Como era
esperado, o regime angolano sacode as responsabilidades e – também sem novidade
– entende que está incólume a todo o género de críticas.
Desta vez foi
o procurador-geral da República que desvalorizou as denúncias (obviamente uma
manobra da oposição) de detenções e sequestros de opositores do Governo feitas
pela organização Human Rights Watch (HRW).
Aliás, João
Maria Moreira de Sousa tem um argumento imbatível para derrubar os argumentos,
os factos, apresentados pela HRW. Ou seja, o que acontece em Angola (e ainda falta
saber se de facto acontece alguma coisa) “acontece em quase todo o mundo”.
Ora aí está!
E tanto faz que aconteça num Estado de Direito – que Angola não é -, ou num
reino ditatorial como é o caso. É, aliás, a mesmíssima coisa. E tanto faz que
seja num país onde o presidente é eleito ou num – como o angolano – em que o
dono está no poder há 33 anos sem nunca ter sido eleito.
Questionado
pela Lusa, à margem de uma visita à Procuradoria-Geral da República portuguesa,
sobre os casos denunciados pela organização internacional de defesa dos
direitos humanos, João Maria Moreira de Sousa admitiu haver casos que, “pela
sua natureza, pela forma como são apresentados, têm sido objecto de
investigação”.
Mas, sublinhou com a precisão milimétrica de quem
tem de pensar no que diz e nunca dizer o que pensa, que “o que acontece em
Angola, acontece em quase todo o mundo. Em Portugal, nos EUA, em Inglaterra”.
A única
diferença, como muito bem sabe João Maria Moreira de Sousa, é que – ao contrário
de Angola – Portugal, EUA, Inglaterra são democracias. A diferença pode não ser
relevante… mas existe.
Pegando nas
verdades oficiais, muitas das quais já datam do tempo de partido único, o
procurador-geral esclareceu (como se isso fosse alguma novidade) que são casos
de “manifestações desordeiras, com algum carácter de violência, que têm de ser
efectivamente controlados pelas forças da ordem e às vezes acontecem alguns
excessos”.
E só por
modéstia João Maria Moreira de Sousa não explicou que os excessos não são das
força da ordem mas, é claro, dos manifestantes que teimam em atazanar os
pacíficos membros da Polícia.
Num
comunicado divulgado na sexta-feira em Joanesburgo, na África do Sul, a Human
Rights Watch denunciou detenções e sequestros de opositores e apelou às
autoridades angolanas para que libertem os detidos e garantam o seu acesso
imediato à assistência legal.
“As
autoridades devem urgentemente investigar os alegados raptos de vários
organizadores de protestos (contra o governo de Angola)”, afirma a HRW, não
cuidando de saber que não houve raptos mas, apenas, uma ajuda do regime para
que alguns denodados cidadãos tenham umas merecidas férias.
De uma coisa
todos têm a certeza. A HRW não vai à missa (por outras palavras, ainda não foi
comprada) o regime angolano. Em 2008, a organização disse que as eleições foram
"realizadas sob numerosas irregularidades".
Mas, afinal,
quem a Human Rights Watch julga que é para contestar o regime? A HRW não terá lido o manual de boas maneiras
do MPLA na versão angolana e de José Sócrates na versão (mais ou menos)
portuguesa?
A HRW referiu
em nota divulgada em 15 de Setembro de 2008, ter identificado irregularidades
que incluíam a obstrução, por parte da CNE (Comissão Nacional Eleitoral), do
credenciamento dos observadores nacionais, a falta de resposta da comissão à
parcialidade dos órgãos de informação, e a demora do governo em conceder os
financiamentos devidos aos partidos.
Também
afirmava ter provas, sobre estas três irregularidades, que "sugerem que o
pleito eleitoral não respeitou, em áreas fundamentais, os Princípios e
Directrizes Reguladores de Eleições Democráticas da Comunidade de
Desenvolvimento da África Austral (SADC)".
Na altura, de
acordo com a directora para África da HRW, Georgette Gagnon, foi escrito que Angola
precisava de reformar a CNE, "de modo a que esta não seja dominada pelo
partido no poder e esteja efectivamente em condições de responder aos problemas
eleitorais.
"Caso a
CNE não seja reformada, poderá acentuar-se o risco de os angolanos e os
parceiros internacionais perderem a confiança no incipiente processo
democrático que o país experimenta", adiantava a HRW sem grande eficácia,
como hoje se constata.
1 comentário:
Lá dizia a canção do antigamente na vida "porrada se refilar..."
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