Nada como a incursão israelita na Faixa de Gaza para pacificar (a fazer fé na comunicação social, sobretudo na portuguesa) os conflitos em África.
Alguém tem ouvido falar da situação no Zimbabué, onde por sinal os militares estão a matar elefantes para terem comida, e onde a cólera soma e segue?
Alguém leu, ouviu ou viu alguma coisa sobre os 2,5 milhões de deslocados na província de Kivu-Norte, no leste da República Democrática do Congo, na sequência dos combates entre o Exército governamental e grupos rebeldes?
Alguém se recorda de que há cheias em Moçambique e que as autoridades sanitárias de Maputo reactivaram o Centro de Tratamento de Cólera na capital?
Que espaço foi dado à notícia de que a fronteira de Luau, entre a província angolana do Moxico, e a República Democrática do Congo, foi encerrada por decisão das autoridades angolanas para evitar a entrada de produtos contaminados com o vírus de ébola?
Não deixa, contudo, de ser curioso verificar que apesar da cortina de ferro imposta por Israel à comunicação social internacional, que continua longe do epicentro da guerra, não faltam batalhões de jornalistas dispostos a transmitir o que consta que por lá se passa.
Interessante é igualmente ver que a alta-comissária dos Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, ex-juíza do Tribunal Penal Internacional, quer que seja feita uma investigação "credível e independente" ao que se passou na Faixa de Gaza desde o passado dia 27 de Dezembro, afirmando que as violações do direito humanitário internacional podem constituir crimes de guerra, "para os quais a responsabilidade penal individual pode ser invocada".
Não me recordo de ver, falha minha – é claro, Navi Pillay ser tão lesta a querer saber iguais coisas sobre a República Democrática do Congo ou mesmo sobre o Zimbabué.
O que se deve então dizer quando nos perguntam porque já não falamos de Darfur onde morrem dezenas de crianças por dia, todos os dias?
A mim só me ocorre uma resposta: uns são pretos e os outros não!
Sem comentários:
Enviar um comentário