A polícia
irlandesa deteve hoje Sean FitzPatrick, o antigo presidente do banco
Anglo-Irish, agora nacionalizado, na sequência de uma investigação de fraude na
instituição bancária, que faliu durante a crise financeira.
Não sei a
razão, não sei mesmo, mas ao ler a notícia veio-me à memória o antigo
presidente do Banco Privado Português (BPP), João Rendeiro, que recebeu em 2008
três milhões de euros em remunerações. Isto, no mesmo ano em que a instituição
solicitou o auxílio do Banco de Portugal para evitar a falência.
De acordo
com o canal de televisão britânico BBC, FitzPatrick foi detido no aeroporto de
Dublin, a terceira vez desde que começou a investigação ao Anglo-Irish, há três
anos.
O banco
Anglo-Irish, que chegou a ser o terceiro maior banco irlandês, foi
nacionalizado há dois anos e desde então, necessitou da injecção de
financiamento estatal no valor de vários milhares de milhões de euros.
Em Março, o
banco, que se chama agora Companhia Irlandesa de Resolução Bancária, anunciou
prejuízos, antes de impostos, no valor de 873 milhões de euros, em 2011, contra
prejuízos de 17,7 mil milhões de euros em 2001.
No que tange
ao reino lusófono da europa, em 10 anos o BPP pagou a João Rendeiro 12 milhões
de euros, a maioria através de offshores. Deste dinheiro, apenas 3,2 milhões de
euros terão sido declarados ao fisco. Uma discrepância que acabou por ser
detectada pelas autoridades.
O antigo
presidente do BPP sustenta que os valores recebidos deveriam ser líquidos e por
isso considera que deve ser o banco a pagar os impostos em causa, motivo pelo
qual instaurou um processo contra o BPP.
Como disse
João Cravinho no prefácio do livro de... João Rendeiro, “esta é a história do
banqueiro, filho de um casal proprietários de uma sapataria em Campo de
Ourique, que do nada chegou ao topo no mundo das Finanças, com negócios em
Portugal, Espanha, Brasil e África”.
Continuando
com João Cravinho no mesmo texto, “João Rendeiro é um dos investidores mais
ousados e respeitados no mercado financeiro português. Neste livro ("Testemunho
de um Banqueiro"), Rendeiro desvenda a sua estratégia de fazer negócios e
investir na Bolsa, bem como a melhor forma de sobreviver à crise financeira
despoletada pelo subprime”.
Segundo noticiou
em tempos o Correio da Manhã, a casa onde mora João Rendeiro, no exclusivo
condomínio da Quinta Patino, em Cascais, está registada numa sociedade
estrangeira, sediada num offshore, que já teve duas moradas diferentes. A
mansão do lote 81, avaliada em 2,1 milhões de euros, é propriedade da empresa
Corbes Group Limited, que a adquiriu em Maio de 2000 com recurso a um
empréstimo do Banco Bilbao Vizcaya no valor de 250 mil euros.
Segundo
disse ao Diário de Notícias o socialista João Cravinho, actual administrador do
Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento (BERD), "é amigo"
do ex-presidente do BPP”, mantendo a propósito de João Rendeiro, que
"chegar mais alto pelo seu próprio mérito, com toda a limpeza, é também
apontar caminhos aos outros, um pouco como quem abre portas a futuras marés que
levantam os barcos à medida que a linha de água sobe."
No dia 24 de
Maio de 2009, escrevia o Correio da Manhã que muita coisa mudou na vida de João
Rendeiro:
“Passou de
um banqueiro de sucesso que 'venceu nos mercados' (como dizia na capa do seu
livro lançado em Novembro do ano passado) para o homem que deixou o banco
privado perto da falência. E muitos foram aqueles com quem privou que agora lhe
viraram as costas. A última vez que apareceu em público foi numa assembleia
geral do BPP, de onde saiu derrotado pelos accionistas que recusaram as suas
propostas para recuperar o banco. Não dá entrevistas, não comenta as acusações
que lhe são imputadas. Refugia-se na sua casa na Quinta Patino”.
Mas não é,
obviamente, tudo. “Mas há coisas de que não abdica. Saiu da reunião e foi para
o Hotel Ritz. Há poucas semanas foi visto a almoçar no Eleven (um dos
restaurantes mais caros de Lisboa), do qual foi fundador com mais 11
empresários. Em Fevereiro, também não perdeu a oportunidade de viajar para
Madrid para ir à conhecida ARCO, feira de arte contemporânea”.
Como sempre,
é mais um bom exemplo “made in Portugal”. Creio que será com gente assim que o
país se safará da bancarrota...
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