Às
ocidentais praias lusitanas situadas a norte, embora cada vez mais a sul, de
Marrocos, restam duas únicas alternativas, como bem sabem um milhão e duzentos
mil desempregados, 20% de miseráveis e outros 20% que já estão à porta de
miséria.
Portugal ou
se afunda totalmente e passa o testemunho a uma comissão liquidatária liderada
por Angola, ou assume que quer ser uma espécie (para pior) de Burkina Faso da
Europa.
Aliás, nada
disto é novo. Há mais de 500 anos que os antepassados dos portugueses sabiam
que o reino não tinha futuro se aceitasse passivamente estar limitado às
actuais fronteiras. Foi por isso que, num daqueles rasgos de heroicidade de
outros tempos, resolveram dar luz ao mudo.
Lembram-se
que foi um português que disse "De África tem marítimos assentos; É na
Ásia mais que todas soberana; Na quarta parte nova os campos ara; E se mais
mundo houvera, lá chegara!"?
Regressemos,
entretanto, à versão sul-europeia do Burkina Faso.
Portugal
continua, de facto e cada vez mais de jure, sem ser um país, sem ser um Estado
de Direito. É cada vez mais um local muito mal frequentado em que uma reduzida
casta de "nobres" donos da verdade escraviza toda a plebe, tratando-a
como se fosse, como é, constituída por escravos.
Em Portugal
nada funciona bem para a esmagadora maioria, embora funcione quase na perfeição
para os que estão no poder, para os que lá estiveram e, é claro, para os que
têm esperanças de lá chegar a curto prazo.
Segundo a
Transparency International, mais de meio mundo acredita que partidos,
parlamentos, polícia e tribunais são as instituições mais atingidas por uma corrupção
quotidiana generalizada.
Todavia, no
caso do tal reino das ocidentais praias lusitanas, tudo se resolverá com o tal
"apelo à cidadania responsável e participativa" para a qual, penso, é
fundamental que os portugueses se inscrevam nas organizações mais incólumes à
corrupção e que, nesta altura, são com certeza os partidos nacionais, a começar
pelo de Pedro Passos Coelho.
Mas nada
disto é relevante. Importa é salientar o orgulho luso de ver José Sócrates
dizer a Durão Barroso: "Conseguimos, pá!", de ver Cavaco Silva levar
cem empresários ao reino de Angola, de ver Pedro Passos Coelho de “joelhos”,
seja em Luanda, Berlim ou Pequim.
Ao que
parece, 70% dos portugueses (claramente manipulados pelas forças do mal que só
sabem fazer campanhas negras) considera os partidos políticos (isto é, aqueles
seitas consideradas vitais nas democracias) as instituições mais corruptas.
Mas poderá
lá ser! Corrupção nos partidos portugueses? Certamente que Transparency
International se esqueceu de ouvir os militantes do PSD, os candidatos a
militantes do PSD, os desempregados que querem ser do PSD para arranjar
emprego, os empregados à custa do PSD etc.
Se os
tivesse ouvido saberíamos que no partido de Passos Coelho a corrupção não
entra. E não entra porque já lá está, porque nunca de lá saiu, digo eu.
"Hoje
somos confrontados diariamente com dramas pessoais e familiares que
dificilmente poderíamos imaginar. São dramas que as estatísticas nem sempre
revelam, mas que nos vão alertando para a dimensão social que a actual crise
económica e financeira tem vindo a assumir", declarou o chefe de Estado
português um dia destes, como se nada tivesse a ver com o assunto.
Que Cavaco
Silva tenha dificuldade em imaginar os múltiplos dramas dos portugueses, ainda
vá que não vá. Não pode, contudo, é escudar-se na ignorância de quem vive longe
do país real para sacudir a água do capote e para fingir que não sabe que Portugal
talvez gostasse de ser mas (ainda) não é um Estado de Direito.
Cavaco Silva
e os seus assessores estão a levar demasiado tempo para ver o diagnóstico que
há muito foi feito por quem, mesmo desempregado, não penhorou a liberdade de
opinião.
Um Estado de
Direito conquista-se quando se não tem medo de dizer a verdade. E esta, quer o
presidente queira ou não, não é pertença nem do queixoso, nem do réu, nem do
juiz e muito menos daqueles que têm dinheiro para comprar o queixoso, o réu e o
juiz.
Os políticos
de uma forma geral, sejam o Presidente da República, os membros do Governo, os
deputados ou autarcas, teimam em tapar o sol com uma peneira, mesmo quando o
fazem a meio da noite.
De um
presidente de um Estado de Direito (eu sei que não é o caso de Portugal)
esperar-se-ia que tomasse medidas para castigar tanto o ladrão que entra em
casa como o que fica à porta. Mas não. Cavaco Silva, na sua qualidade de mais
alto magistrado da nação, parece querer castigar as vítimas e não os ladrões.
De um
presidente de um Estado de Direito (eu sei que não é o caso de Portugal)
esperar-se-ia que visse a quem beneficia a infracção, que argumentos usa para
cilindrar a liberdade e sobretudo porque o faz de forma completamente impune.
De um
presidente de um Estado de Direito (eu sei que não é o caso de Portugal)
esperar-se-ia que procurasse - por exemplo - saber como é possível a uma
empresa despedir dezenas de trabalhadores quando, poucos meses antes, os donos
e ou administradores gastaram mais muitos milhares de euros em carros novos
para seu uso pessoal.
De um
presidente de um Estado de Direito (eu sei que não é o caso de Portugal)
esperar-se-ia muita coisa. E não apenas o óbvio para tudo continuar na mesma,
para uns relembrarem o António (de Oliveira Salazar) e outros a necessidade de
uma nova revolução.
Pois! Mas
ainda há uns (e não são poucos) para quem a coisa só se revolve a tiro.
Parece-me uma boa opção. Temo, contudo, que ao escolher-se a política do olho
por olho, dente por dente, fiquemos todos cegos e desdentados. E se calhar os
responsáveis pela tragédia vão continuar a ter pelo menos um olho e dois
dentes...
De uma coisa
os portugueses não podem esquecer-se: Como dizia Platão: "O castigo por
não participares na política é acabares por ser governado por quem te é inferior."
E mais
inferiores do que os que estão hoje no poder é impossível.
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