Depois de a
troika ter decidido, e bem, acabar com os intermediários, o que a leva a
debater com Isabel dos Santos a resolução dos problemas de Portugal, também os
ministros lusos vão a despacho ao reino de Eduardo dos Santos.
O ministro
português da Economia, no cumprimento do seu dever, está em Luanda pela segunda
vez no espaço de 45 dias. A isso obriga a agenda de trabalho do regime
angolano.
Para
disfarçar a submissa missão de subalterno, Álvaro Santos Pereira deitou faladura a propósito de uma coisa de
que ouviu falar mas que, como muitas outras, não sabe o que é: Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa.
Segundo o
ministro, a CPLP deve ser um instrumento para a promoção de redes de negócios e
parcerias empresariais com capacidade acrescida de intervenção nos mercados.
Como a CPLP é um elefante branco, Santos Pereira acredita (e se calhar tem
razão) que é possível transformá-la um burro às riscas e vendê-la como zebra.
Sobre o que
está a fazer em Luanda, para além de receber ordens, o ministro repete os
contactos com quem manda e a visita, diz ele, a empresas portuguesas que, por
educação, o recebem. Só mesmo por educação. Na prática, os seus responsáveis só
falam com quem decide, e esses os dirigentes do MPLA.
“A língua
deve ser o nosso instrumento económico, promovendo redes de negócios,
promovendo parcerias, promovendo empresas conjuntas para conseguirmos aumentar
o músculo económico das nossas empresas no mundo”, acrescentou Álvaro Santos
Pereira, fazendo uma douta ligação entre a língua e o músculo.
Sempre que
Portugal não sabe o que anda a fazer, e quase sempre não sabe, emoldura a
submissão perante o regime angolano com a designação de parceria estratégica.
Parceria onde o MPLA manda e Portugal obedece.
O ministro
português integra na sua comitiva lagostiana uma delegação de 13 empresários
ligados às áreas da energia, água, resíduos, construção, turismo, indústria
farmacêutica e construção naval. Parceiros, obviamente, estratégicos.
Álvaro Santos
Pereira participa em duas iniciativas, articuladas com o regime do “querido
líder”, que demonstrarão a importância da participação de empresas portuguesas
no programa de investimentos públicos angolano e o destaque das trocas
comerciais entre os países de língua portuguesa.
“Esta visita
vai permitir desenvolver vários contactos ao nível governamental, mas também
visitar as empresas portuguesas que estão no terreno, falar com os empresários,
falar com os trabalhadores portugueses. Falar e saber quais são as dificuldades
e as oportunidades que as empresas portuguesas estão a sentir neste importante
país irmão”, salientou Álvaro Santos Pereira com aquele angelical ar de quem já
não precisa de usar vaselina, tal é a prática de estar de cócoras.
Reconheço,
contudo, que o regime angolano, liderado desde 1975 pelo MPLA, achar grande piada ao governo português
dirigido pelo “africanista de Massamá”,
Passos Coelho.
José Eduardo
dos Santos, um presidente que está no poder há 33 anos sem nunca ter sido eleito, perdeu um
velho amigo, José Sócrates, mas encontrou na dupla Passos Coelho/Paulo Portas
novos amigos que continuam a abrir as
portas que existem e as que não existem à entrada triunfal do seu clã.
Também o
actual governo português não está interessado em que o MPLA alguma vez deixe de
ser dono de Angola. O processo de bajulação continua a bem, dizem, de uma
diplomacia económica que – neste caso – se está nas tintas para os angolanos.
Embora já
não tendo, como no tempo de Sócrates, tantos ditadores para idolatrar, o
governo português continua a querer dar-se bem com os que existem, sobretudo
com aqueles que têm dinheiro para ajudar a flutuar as ocidentais praias
lusitanas.
Paulo
Portas, que até foi excepcionalmente recebido pelo dono de Angola, acredita que
o importante para Portugal são os poucos que têm milhões e não, claro, os
milhões que têm pouco… ou nada. E tem razão. São esses poucos que compraram o
seu país, dando em troca o estatuto de protectorado.
E se Portas
diz que as relações com Angola são excelentes, é porque são mesmo. Eu diria bem
mais do que excelentes... na óptica da Oferta Pública de Aquisição lançada por
Angola (que não pelos angolanos) sobre Portugal.
Tão
excelentes como os 68% (68 em cada 100) de angolanos que são gerados com fome,
nascem com fome e morrem pouco depois com fome.
Tão
excelentes como o facto de 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição
crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco
anos.
Tão
excelentes como Angola ser um dos países mais corruptos do mundo.
Tão
excelentes como a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou
seja, o cabritismo, ser o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os
angolanos.
Tão
excelentes como o facto de 80% do Produto Interno Bruto ser produzido por
estrangeiros; mais de 90% da riqueza nacional privada ser subtraída do erário
público e estar concentrada em menos de 0,5% de uma população.
Tão
excelentes como a certeza de que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao
capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às
licitações dos blocos petrolíferos, estar limitado a um grupo muito restrito de
famílias ligadas ao regime no poder.
Tão
excelente como o facto de Portugal ter mais de um milhão e duzentos mil
desempregados, 20 por cento de pobres e outros tantos que estão quase a saber
viver sem comer e a morrar sem ir ao médico.
Parafraseando
José Sócrates, não basta ser ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros,
das Finanças, da Economia, da Agricultura, dos Assuntos Parlamentares para
saber contar até doze sem ter de se descalçar... Mas, é claro, ser do governo é
suficiente para, por ajuste directo, entregar ao dono de Angola tudo o que ele
quiser. Espera-se, aliás, que queira
tudo e mais alguma coisa.
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