Em toda a
Lusofonia, os que têm, pelo menos, três refeições por dia têm razões para
cantar e rir. E os milhões que nem um prato de pirão têm?
A malária
continua a matar as crianças do meu país. Entre Janeiro e Maio o Kwanza Sul
registou um aumento de 6.770 casos. Em
2011 foram 41.521 e este ano já são 48.291.
Em todo o
Mundo, 815 milhões de pessoas sentem todos os dias, a todas as horas, o que é a
fome. Quase todas nasceram com fome, sobreviveram com fome e morrem com fome.
Muitos deles
pertencem à Lusofonia, apesar de os responsáveis pela Comunidade de Países de
Língua Portuguesa continuarem a ter (pelo menos) três refeições por dia. O
contributo lusófono para esta dramática cifra é relevante, pese a passividade e
indiferença dos países que integram a CPLP.
Mais do que
o peixe, os milhões de famintos da Lusofonia precisam de aprender a pescar. Mas
quem é que os pode ensinar?
Em todo o
Mundo, 1,1 mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável; 2,5 mil
milhões não têm saneamento básico; 30 mil morrem diariamente devido ao consumo
de água imprópria. Esta é, igualmente, uma realidade da Lusofonia. Seja como
for, os responsáveis da CPLP continuam a beber da melhor água... no mínimo.
A Sida já
infectou mais de 60 milhões de pessoas e tirou a vida a um terço destas; e a
malária mata 2,5 milhões de pessoas anualmente. Esta continua a ser uma outra
vertente da Lusofonia. E a CPLP...
Por esse
Mundo, 1,6 mil milhões de pessoas não têm acesso a electricidade e a maioria
recorre à queima de combustíveis que provocam a poluição do ar e problemas
respiratórios. Queiramos ou não, também aqui a Lusofonia dá o seu contributo.
Uma
superfície de floresta tropical húmida do tamanho de um estádio de futebol é
destruída em cada cinco segundos; e dentro de 30 anos um quarto dos mamíferos
terá desaparecido. Novamente encontramos uma quota parte desta verdade na
Lusofonia.
Segundo
Judith Lewis, do Programa Alimentar
Mundial (PAM) da ONU, cerca de 12 milhões de pessoas poderão morrer de fome em
Angola, Botswana, Lesoto, Malaui, Moçambique, Suazilândia, Zâmbia e Zimbabwe se
não forem distribuídos toneladas e toneladas de cereais. Aqui figuram dois
lusófonos.
Até há
pouco, o argumento da guerra (em Angola, na Guiné, em Moçambique e em Timor)
serviu às mil maravilhas para que a CPLP, enquanto organização que congrega os
países lusófonos, dissesse que só podia – quando podia – mandar algum peixe.
Para ensinar a pescar era imprescindível a paz. E agora?
Segundo
declarações do vitalício Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, existe
a esperança de que “a vontade política que norteia a CPLP, bem como as
excelentes relações entre os seus membros dêem lugar a programas concretos que
fomentem o crescimento económico, a erradicação da pobreza e a integração
social, para que a médio/largo prazo pudéssemos estar todos no mesmo patamar de
desenvolvimento”.
E
acrescentou: “deve-se, por isso, pensar muito seriamente na criação de
facilidades financeiras para a promoção recíproca do investimento e da
cooperação económica”.
Todos estão
de acordo. Só que... continua a não fazer sentido pedir aos pobres dos países
ricos para dar aos ricos dos países pobres.
Em vez de se
preocupar com o povo que não pode tomar antibióticos (e não pode porque eles,
quando existem, são para tomar depois de uma coisa que o povo não tem:
refeições), a CPLP mostra-se agora mais virada para questões políticas, para o
aprofundamento da democracia.
Que
adiantará ter uma democracia quando se tem a barriga vazia? Valerá a pena
pedir, ou exigir, aos jovens manifestantes angolanos que respeitem a legalidade se o que
eles querem é apenas que o povo não morra à fome?
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