O secretário executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), Domingos Pereira, desafiou hoje os que se opõem ao novo Acordo Ortográfico a “juntarem-se ao comboio”, num processo importante para a valorização do português no mundo.
Ora aí está. Tal como Portugal conseguiu resolver hoje com o casamento entre duas mulheres todos os seus problemas, existenciais ou não, também a CPLP resolve todas as questões com o Acordo Ortográfico.
“Respeitámos as opiniões (dos que são desfavoráveis ao acordo), mas não podemos ignorar que, quando queremos a atenção das Nações Unidas, quando queremos dizer que somos 250 milhões a falar português, temos de conseguir alguma forma de nos identificarmos”, afirmou Domingos Simões Pereira.
Ora então, para que o mundo nos entenda, devemos nós os fumantes (ou fumadores?) continuar de facto (ou de fato?) de barriga cheia de filé (ou bife?), conscientes de que as enquetes (ou sondagens?) serão favoráveis aos adeptos (ou à torcida?) que usam celular (ou telemóvel?).
Além disso, pelo sim e pelo não, vamos guardar no freezer (ou no frigorífico?) uma fotocópia (ou xerox?) do acordo ortográfico, enquanto brindamos com um fino (ou com um choupe?).
O secretário executivo da CPLP, que falava aos jornalistas em Ponta Delgada no início de uma conferência sobre o tema “O que podemos esperar da CPLP?”, garantiu que a implementação do Acordo Ortográfico constitui uma das prioridades da organização.
Quem diria? Aliás, o Acordo Ortográfico é vital para resolver a situação político-militar na Guiné-Bissau onde muitos dos seus mais visíveis protagonistas não falam qualquer espécie de português.
Assim como é vital para, em vários países da CPLP, evitar que as crianças sejam geradas com fome, nasçam com fome e morram pouco depois com fome.
"O português é o ponto de partida, é aquilo que permitiu que as culturas (dos oito países da organização) tivessem todo um conjunto de elementos em comum”, acrescentou, frisando que o apoio dos que estão contra o processo é essencial, uma vez que muitos deles, por serem profissionais da língua, “sabem como fazer as coisas”.
E quando um responsável da CPLP diz que o Acordo Ortográfico é uma prioridade e se sabe que a Guiné-Bissau regista a terceira taxa mais elevada de mortalidade infantil no mundo, fica a ideia de que afinal a CPLP se está nas tintas para os guineenses.
Sempre que alguém tem coragem de falar verdade (nunca é o caso de Portugal ou da CPLP), fica a saber-se que para além de envergonharem as autoridades guineenses – mostram a hipocrisia que reina nos areópagos das principais capitais da CPLP, a começar por Lisboa.
Será que com o Acordo Ortográfico a esperança de vida à nascença dos guineense, que agora é de "apenas" de 45 anos, vai passar para os 45,5?
Será que com o Acordo Ortográfico a CPLP deixará de aceitar calma e serenamente, como até agora, que apesar da miséria, os líderes guineenses continuem a saborear várias refeições por dia, esquecendo que na mesma rua há gente a morrer à fome?
Será que com o Acordo Ortográfico, Portugal, tal como outros, continuará a mandar toneladas de peixe para a Guiné-Bisau, esquecendo que o que os guineenses precisam é tão só de quem os ensine a pescar?
Será que com o Acordo Ortográfico, a CPLP vai continuar a mandar montes de antibióticos para a Guiné-Bissau, esquecendo, sobretudo porque tem a barriga cheia, que esses medicamentos só devem ser tomados depois de uma coisa essencial que os guineenses não têm: refeições?
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