Mostrando o que
aprendeu, entre outras, na Universidade Lusófona, Miguel Relvas disse no
passado dia 24 de Março, que "todos nós somos obrigados a ter memória”,
acrescentando que “ela é muitas vezes intencionalmente apagada por aqueles que têm
responsabilidades".
Neste
contexto, ninguém pode levar a mal que os jornalistas domesticados deixem de
dar voz a quem a não tem se, como acontece em Portugal, isso significar ser
assessor do ministro.
Agora que
tanto em matéria de democracia como de liberdade de imprensa (nenhuma existe
sem a outra) Cabo Verde está uns bons pontos acima de Portugal, é altura de os
donos dos jornalistas lusos e os donos dos donos implementarem as teses de
Fernando Lima.
Recorde-se que
as teses do consultor político do Presidente da República, Cavaco Silva, e seu
ex-assessor de imprensa, dizem que "uma informação não domesticada
constitui uma ameaça com a qual nem sempre se sabe lidar".
Pelos
últimos exemplos (RTP, RDP e Lusa) tudo leva a crer que Miguel Relvas sabe
lidar bem com o problema, apesar de não ser (e só não é porque não está para aí
virado) licenciado na matéria. Creio que para os lados do Governo português a
tese reinante é a de que jornalista bom é… jornalista de barriga vazia. Se não
resultar, outras medidas serão com certeza tomadas.
De qualquer
modo, não creio que a liberdade de imprensa seja um problema. Só é preciso que
os Jornalistas, seja no Irão, na China, em Portugal ou em Angola percebam que
dizer o que pensam ser a verdade é mais de meio caminho andado para a prisão,
para o desemprego, para a margem da vida.
É preciso
que saibam que a diferença entre Jornalistas bestiais e Jornalistas bestas é
apenas o quero, posso e mando dos donos dos jornalistas e, é claro, dos donos
dos donos.
Percebida
essa regra de ouro, tudo é mais fácil. Os cargos e os correspondentes ordenados
estão em linha directa com as colunas vertebrais amovíveis. Portanto, ser
jornalista é fácil e até pode dar milhões. Basta, entre outras regras, baixar
as calcinhas...
No Irão, há
dois anos, Bahman Ahmadi Amoui, editor do jornal económico “Sarmayeh” e crítico
das estratégias económicas do presidente Mahmoud Ahmadinejad, foi condenado a
sete anos e quatro meses de prisão, acrescidos de 34 chicotadas.
E ainda se
queixam os Jornalistas, alguns, do que se passa em Portugal. Já viram o que era
apanhar umas tantas chibatadas por ordem dos mercenários que tomaram conta de
alguns dos estaminés?
E pelo andar
do reino esclavagista do Relvas e Coelho, entre outros, os gulags, apesar das
denúncias de, por exemplo, Alexander Soljenitsin, continuam a existir, tantas
vezes dentro das próprias redacções que, cada vez mais, funcionam como meros
entrepostos dos partidos.
Na China, a
28 de Dezembro de 2009 as autoridades condenaram a seis anos de prisão o
realizador tibetano Dhondup Wangchen, por ter filmado entrevistas com tibetanos
para um documentário chamado “Leaving Fear Behind” (Deixar o Medo para Trás).
Pois é. Há
muito que, no caso de Portugal, chegou a altura dos jornalistas perguntarem não
o que o regime esclavagista pode fazer por eles mas, antes, o que eles podem
fazer pelo regime.
E o que
podem fazer é serem veículos transmissores e reprodutores, barrigas de aluguer,
das verdades oficiais, tipo Fátima Campos Ferreira no programa publicitário da
RTP transmitido de Luanda sob a capa de informação. Se o fizerem terão a vida,
uma boa vida, garantida.
Sendo que
muitos deles até dão o mataco como prova de fidelidade, não custa a crer que
estejam no bom caminho.
Os
jornalistas sabem que é melhor estar de cócoras e ter um prato de lentilhas, do
que estar erecto mas de barriga vazia. Sabem que é preferível serem criados do
poder e ter dinheiro para pagar ao merceeiro, do que serem honrados
profissionais e andarem a mendigar nas esquinas da vida.
O actual
governo conseguiu, sem grande esforço e em muitos casos apenas por um prato de
lentilhas, convencer os jornalistas que devem pensar apenas com a cabeça... do
chefe, mostrar aos Jornalistas que ter um cartão do PSD é mais do que meio
caminho andado para ser chefe, director ou até administrador.
Miguel
Relvas tem razão quando calcula que, com mais meia dúzia de lentilhas, os
jornalistas que ontem eram do PS passaram hoje a ser do PSD.
E se amanhã
voltarem ao PS, nada de mal acontecerá. Portugal é uma gamela onde têm lugar
cativo todos os que, como diz Pedro Rosa Mendes, “vivem dobrados em
democracia”. E as gamelas não estão longe. Ontem a mais concorrida era a do
Largo do Rato, hoje é a da Rua de São Caetano.
É claro que
a questão do mérito é facilmente mensurável. Basta ter cartão do partido no
poder, não ter coluna vertebral nem tomates.
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