O
ex-embaixador da UNITA em Portugal e Espanha, Isaac Wambembe, anunciou hoje, em
Luanda, a sua desvinculação deste partido e, é claro, o seu apoio ao MPLA.
Isaac
Wambembe diz agora que não se revê na forma como o Presidente da organização, Isaías
Samakuva, tem conduzido a organização e “pelos maus tratos de que os quadros
são alvo”.
Falando em
conferência de imprensa, o médico de profissão, manifestou a sua
disponibilidade de servir as comunidades, colocando-se à disposição do Estado
angolano.
“Representei
o partido com toda dedicação e sofri a pior humilhação humana”, disse, frisando
que depois dos acordos de paz do Luena, em 2002, os seus colegas da missão
externa foram reinseridos nas embaixadas e noutras actividades, menos ele.
“Consciente
da grande tarefa que todos os angolanos devem desempenhar para ajudar no
desenvolvimento do nosso país, revejo-me no projecto de sociedade apresentado
pelo MPLA”, destacando o programa de combate à fome, à pobreza e as grandes
endemias, cujos resultados disse estarem reflectidos positivamente no seio das
populações, diz Isaac Wambembe.
Quando, em
Março de 2009, vi e ouvi a intervenção no programa Prós e Contras, da RTP, de Isaac
Wambembe na sua qualidade de
delegado/representante da UNITA em Portugal, escrevi que foi nítida a percepção de que algo ia mal, muito mal,
pessimamente mal, no partido fundado por Jonas Malheiro Savimbi.
Apesar de o
programa ter sido montado para, com uma outra excepção que confirma a regra,
ser mais uma montra de apologia, por vezes demasiado subserviente, do regime
angolano, a oportunidade poderia e deveria ter sido aproveitada para mostrar a
outra face de Angola.
Não foi isso
que aconteceu. E como me diziam alguns portugueses que ao meu lado assistiram
ao programa, para além de tudo ser bom em Angola – inclusive a corrupção -,
ficou claro que a UNITA não é alternativa e que – cito um deles – “se calhar
até deveria ter tido bem menos do que os 10% de votos que teve nas
legislativas”.
Como escrevi
na altura, se Isaac Wambembe era o melhor que a UNITA tinha para chefiar uma
delegação, ou uma representação, em Portugal, o melhor era Isaías Samakuva
encerrar por falência intelectual e política essa representação.
Numa altura
em que a UNITA precisava de se reafirmar como séria e competente alternativa ao
MPLA, assistiu-se ao seu ébrio suicídio. Aguinaldo Jaime, representante oficial
do Governo angolano no programa (todo os outros protagonistas principais eram
representantes oficiosos), teve aliás a elevação ética de não amesquinhar o seu
compatriota da UNITA, o que poderia facilmente fazer se tivesse dirigido
qualquer questão a Isaac Wambembe.
O problema
não foi – apesar de ter sido – o facto de Isaac Wambembe mostrar que não sabia
o que ali estava a fazer. A assistência afecta ao MPLA teve múltiplos orgasmos
quando viu que, apesar de não estar em condições psico-somáticas, Isaac
Wambembe teimou em falar.
Nem mesmo a
insistência de outros elementos afectos à UNITA evitou que Isaac Wambembe
levasse à cena aquela burlesca tragicomédia que, por ser de tão fraca
qualidade, até mereceu a comiseração do próprio Aguinaldo Jaime.
Até a
própria produção do programa deu uma ajuda para remediar os estragos,
procurando com café diminuir os visíveis e notórios resultados de alguns
excessos da fermentação do malte.
Mas,
reconheço, já há muito que Isaac Wambembe se sentia melhor fazendo a política
do MPLA. Em entrevista (Março de 2009) ao Correio da Manhã, fez mais pelo
regime do que pelos angolanos. Pelos vistos valeu a pena.
À pergunta
“O que mais deseja na cooperação com Portugal?”, Isaac Wambembe respondeu: “Apelo ao reforço da
cooperação em todas as áreas, mas principalmente nos sectores da Saúde,
Educação e Transportes”.
Se calhar o
delegado da UNITA pensou (agora percebe-se melhor) que representava o MPLA, ou
o Governo, por sinal são uma e a mesma coisa. Ou então, de facto, a UNITA é
isso mesmo que esperava de Portugal.
“Que papel
desempenha o delegado da UNITA em Portugal?”, perguntou o jornal.
Isaac Wambembe respondeu: “Somos uma delegação e
representamos os militantes da UNITA em Portugal. O objectivo é levar os
angolanos afectos à UNITA para Angola, para ajudar a desenvolver o país. Temos
muitos estudantes que estão a concluir as suas formações e outras pessoas que
têm projectos que devem ser incluídos no quadro do desenvolvimento do país.
Para regressarmos é preciso saber em que condições serão acolhidos, e tudo isto
está a ser tratado com a embaixada e o consulado angolanos em Lisboa”.
Não está
mal. O delegado do maior partido da Oposição, do partido que (pensava eu)
aspira a ser alternativa, limita-se a um discurso subserviente, não vá o todo
poderoso MPLA ficar zangado.
Depois de
dizer que o MPLA domina tudo mas que “vai ter de compreender que precisa da
ajuda de todos os angolanos”, Isaac Wambembe
disse que o que mais o preocupava em
Angola “era salvar aquele povo sem voz”.
E como é que
isso se faz? Isaac Wambembe responde:
“ajudando o governo a criar condições para toda a gente”.
“Aquele
povo”? Ajudar o governo? Bom, se – parafraseando Isaac Wambembe – aquela UNITA aguentou tanto tempo
este militante como seu representante em Portugal era porque, afinal, estava no
mesmo estado.
Acresce que,
finalmente, Isaac Wambembe foi bater à porta certa, o MPLA. Não foi o primeiro
nem será o último. Tem, contudo, a vantagem de aliar a lagosta ao malte.
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