Cerca de seis mil pessoas, segundo as previsões, deverão caminhar (muitas de barriga vazia) domingo contra a fome, em Lisboa e no Porto, numa marcha de sensibilização e angariação de fundos para o Programa Alimentar das Nações Unidas (PAM).
Num país em que 20 por cento da população (sobre)vive na miséria, outros 20 por cento já a têm a bater à porta, e que conta com mais de 700 mil desempregados, fica sempre bem marchar, marchar e contra a fome lutar, lutar.
Denominada Marcha Contra a Fome, esta iniciativa é realizada à escala global, sendo que, este ano, vai decorrer “em mais de 200 cidades de 65 países”, afirmou o coordenador da caminhada em Portugal, Eduardo Queijo. Segundo referiu, a marcha global vai decorrer em todos os fusos horários do mundo, iniciando-se na Austrália e terminando em Samoa.
Sempre gostei desta política de pedir aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países pobres. Sendo que, de acordo com a política oficial do governo português, as ocidentais praias lusitanas até não estão tão mal como dizem.
Por outras palavras, os portugueses são pobres mas contentes e até vão ter mais um aeroporto, um comboio de alta velocidade e outras “mexiânicas” (homenagem a António Mexia) obras típicas dos países ricos.
“Estamos alinhados para fazer face aos mil milhões de pessoas que, neste momento, as Nações Unidas contabilizam com carências alimentares graves”, salientou Eduardo Queijo, acrescentando que “destas mil milhões de pessoas, uma em cada sete vai dormir com fome e a cada seis segundos morre uma criança de fome”.
Aliás, em Portugal a situação é bem diferente. Basta perguntar ao primeiro-ministro socialista. José Sócrates deverá até registar a patente relativa ao facto de os portugueses estarem a conseguir viver sem comer.
Em 2009, as marchas nacionais renderam cerca de 50 mil euros, mas este ano, face à retracção da economia, a organização apontou como tecto os 40 mil euros. O valor da inscrição na marcha é de cinco euros, o que permite dar uma refeição diária a uma criança durante quase um mês. “Uma refeição custa 20 cêntimos e a inscrição são cinco euros, o que dá 25 refeições”, afirmou Eduardo Queijo.
É isso aí. Há sempre, e há mesmo, quem esteja bem pior do que os portugueses. Em muitos países do mundo, também lusófono, morre-se antes de começar a aprender a viver sem comer. Já em Portugal, primeiro começa-se a aprender e só depois se morre...
As verbas angariadas em Portugal têm sido canalizadas para a Tanzânia, onde cada refeição dada funciona também como um incentivo de permanência das raparigas na escola.
Concordo. É sempre melhor enviar ajuda para a Tanzânia do que para a Guiné-Bissau. Os tanzanianos ainda poderão acreditar em Portugal. Os guineenses já não vão nessa.
Eduardo Queijo esteve em 2009 na Tanzânia, enquanto embaixador das Nações Unidas, a acompanhar o projecto, tendo percebido que esta iniciativa “faz a diferença para quem efectivamente nada tem”.
“A alegria das crianças é indescritível”, disse, acrescentando que, com o dinheiro angariado, foi já possível construir cozinhas em escolas e reservatórios de água, “coisas pequenas e simples que permitem a sobrevivência das pessoas”.
Pois. Se calhar na Lusofonia, por exemplo na Guiné-Bissau, a alegria das crianças já não existe. Além disso fica sempre bem dar sapatos aos filhos dos vizinhos e ter os nossos a andar descalços.
Creio que, domingo, António Mexia vai liderar nesta marcha a equipa dos impolutos gestores e similares. Finda a iniciativa, certamente que vão ter uma frugal refeição.
Qualquer coisita do tipo: trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005...
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