sábado, julho 14, 2012

Não eram polícias mas tinham equivalência


A Inspecção-Geral da Administração Interna de Portugal instaurou dois processos disciplinares a polícias na sequência dos incidentes ocorridos em Março com manifestantes no Chiado.

"O processo de inquérito correu os seus termos e terminou com a instauração de dois processos disciplinares", refere uma nota do Ministério da Administração Interna (MAI) enviada à agência Lusa.

O MAI esclarece que a matéria já apurada no processo de inquérito da IGAI será tida "em consideração nos processos disciplinares que, por força do artigo 62 do Regulamento Disciplinar da Polícia de Segurança Pública, tem natureza secreta até à notificação da acusação" que eventualmente venha a ser feita aos polícias visados.

Segundo adianta o semanário "Expresso", os polícias envolvidos nos processos disciplinares são o agente da PSP que agrediu o fotógrafo da agência Lusa, José Goulão, e outro que foi filmado pelas televisões a empurrar uma idosa durante os incidentes no Chiado.

De acordo com as fontes cá da casa, os agentes da autoridade envolvidos não eram propriamente polícias. Mas, apesar disso, tinham a respectiva equivalência. Deverão por isso ser considerados, para efeitos legais, como verdadeiros polícias…

Tudo isto aconteceu, importa dizê-lo, porque os jornalistas (alguns também munidos das respectivas equivalências profissionais) têm a mania de – por exemplo – irem fotografar levando consigo máquinas fotográficas. E isso é inconcebível. Viola, aliás, todas as regras da segurança do Estado.

Além do mais, é fácil os polícias (até mesmo para aqueles que não tiveram equivalências) confundirem as máquinas fotográficas com as AK-47, com “cocktail molotov” ou até com um lança granadas.

Assim sendo, o melhor até era instituir (nem que fosse por uma lei da rolha ou do cassetete) a obrigatoriedade de os jornalistas ficaram em casa, de modo a que as forças policiais pudessem cumprir cabalmente as suas funções de meter na ordem todos aqueles que, criminosamente, teimam em pensar de forma diferente dos donos do reino.

Por sua vez os órgãos de comunicação social teriam sempre o trabalho garantido pois, imediatamente, os "Press officers e Media consultants" fariam chegar às redacções tudo o que era necessário divulgar.

Se, mesmo assim, os ex-assessores do governo, agora chamados de "Press officers e Media consultants", falam todos os dias com os administradores, directores e jornalistas das televisões, das rádios e dos jornais, e até escrevem notícias com todos os requisitos profissionais, de modo a facilitar a vida aos jornalistas, que mais podem querer os donos dos jornalistas e os donos dos donos?

É claro que os “Press officers e Media consultants" mentem de vez em quando, exageram quase sempre, organizam fugas de informação quando convém, protestam contra as fugas de imprensa quando fica bem, recompensam, com informação, os que se conformam, castigam, com silêncio, os que prevaricaram.

Mas tudo isto acontece porque os jornalistas não são filhos de boa gente? Será porque já não existem jornalistas? Será porque se deixam comprar por um prato de lentilhas? Será porque querem ser “Press officers e Media consultants”?

De facto, por muito que me custe, começo a ver que a minha profissão (não tanto pelo corrupto silêncio dos maus, mas pela indiferença dos bons) está a ser cada vez mais um antro muito mal frequentado.

Mal frequentado mas silencioso e domesticado, como convém.

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