A
Inspecção-Geral da Administração Interna de Portugal instaurou dois processos
disciplinares a polícias na sequência dos incidentes ocorridos em Março com
manifestantes no Chiado.
"O
processo de inquérito correu os seus termos e terminou com a instauração de
dois processos disciplinares", refere uma nota do Ministério da
Administração Interna (MAI) enviada à agência Lusa.
O MAI
esclarece que a matéria já apurada no processo de inquérito da IGAI será tida
"em consideração nos processos disciplinares que, por força do artigo 62
do Regulamento Disciplinar da Polícia de Segurança Pública, tem natureza
secreta até à notificação da acusação" que eventualmente venha a ser feita
aos polícias visados.
Segundo
adianta o semanário "Expresso", os polícias envolvidos nos processos
disciplinares são o agente da PSP que agrediu o fotógrafo da agência Lusa, José
Goulão, e outro que foi filmado pelas televisões a empurrar uma idosa durante
os incidentes no Chiado.
De acordo
com as fontes cá da casa, os agentes da autoridade envolvidos não eram
propriamente polícias. Mas, apesar disso, tinham a respectiva equivalência.
Deverão por isso ser considerados, para efeitos legais, como verdadeiros
polícias…
Tudo isto
aconteceu, importa dizê-lo, porque os jornalistas (alguns também munidos das
respectivas equivalências profissionais) têm a mania de – por exemplo – irem
fotografar levando consigo máquinas fotográficas. E isso é inconcebível. Viola,
aliás, todas as regras da segurança do Estado.
Além do
mais, é fácil os polícias (até mesmo para aqueles que não tiveram
equivalências) confundirem as máquinas fotográficas com as AK-47, com “cocktail
molotov” ou até com um lança granadas.
Assim sendo,
o melhor até era instituir (nem que fosse por uma lei da rolha ou do cassetete)
a obrigatoriedade de os jornalistas ficaram em casa, de modo a que as forças
policiais pudessem cumprir cabalmente as suas funções de meter na ordem todos
aqueles que, criminosamente, teimam em pensar de forma diferente dos donos do
reino.
Por sua vez
os órgãos de comunicação social teriam sempre o trabalho garantido pois,
imediatamente, os "Press officers e Media consultants" fariam chegar
às redacções tudo o que era necessário divulgar.
Se, mesmo
assim, os ex-assessores do governo, agora chamados de "Press officers e
Media consultants", falam todos os dias com os administradores, directores
e jornalistas das televisões, das rádios e dos jornais, e até escrevem notícias
com todos os requisitos profissionais, de modo a facilitar a vida aos
jornalistas, que mais podem querer os donos dos jornalistas e os donos dos
donos?
É claro que
os “Press officers e Media consultants" mentem de vez em quando, exageram
quase sempre, organizam fugas de informação quando convém, protestam contra as
fugas de imprensa quando fica bem, recompensam, com informação, os que se
conformam, castigam, com silêncio, os que prevaricaram.
Mas tudo
isto acontece porque os jornalistas não são filhos de boa gente? Será porque já
não existem jornalistas? Será porque se deixam comprar por um prato de
lentilhas? Será porque querem ser “Press officers e Media consultants”?
De facto,
por muito que me custe, começo a ver que a minha profissão (não tanto pelo
corrupto silêncio dos maus, mas pela indiferença dos bons) está a ser cada vez
mais um antro muito mal frequentado.
Mal
frequentado mas silencioso e domesticado, como convém.
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