quarta-feira, junho 16, 2010

E se Portugal fosse um Estado de Direito?

O Estado Português é detentor de 50.14% da Lusa - Agência de Notícias de Portugal, SA, seguindo-se Controlinveste Media SGPS, S.A. (23.36%), Impresa – Sociedade Gestora de Participações Sociais, S.A. (22.35%), NP- Notícias de Portugal, CRL (2.72%), Público - Comunicação Social, S.A. (1.38%), Radio e Televisão de Portugal, S.A. (0.03%), O Primeiro de Janeiro, S.A. (0.01%) e Empresa do Diário do Minho, Lda. (0.01%).

Num Estado de Direito pode o presidente da Lusa dizer, seja a que propósito for, “é assim que eu quero e é assim que vai ser”?

Estando em Portugal é claro que pode actuar como se a Lusa fosse uma empresa unipessoal, como se fosse o único dono dela. Tenho, contudo, algumas dúvidas que num Estado de Direito tal fosse possível.

Mas se o Estado português, sócio maioritário da Lusa, tem um primeiro-ministro (José Sócrates) que se vira para um deputado e diz: "Manso é a tua tia, pá!"; se teve um ministro da economia (Manuel Pinho) que faz uns cornos para outro deputado; se tem um deputado (Ricardo Rodrigues) que rouba – ele chama-lhe “tomar posse” – os gravadores aos jornalistas que o entrevistavam... então tudo é possível.

Aliás, nem sei mesmo se a frase “é assim que eu quero e é assim que vai ser”, dita pelo presidente da Lusa, não terá de pagar direitos de autor a... José Sócrates.

Se os deputados portugueses (quase) transformaram o Parlamento num prostíbulo, se o Governo dá os exemplos que dá, que moral terá o Estado para dizer ao presidente da Lusa que ele é apenas administrador e não dono de uma empresa em grande parte paga pelos impostos dos portugueses?

Recordam-se, por exemplo, da primeira audição da Comissão Parlamentar de Saúde, em 9 de Dezembro de 2009, ter ficado marcada pela troca de ofensas entre os deputados Maria José Nogueira Pinto (PSD) e Ricardo Gonçalves (PS)?

Num estilo socialista que está a fazer escola (há notícias de que poderá ser exportado para o Burkina Faso), o deputado Ricardo Gonçalves, professor de Filosofia eleito por Braga, motivou a irritação de Maria José Nogueira Pinto, que o apelidou de "palhaço".

No meio da palhaçada que por norma são as comissões de inquérito, a deputada disse que "não sabia que tinham contratado um palhaço" para a Comissão Parlamentar de Saúde.

Em resposta, Ricardo Gonçalves teceu comentários sobre a troca de cor política por parte de Maria José Nogueira Pinto, coisa que – convenhamos – nunca existiu no PS... ao que parece.

“Não fiquei ofendido com a afirmação da deputada Maria José Nogueira Pinto. A senhora está sempre a mudar de partido. Vende-se por qualquer preço e chamar-me palhaço considero um elogio porque são muito importantes por esta altura do Natal”, disse então Ricardo Gonçalves.

Se fosse hoje, Maria José Nogueira Pinto teria parafraseado o presidente da Lusa e dito qualquer coisa do tipo: “O senhor é palhaço porque eu quero e é assim que vai ser”.

Crê-se, aliás, que terá sido esta brilhante actuação de Ricardo... Gonçalves, embora num palco secundário do prostíbulo-mor, que terá motivado a veia cómica (mas igualmente criminal) de Ricardo... Rodrigues.

E se, na minha opinião, chamar palhaços a alguns deputados é grave (por ofensa directa aos verdadeiros palhaços), dizer que a deputada (“vende-se por qualquer preço”) é uma prostituta – mesmo que seja na versão “soft” de cariz intelectual – já não me parece tão grave dado o contexto prostibular em que (con)vivem alguns deputados.

Se calhar, digo eu do alto da minha ingenuidade, os deputados do prostíbulo (outrora chamado de Parlamento) apenas seguem os exemplos dos mais altos representantes do bacanal colectivo que, no mesmo local, falaram de “espionagem política”, “sujeira”, “coscuvilhice” e “política de fechadura”...

Em síntese, se este é o país, ninguém pode levar a mal que o presidente da Lusa se julgue o seu dono todo poderoso que, como agora se vê, põe em prática a máxima do eu quero, posso e mando.

Ou, na versão socialista de raízes macaenses: “É assim que eu quero e é assim que vai ser”.

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