Escreve o JN
que Vítor Constâncio “hesita em dizer se o Governo português terá de tomar
novas medidas de austeridade”. E se o homem hesita o BPN, perdão, Portugal deve
estar atento.
Em resposta
a uma pergunta feita durante a conferência de imprensa do Banco Central Europeu
(BCE), o vice-presidente do banco central disse que o "programa português
está no bom caminho".
Estejam então
os portugueses descansados. Se ele diz que “está no bom caminho” é mais do que
certo o desastre e, é claro, a certeza de que nem caminho existe.
Seja como
for, o vice-presidente do BCE de vez em quando deita uns bitaites como a dizer “estou
vivo”. É bom que o faça. Desde logo porque é importante não esquecer o que ele
andou a fazer nas ocidentais praias lusitanas, a bem da sua conta pessoal.
O caso BPN,
presumo – citando o ilustre, douto e supersónico ministro Miguel Relvas – no meu
“jornalismo interpretativo”, foi o grande teste que levou, muito justamente - Vítor
Constâncio para a cadeira do poder no BCE.
O Estado português
(seja lá o que isso for), pela via dos seus escravos, assume as fraudes e
crimes contíguos de banqueiros e outros políticos no caso BPN, e depois de uma
vasta operação de branqueamento volta a vendê-lo aos privados amigos que,
provavelmente, o compram com o dinheiro roubado ao… BPN.
A coisa é
simples. Nacionalizam-se os prejuízos e privatizam-se os lucros. E para isso,
reconheço, não é preciso andar três anos a tirar uma licenciatura. Basta ser
vigarista.
Quem não se
recorda que o impoluto governador do Banco de Portugal disse no dia 27 de Maio
de 2009, quando insistiu que a supervisão ao sistema financeiro actuava com
métodos e padrões próprios e usados internacionalmente e que não era uma
espécie de KGB e FBI juntos?
Na altura,
acusando um deputado do Bloco de Esquerda de “equívoco ou ignorância
fundamental” sobre o que é a supervisão e o que foi a intervenção do Banco de
Portugal no Banco Português de Negócios, Vítor Constâncio disse que a natureza
de algumas perguntas formuladas são “com presunções de os supervisores serem
uma espécie de KGB e FBI juntos”.
“O
supervisor não é um super polícia” com acesso a tudo, disse o então governador
do Banco de Portugal, mas sim uma entidade que actua segundo métodos e padrões
reconhecidos.
Todos
perceberam. Então, em vez de supervisor (visão superior à normal), o Banco de
Portugal deveria reconhecer que não passou de um simples visor ou, neste caso,
um grande retrovisor.
“Não pode
ser cometido o erro, para não dizer outra coisa, de se avaliar a actuação por
critérios e objectivos que sejam diferentes das práticas internacionais”,
indignou-se Vítor Constâncio, recordando que uma análise do Fundo Monetário
Internacional mostrara que as práticas do regulador português estavam no grupo
das melhores.
É verdade. O
melhor médico que conheci (e assim foi considerado por muitos) foi um que
sempre tratou da saúde aos que estavam de boa… saúde. Quando alguém estava
doente, mandava-os para o hospital.
Constâncio
deixou ainda uma interrogação sobre o papel dos revisores oficiais de contas e
auditores, dizendo que as situações detectadas no BPN, ainda antes desta
situação que levou à nacionalização, “foram todas identificadas pelo Banco de
Portugal e não pelos auditores”.
Ou seja. A
culpa é dos outros e não é tão grande porque, embora não sendo uma espécie de
KGB e FBI juntos, muito menos PIDE ou DGS, o Banco de Portugal conseguiu fazer
o papel dos outros. Se calhar esqueceu-se do seu, e como não tinha ponto...
E por alguma
razão já em 1802 Thomas Jefferson dizia:
“Acredito que as instituições bancárias são mais perigosas para as nossas
liberdades do que o levantamento de exércitos. Se o povo alguma vez permitir
que bancos privados controlem a emissão da sua moeda, primeiro pela inflação, e
depois pela deflação, os bancos e as empresas que crescerão à roda dos bancos
despojarão o povo de toda a propriedade até os seus filhos acordarem sem
abrigo...”
Era bom
(santa ingenuidade a minha) saber quais são os partidos políticos beneficiados
nas suas campanhas eleitorais não só em relação ao BPN como a todos os outros
bancos e grandes empresas que, por norma, jogam em vários tabuleiros para terem
a certeza de que – seja qual for o partido vencedor – ganham sempre.
De uma coisa
os portugueses podem ter a certeza. A corrupção, o compadrio, o clientelismo e
outras virtudes políticas vão desaparecer num qualquer buraco dos muitos em que
se transformou Portugal.
Não sei
porquê, mas até estou tentado a pensar que se os bancos fossem sérios e
honestos (eu sei que é uma utopia) se calhar muitas das empresas que estão em
dificuldade, bem como muitas das que já foram à vida, estariam hoje em boas
condições.
Ou será que,
para além de lucros milionários, os bancos ainda têm privilégios especiais que
os tornam donos e senhores deste reino? Será que os bancos são de facto, de
jure seria pedir muito, os donos do país?
E para não
se chatear muito com estes problemas domésticos, Vítor Constâncio pirou-se para
a vice-presidência do Banco Central Europeu.
A nomeação –
importa nunca o esquecer - de Vítor Constâncio baseou-se, segundo as teses
oficiais, na sua competência.
Seja como
for, creio que neste caso, como na maioria dos praticados em Portugal, o
“crime” compensa. Será difícil fazer pior do que aquilo que Constâncio fez nas
ocidentais praias lusitanas. Mas, pelo que se vai vendo, nunca se sabe.
Vítor
Constâncio, na altura em que supostamente terá prestado provas, foi confrontado
com a pergunta de uma eurodeputada luxemburguesa do Partido Popular Europeu
sobre as críticas que alguns sectores em Portugal lhe faziam sobre a forma como
exerceu as suas responsabilidades de supervisão financeira nos casos BPP, BCP e
BPN.
“Como se
pode explicar que um homem que fracassou no seu país pode ser responsável pela
supervisão na Europa?”, perguntou Astrid Lulling, acrescentando que seria
(será) como “dar barras de dinamite a um pirómano”.
Vítor
Constâncio rejeitou as críticas feitas e disse ter “muito orgulho” no seu
“desempenho à frente do Banco de Portugal”. O mesmo diria com certeza do
governador do Banco do Burkina Faso...
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