terça-feira, janeiro 06, 2009

Conflito de Cabinda já não tem fronteiras

A fronteira entre Angola e República Democrática do Congo "não existe" para os guerrilheiros cabindas, que usam o país vizinho como retaguarda, e para os militares angolanos, que, acusa o líder das Forças Armadas Cabindesas (FAC), ali os perseguem.

Em entrevista à Lusa por telefone, alegadamente "a partir das zonas libertadas em Cabinda", Estanislau Miguel Boma, chefe de Estado Maior das FAC, afirma que a ausência de recentes ataques de envergadura em Cabinda não significa que "a guerra esteja perdida", mas que os guerrilheiros estão em "reorganização", e assume que está a enviar homens doentes para tratamento na RDC.

"Os que estão em estado enfermo e não podem suportar vida do interior das matas são evacuados para o exterior, são postos em esconderijos à espera que um dia tenham facilidade de entrar de uma forma clandestina no hospital para ser tratados", esclarece Boma.

"É aí que são massacrados pelas tropas angolanos, quando são localizados através das informações dos populares que são corrompidos com o dinheiro do petróleo angolano", como terá acontecido no passado dia de Natal, quando três guerrilheiros morreram, dois dos quais decapitados, afirma o líder da FAC, organização rebelde afiliada na Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC).

Os três homens terão sido capturados e executados por elementos das Forças Armadas Angolanas (FAA) numa aldeia junto à fronteira do enclave angolano com o país vizinho.

Angola reagiu por António Bento Bembe, ex-líder cabinda e actual ministro sem pasta, afirmando não dar "qualquer credibilidade" às informações de actos de guerrilha e acções das FAA no enclave, "fabricações de indivíduos de má-fé que estão contra a paz", que alega prevalecer.

As FAC reivindicaram recentemente ter abatido dez soldados angolanos em operações da guerrilha no território, entre 27 de Novembro e 01 de Dezembro, junto à fronteira, o que também foi desmentido por Bento Bembe.

O líder da FAC afirma que a "retaguarda" na RDC é usada para aprovisionamento, tratamento dos doentes, compra de medicamentos ou mantimentos, e que dispõe de apoio de grande parte da população, até pelos laços étnicos que existem em toda a região.

"Somos povos irmãos, falamos uma única língua, existem relações familiares", afirma, e "quando se mata o tio na cidade ou interior de Cabinda" a perda pode repercutir-se "no Congo Brazaville ou no Congo Democrático".
Boma diz que actualmente as FAA "atravessam a fronteira sem qualquer medo" e que têm a "mão posta sobre os Congos".

"A fronteira é inexistente", afirma.

Boma escusa-se a dizer quantos homens tem actualmente as FAC, mas assegura que são "centenas em todas as regiões" do enclave de Cabinda.

"Conforme andamos estamos a recrutar. É uma força armada popular, com os nossos jovens, os nossos filhos, os nosos irmãos, os nossos menores. Nas condições revolucionários, somos muitos. Mas não temos capacidade de guerra convencional, somos uma guerrilha", afirma.

Os batalhões da FAC "podem ter 200 e tal 300 homens", cerca de metade dos da FAA.

Quando à aparente falta de capacidade das FAC para realizar acções de envergadura contra as FAA ou instalações petrolíferas no enclave, Boma afirma que o "silêncio" se explica pela necessidade de fazer uma "revisão, verificar o que foi bem e mal".

"Os jogadores que estão em equipas fazem os preparativos para ir ao Mundial e isso tudo. Nós também, como revolucionários, temos sempre algum tempo de seminários. Quando se dá alguma pausa, não significa que estamos derrotados ou a perder capacitação", afirma.

"Muitas vezes os angolanos gabam-se de estarmos talvez de fora do teatro de guerra, mas afinal estamos a treinar os nossos comandantes, soldados, para poder um dia haver mais dinamismo, mais força, mais capacidade, novas estratégias, novas tácticas", adianta o líder da FAC.

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