
Estranham, contudo, os mais ingénuos que Pedro Pires tenha barrado os jornalistas quando estes, numa coisa a que se chama liberdade de imprensa, se aproximaram para chegar à fala com Teodoro Obiang Nguema Mbasogo.
Pedro Pires impediu as câmaras da televisão e os microfones de filmarem a entrada para o veículo oficial que levou Obiang Nguema para a Assembleia Nacional, o que gerou manifestações de repúdio dos jornalistas, tal o ineditismo do gesto, que foi mostrado e comentado de forma crítica pela televisão local.
Segundo a Repórteres Sem Fronteiras, em em 2009 Cabo Verde caiu do 36º para 44º lugar em matéria de liberdade de imprensa. Certamente que com mais este exemplar caso, a Pátria de Pedro Pires vai tombar mais uns lugares. Ou talvez não. Se calhar proteger um ditador é até uma qualidade, sobretudo petrolífera, que pode render muitos pontos.
Obiang, que a revista norte-americana “Forbes” já apresentou como o oitavo governante mais rico do mundo, e que depositou centenas de milhões de dólares no Riggs Bank, dos EUA, tem sido acusado de manipular as eleições e de ser altamente corrupto.
“Mas o que é que isso importa”, perguntará certamente Pedro Pires, tal como fazem José Eduardo dos Santos, Armando Guebuza ou José Sócrates.
Obiang, que chegou ao poder em 1979, derrubando o tio, Francisco Macias, foi reeleito no ano passado com 95 por cento dos votos oficialmente expressos (também contou, como é hábito, com os votos dos mortos), mantendo-se no poder graças a um forte aparelho repressivo, do qual fazem parte os seus guarda-costas marroquinos.
“Mas o que é que isso importa”, perguntará certamente Pedro Pires, tal como fazem José Eduardo dos Santos, Armando Guebuza ou José Sócrates.
Recorde-se que gozando, como todos os ditadores que estejam no poder, de um estatuto acima da lei, Obiang riu-se à grande e à francesa quando o ano passado um tribunal... francês rejeitou um processo que lhe fora intentado por recorrer a fundos públicos para adquirir residências de luxo em solo gaulês, com a justificação de que – lá como em qualquer parte do mundo - os chefes de Estado estrangeiros, sejam ou não ditadores, gozam de imunidade.
Os vastos proventos que a Guiné Equatorial recebe da exploração do petróleo e do gás natural poderiam dar uma vida melhor aos 600 mil habitantes dessa antiga colónia espanhola, mas a verdade é que a maior parte deles vive abaixo da linha de pobreza.
Mas se, por exemplo, em Angola há 70% os pobres, porque carga de chuva não podem também existir, democraticamente, na Guiné Equatorial?, perguntará certamente Pedro Pires, tal como fazem José Eduardo dos Santos, Armando Guebuza ou José Sócrates.
Reconheça-se, contudo, que tomando como exemplo Angola, a Guiné Equatorial preenche todas as regras para entrar de pleno e total direito na CPLP. Não sabe o que é democracia mas, por outro lado, tem fartura de petróleo, o que é condição “sine qua non” para comprar o que bem entender.
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