quarta-feira, julho 18, 2012

Já agora ponham na ordem o bispo de Viseu




Estou, pelo menos desde Maio de 2009, à espera de ver os presidentes do Sindicato dos Jornalistas portugueses e da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, bem como o ministro da tutela, dizerem que o bispo de Viseu deve escolher entre o sacerdócio e o  comentário político.

O bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro, sem que daí tenham até hoje resultado consequências, afirmou em Maio de 2009, a propósito do Dia Mundial das Comunicações Sociais, que “há muitos jornalistas que estão ao serviço do director e não da verdade”.

Mas será mesmo assim? É mesmo assim em muitos casos, embora existam (cada vez menos) importantes excepções. O bispo deveria ter acrescentado que, por sua vez, os directores estão ao serviço dos patrões (políticos e ou económicos) e não da verdade.

As declarações do bispo de Viseu foram graves. Haverá consequências? Foram e são graves mas tudo vai ficar, vai continuar, na santa paz de... Deus. O “jornalismo” em Portugal atingiu em alguns casos um tal estado de descrédito (em tudo semelhante ao que se passa com a política) que já ninguém se preocupa. Num sistema de vale tudo, pouco importa se o jornalismo virou propaganda e apenas é mais uma linha de enchimento comercial.

Mas em Portugal existem organismos com responsabilidade no sector... Existem do ponto de vista formal, o que mais não é do que uma forma de fingir que Portugal é um Estado de Direito. Tanto o Sindicato dos Jornalistas como a ERC fecharam-se em copas, como se nada se passasse.

A situação descrita pelo bispo é nova? Não. Não é nova embora se tenha agravado com o advento da “ditadura” democrática do governo socialista de José Sócrates e seguida por Pedro Miguel Passos Relvas Coelho. Em alguns círculos, nomeadamente em blogues de jornalistas, o assunto tem sido passado a pente fino, embora – reconheço – sem resultados práticos.

Subentende-se então que é uma situação que assim vai continuar? Exactamente. Vai continuar a agravar-se e até mesmo algumas vozes sonantes, como a do bispo de Viseu, tenderão a calar-se porque ninguém gosta de pregar no deserto. Além disso, mesmo dentro da classe dos jornalistas, a tendência é passar a pensar com a barriga, o que significa que para sobreviver o melhor é comer e calar… e ir à missa com quem está no poder.

A ser assim, é a própria liberdade de imprensa que está em risco... Na maioria dos casos a liberdade de imprensa já foi à vida, dir-se-ia que – como no tempo de Salazar - a bem da Nação. E, ao que parece, ninguém repara que a própria democracia está inquinada e pode finar-se a qualquer momento.

Então o próprio jornalismo está condenado? Está condenado. Para além de terem de comer o que lhe querem dar e calar para manter o emprego, os jornalistas estão a ser transformados em meros autómatos produtores de textos de linha branca aos quais as empresas apenas colam o rótulo que mais conveniente for.

Isso significa vender gato por lebre? Mais do que isso. Significa vender gato por qualquer coisa que dê dinheiro, seja lebre, canguru, preguiça ou até mesmo… coelho com equivalência . É, aliás, uma forma de pôr os jornalistas ao serviço da “verdade” oficial ditada nas “offshores” da manipulação das massas.

Os órgãos de soberania, nomeadamente o governo, não podem fazer nada? Poder, podiam... mas não era a mesma coisa.

Nada fazem porque este é o modelo de “informação” que querem. É o modelo que em vez de dar voz a quem a não tem, amplia a voz dos que têm acesso a tudo. É o modelo que em vez de lutar pelos milhões que têm pouco ou nada, luta pelos poucos que têm milhões. É, portanto, um modelo feito à medida e por medida.

Então não há mesmo solução? Há. Não creio que a solução passe por Portugal mudar de povo. Mas tenho a certeza de que passa por Portugal mudar de políticos. Assim os portugueses tenham, como noutros tempos, tomates para o fazer.

Mudar só os políticos? Não. Há também muitos chulos que só são empresários graças a equivalências de todo o tipo, e muitos supostos jornalistas que ocupam por via de equivalências dúbias cargos de direcção e chefia que deveriam aprender a contar até 12 sem terem de se descalçar.

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