Helena Paixão e Teresa Pires casaram hoje de manhã numa conservatória de Lisboa e tornaram-se nas primeiras pessoas do mesmo sexo a casarem em Portugal.
Com o testemunho, mesmo que só em espírito, do primeiro-ministro, José Sócrates, elas prometem ser felizes para sempre. E como esta era a única crise que o país tinha, todos poderão agora ser socialistas, gays e igualmente felizes.
Quando José Sócrates, secretário-geral do PS às segundas, quartas e sextas, prestou homenagem aos membros das associações cívicas que ao longo das últimas décadas, em circunstâncias que considerou extremamente difíceis, lutaram contra as discriminações sociais e pelos direitos dos cidadãos homossexuais, ficou tudo mais gay – perdão – mais claro para os portugueses.
O futuro, sólido e “mexiânico” (neologismo que significa apologia de António Mexia), passa agora nas ocidentais praias lusitanas por ser homossexual e socialista. Tudo em simultâneo. É que ser gay sem ser socialista não chega. Já ser socialista sem ser gay... é meio caminho andado.
Com o casamento de hoje, os socialistas sentem-se igualmente felizes. Fica tudo em família já que, ao longo dos tempos, a causa homossexual sempre foi uma nobre causa da família socialista.
Creio até que Helena Paixão e Teresa Pires vão ter direito a uma foto na sede nacional do PS, bem como uma entrada directa para a história do país, na circunstância escrita em português técnico pelo próprio José Sócrates.
Por razões óbvias, quem não tem direito a estar na história são, por exemplo, os 700 mil desempregados. Isto porque, no contexto do PS de José Sócrates, o partido tem gays mas não tem desempregados.
Para mim, educado no sentido em que a minha liberdade termina onde começa a dos outros e, é claro, que a dos outros termina onde começa a minha, cada um pode comer do que quiser, desde que o faça em consciência e em liberdade.
É por isso que, quando olho para Portugal, vejo um país que ao fim de trinta e tal anos de suposta democracia ainda não conseguiu ser, ou aproximar-se, de um Estado de Direito. E é por isso que, na minha opinião, o que não é normal em Portugal é ser normal.
Finalmente, Helena Paixão e Teresa Pires confirmam a tese de Pedro Silva Pereira, Ministro da Presidência, para quem esta lei acabou com uma “discriminação social”, o que representa um “grande avanço na sociedade portuguesa”. E que avanço, digo eu!
Num cenário de 700 mil desempregados, 20% da população já a viver sem comer e outros 20% a viver com o espectro da fome a bater à porta, o exemplo de Helena e Teresa mostra que a solução é mesmo não olhar a meios para atingir o objectivo de não ter os pratos vazios.
Uma outra alternativa, por exemplo, é ser dirigente das associações de lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros...
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