Dizem alguns
que “quem vai para o mar avia-se em terra”. Em Angola, quem vai para os
negócios avia-se no MPLA. Que o diga o general (da UNITA) “Black Power”.
Outros
generais das FALA também se aviam no MPLA mas, devido à filantropia do regime,
nem sequer tiveram necessidade de abandonar a UNITA. No entanto, experiente
como é e não vá o Diabo tecê-las, “Black Power” passou-se com armas e bagagens
para o lado dos donos do país.
Jonas
Savimbi deve estar a dar voltas e voltas na campa. Afinal, ao contrário do que
juraram muitos dos seus generais, mais vale ser escravo e comer lagosta do que
livre e alimentar-se de mandioca.
No seio do
Galo Negro todos parecem esquecer que a UNITA, por incapacidade dos seus mais
altos dirigentes, assinou a sua própria certidão de óbito logo a seguir à morte
de Jonas Savimbi, no dia 21 de Fevereiro de 2002.
E se a
assinou com a morte em combate do seu líder, já a tinha rubricado quando alguns
dos seus generais não só passaram para o outro lado, como aceitaram dirigir a
caça a Jonas Savimbi.
Não adianta
por isso continuar a dizer que a vitória seguinte começa com a derrota
anterior. Isso faria sentido se o Mais Velho ainda andasse por cá. Como não
anda e como os seus discípulos o que querem é apenas lagosta, ao povo que se
alimenta da mandioca só resta passar também para o outro lado.
Apesar de
todas as enorme aldrabices do MPLA, as eleições legislativas de 2008, tal como
vai acontecer com as deste ano, acabaram por derrotar em todas as frentes não
só a estratégia mas a sua execução, elaboradas pelos “generais” da UNITA.
Esperando (santa
ingenuidade!) que a Direcção da UNITA, esta ou qualquer outra, prefira ser
salva pela crítica do que assassinada pelo elogio, de vez em quando ainda penso
que é possível ver o Galo Negro voar. E quando estou numa de quimeras… logo
aparece um “Black Power” a puxar-me para a realidade.
Mas, se
calhar, nunca mais voará. Com tantos “generais” que apenas sabem levantar o
braço e içar um pano branco, com tantos generais que passaram, mesmo que
camufladamente, para o outro lado, creio que o Galo Negro já nem sequer existe.
A hecatombe
eleitoral, a passada e a que se aproxima, mostrou que a UNITA não estava mesmo
preparada para ser governo e queria apenas assegurar alguns tachos e continuar
a ser o primeiro dos últimos.
O
sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga
vazia, não viu nem vê na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi
prometida, entre muitos outros, por Jonas Savimbi, António Dembo, Paulo Lukamba
Gato, Alcides Sakala, Samuel Chiwale e também por “Black Power”.
Terá sido
para ver a UNITA com pouco mais de 10% que Jonas Savimbi lutou e morreu? Não.
Não foi. E é pena que os seus ensinamentos, tal como os seus erros, de nada
tenham servido aos que, sem saberem como, herdaram o partido e a ribalta da
elite angolana.
É pena que
os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram saber, dos que
militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter ao peito o Galo
Negro.
Se calhar
também é pena que todos aqueles que viram na mandioca um manjar dos deuses
estejam, como parece, rendidos à lagosta dos lugares de elite de Luanda.
Por último,
se calhar também é de lamentar que figuras sem passado, com discutível
presente, queiram ter um futuro à custa da desonra dos seus antepassados que
deram tudo o que tinham, incluindo a vida, para dignificar os Angolanos.
É que, ao
contrário do Mais Velho, na UNITA há muitos que preferem ser escravos com lagosta
na mesa do que livres embora procurando mandioca nas lavras.
4 comentários:
“Jonas Savimbi deve estar a dar voltas e voltas na campa. Afinal, ao contrário do que juraram muitos dos seus generais, mais vale ser escravo e comer lagosta do que livre e alimentar-se de mandioca.”
Os generais de Savimbi alguma vez foram livres? Muitos deles foram inclusivamente assassinados a mando do chefe, depois de sofrerem humilhações terríveis.
“E se a assinou (a sua própria certidão de óbito logo a seguir à morte de Jonas Savimbi, no dia 21 de Fevereiro de 2002) com a morte em combate do seu líder, já a tinha rubricado quando alguns dos seus generais não só passaram para o outro lado, como aceitaram dirigir a caça a Jonas Savimbi.”
Não lhe ocorre que Savimbi tinha perdido o apoio dos EUA, que à frente da África do Sul já não estava um governo racista, mas sim Nelson Mandela e portanto a Namíbia independente, governada por Njoma, já não era corredor para Savimbi?
Não lhe ocorre que Savimbi, na sua loucura final, na ânsia de querer o poder a todo o custo, não aceitava a realidade e sujeitou o povo que retinha, às maiores carências, tendo esses generais chegado à conclusão que não havia saída?
“... de vez em quando ainda penso que é possível ver o Galo Negro voar... logo aparece um “Black Power” a puxar-me para a realidade. Mas, se calhar, nunca mais voará. Com tantos “generais” que apenas sabem levantar o braço e içar um pano branco...”
Já o viu voar, sim... mas para bem longe! E ainda bem. Ainda bem que os generais içam o pano branco, ainda bem, dum lado e do outro. Os generais só são necessários, em tempo de guerra, em tempo de paz não fazem falta nenhuma. Vão-se dedicar a negócios? Acho muito bem. Vão ajudar na reconstrução do país? Melhor ainda.
“Terá sido para ver a UNITA com pouco mais de 10% que Jonas Savimbi lutou e morreu?”
Savimbi lutou para atingir o poder. Morreu porque perdeu as eleições e depois a guerra e não aceitou. Tão simples como isto.
“E é pena que os seus ensinamentos, tal como os seus erros, de nada tenham servido aos que, sem saberem como, herdaram o partido e a ribalta da elite angolana.”
Serviram. Serviram para muitos deles, neste momento, terem vergonha do que fizeram, ou do que lhes fizeram. Serviram para muitos deles ainda não conseguirem falar sobre o que se passava nas zonas controladas pela UNITA. Serviram para a tomada de consciência de muita gente que vivia sob uma política de terror, comece agora a relaxar e ter uma vida normal, dentro do possível.
Só quem não passou por lá é que pode falar assim, como o senhor.
Pois é. Mas, apesar de tudo, há uns que assumem, com nome e chipala, o que escrevem. Outros, muito corajosos e honrados, escondem-se no anonimato.
Boa tarde,
Em primeiro lugar quero concordar consigo: sou corajosa e honrada e ainda bem que descobriu essas minhas qualidades nas apreciações que fiz ao seu texto, pois não estão explícitas, penso eu…
Quanto ao anonimato é só uma questão de mau jeito ou ignorância, como queira. Aqui vai a minha assinatura: Dora Fonte
A chipala aparecerá brevemente num livro que publicarei.
Pelos vistos, não tem nada a comentar aos meus comentários… só uma pífia que nada significa.
lamento, porque assim não se dialoga.
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