o delegado da UNITA em Portugal?”, perguntou o jornal.

Isaac  Wambembe respondeu: “Somos uma delegação e representamos os militantes da UNITA em Portugal. O objectivo é levar os angolanos afectos à UNITA para Angola, para ajudar a desenvolver o país. Temos muitos estudantes que estão a concluir as suas formações e outras pessoas que têm projectos que devem ser incluídos no quadro do desenvolvimento do país. Para regressarmos é preciso saber em que condições serão acolhidos, e tudo isto está a ser tratado com a embaixada e o consulado angolanos em Lisboa”.

Não está mal. O delegado do maior partido da Oposição, do partido que (pensava eu) aspira a ser alternativa, limita-se a um discurso subserviente, não vá o todo poderoso MPLA ficar zangado.

Depois de dizer que o MPLA domina tudo mas que “vai ter de compreender que precisa da ajuda de todos os angolanos”, Isaac  Wambembe disse que o que mais o preocupava  em Angola “era salvar aquele povo sem voz”.

E como é que isso se faz? Isaac  Wambembe responde: “ajudando o governo a criar condições para toda a gente”.

“Aquele povo”? Ajudar o governo? Bom, se – parafraseando Isaac  Wambembe – aquela UNITA aguentou tanto tempo este militante como seu representante em Portugal era porque, afinal, estava no mesmo estado.

Acresce que, finalmente,  Isaac  Wambembe  foi bater à porta certa, o MPLA. Não foi o primeiro nem será o último. Tem, contudo, a vantagem de aliar a lagosta ao malte.

Sem comentários: