Ontem
completaram-se seis anos que o Tribunal dito Provincial de Cabinda proibiu a
Mpalabanda - Associação Cívica de Cabinda, principal organização de direitos
humanos em Cabinda, de exercer qualquer actividade.
A
organização operava há mais de 2 anos quando foi banida com base em acusações
infundadas de "incitação à violência." Seis anos depois, as
autoridades judiciais coloniais continuam a recusar a apreciação do recurso da
organização contra essa proibição.
A Mpalabanda
era, para além da única organização de direitos humanos activa em Cabinda, responsável
pela documentação de violações dos direitos humanos cometidas tanto pelo
governo quanto pela Frente para a Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC).
Logo após
seu encerramento, Agosto de 2006, a Mpalabanda interpôs um recurso no Tribunal Supremo
na capital da Angola, Luanda. O judiciário não deu continuidade ao caso e até ao
momento nenhuma audiência foi agendada.
Depois de
mais de cinco anos, em Novembro de 2011, ex-membros da Mpalabanda juntamente
com outros defensores dos direitos humanos e representantes da sociedade civil
assinaram uma petição que foi submetida ao Tribunal Supremo.
A petição
requeria que o Tribunal Supremo considerasse o recurso interposto pela
Mpalabanda em 2006. Ao mesmo tempo que a petição reconhece que existe um notável
acúmulo de casos no sistema judicial, ela aponta que o recurso submetido pela
Mpalabanda continua pendente mesmo depois de já ter transcorrido mais que o dobro
do período médio de espera para casos similares.
As
organizações nacionais e internacionais assim como membros da sociedade civil apoiam
inteiramente a petição da sociedade civil angolana e instam o Supremo Tribunal
de Angola a apreciar o recurso sem mais delongas.
É amplamente
reconhecido na jurisprudência internacional a excessiva morosidade processual
constitui denegação de justiça.
Em 14 de Março
de 2012, organizações de direitos humanos angolanas e internacionais enviaram
uma carta conjunta às autoridades de Angola em apoio à petição. Nenhuma
resposta ou atitude foi tomada pelo governo.
A Mpalabanda
publicou os seguintes relatórios antes de ser banida: Cabinda, Um Ano de Dor –
2003; Cabinda, o Reino da Impunidade – 2004; Cabinda, entre a Verdade e a
Manipulação – 2005.
As
organizações e cidadão manifestam ainda sua preocupação com as restrições ao
direito à liberdade de expressão, associação e reunião que continuam a ocorrer
em Cabinda.
Em
Fevereiro, Março e Abril de 2011, uma série de protestos antigovernamentais
foram proibidos ou dispersados além de os participantes terem sido presos. Em Julho
de 2011, nove activistas que pretendiam apresentar uma carta à uma delegação de
representantes da União Europeia foram presos pela polícia e acusados, sendo
todos absolvidos no mês seguinte.
Em 2010, sob
o pretexto de investigar o ataque contra a selecção togolesa de futebol, que provocou
dois mortos e nove feridos, as autoridades angolanas lançaram uma ofensiva
contra defensores dos direitos humanos e críticos do governo em Cabinda. Quatro
defensores dos direitos humanos, incluindo antigos membros da Mpalabanda, juntamente
com vários outros ativistas da sociedade civil foram acusados de crimes não
especificados contra a segurança do Estado sob a lei 1978, mesmo sem existir nenhuma
evidência contra eles provando qualquer envolvimento no ataque.
Alguns deles
foram sentenciados a penas que variavam de três a seis anos de prisão. Todos foram
liberados entre Setembro e Dezembro de 2010 e uma revisão parlamentar do abusivo
Art.26° da Lei 7/78 sob o qual eles foram condenados foi realizada.
Importa
lembrar às autoridades angolanas as suas obrigações relacionadas com os
direitos humanos e os seus compromissos para defender a liberdade de
associação, expressão e reunião e respeitar o papel legítimo dos defensores dos
direitos humanos.
Embora praticando
o contrário, o governo angolano aceitou todas as recomendações recebidas
durante o Revisão Periódica Universal (RPU) em 2010, em particular a que se
refere a “garantir aos defensores dos direitos humanos plena legitimidade e
protecção" e "prosseguir em um diálogo aberto com defensores dos
direitos humanos, em particular em Cabinda, bem como a apreciação do recurso da
Mpalabanda e a retirada da sua proibição”.
Assim, urge
que o governo de Luanda proceda sem mais delongas à apreciação do recurso
interposto pela Mpalabanda em 2006, assegure
o respeito completo pelas garantias de um julgamento justo incluindo especialmente
a objectividade e imparcialidade da revisão; assegure o respeito completo da
liberdade de reunião pacífica; tome edidas para garantir o reconhecimento
público e o pleno respeito do papel legítimo que dos defensores dos direitos humanos desempenham na sociedade, incluindo examinar os registos do governo em direitos humanos e expressar críticas; garanta em todas as circunstâncias que todos os defensores dos direitos humanos em Cabinda sejam capazes de realizar suas atividades legítimas de defesa dos direitos humanos, sem medo de represálias e livres de qualquer restrição, incluindo o assédio judicial.
Este é o texto,
embora não “ipsis verbis”, de uma carta enviada George Rebelo Pinto Chicoty, ministro
dos Negócios Estrangeiros de Angola, por algumas organizações e cidadãos.
A saber: Front
Line Defenders, CIVICUS, ACAT – France, OMUNGA,
Associação Justiça, Paz e Democracia, SOS Habitat, Associação Construindo
Comunidades, Associação Tratado de Simulambuco - Casa de Cabinda em Portugal, José
Marcos Mavungo, Jorge Casimro Congo, Raúl Tati, Alexandre Sambo, Felix Sumbo,
António Paca Pemba Panzo, Bernardo Tina Puati, Jerónimo Manguadi Semedo, Zeferino
Puati, Francisco Zau Tati, Inácio
Zacarias Muanda e António Capalandanda.
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