Nem de propósito. No primeiro texto aqui publicado este ano recordei um velho amigo, um colega, um director que embora já tenha partido, de vez em quando aparece no meio da malta: José Saraiva.
O Zé sabia, ao contrário de outros que por aqui andam, que na profissão de Jornalista a única tarefa humilhante é a que se realiza com mentira, deslealdade, ódio pessoal, ambição mesquinha, inveja e incompetência.
O Zé sabia, ao contrário de outros que por aqui andam, que um Jornalista nunca (nunca) vende a sua assinatura para textos alheios, tantas vezes paridos em latrinas demasiado aviltantes.
O Zé sabia, ao contrário de outros que por aqui andam, que se o Jornalista não procura saber o que se passa no cerne dos problemas é, com certeza, um imbecil. E sabia que se o Jornalista consegue saber o que se passa mas, eventualmente, se cala é um criminoso.
O Zé sabia, ao contrário de outros que por aqui andam, que o chefe é o primeiro a chegar e o último a sair, tal como sabia que se o chefe for imposto por decreto os seus colaboradores não passarão de voluntários devidamente amarrados.
O Zé sabia, ao contrário de outros que por aqui andam, que um chefe não é apenas o que comanda mas, sobretudo, o que dá o exemplo. O Zé também sabia que, ao contrário de outros que por aqui andam, pensar que se é bom director só porque se usa gravata ou porque alguém lhe deu o título, é, mais ou menos, como pensar que se é pintor só porque se conhecem as cores do arco-íris.
O Zé sabia, ao contrário de outros que por aqui andam, que estamos todos os dias em cima de um tapete rolante que anda para trás e que, por isso, se nos limitarmos a caminhar, ficamos com a sensação de que avançamos mas, de facto, estamos sempre no mesmo sítio.
O Zé sabia, ao contrário de outros que por aqui andam, que muitos de nós para esconder as meias rotas preferem não tirar os sapatos, tal como sabia que uns perguntam o que não sabem, e só são ignorantes durante o tempo que leva a chegar a resposta, e que outros preferem ficar ignorantes toda a vida.
Zé: Tenho pena que nem todos os que contigo privaram tenham levado em conta o que sabias, mesmo que nem sempre o praticasses. Tenho pena. Mas, como vês, alguns guardaram o que de melhor sabias e que lhes permite contar até 12 sem tirar os sapatos... mesmo estando desempregados por ordem dos tais.
1 comentário:
Uma vénia gigante a esse gigante que foi (e é) José Saraiva.
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