terça-feira, junho 29, 2010

De golpe em golpe até ao golpe final,
a sangrenta história dos guineenses

A nomeação de António Indjai como líder das Forças Armadas da Guiné-Bissau surpreendeu a ONU e a União Europeia (não a CPLP que está sempre de acordo com quem manda) e veio levantar dúvidas sobre a independência do Governo face ao poder militar.

Surpreendeu? Levantou dúvidas? Ora essa! Alguém tem dúvidas de quem manda, de facto que não de jure, na Guiné-Bissau? Basta ver o percurso do país, nomeadamente os golpes e os assassinatos, para se saber que a lei está nas Kalashnikov.

Tudo o resto, como por exemplo a subordinação do poder militar ao político, existe apenas para contentar os exportadores de democracias, estejam eles na Europa ou nos EUA.

Duas semanas depois da intervenção militar de 1 de Abril, a dita comunidade internacional disse aos órgãos políticos de Bissau (Presidência e Governo) que o novo chefe de Estado Maior das Forças Armadas deveria ser alguém que não tivesse estado envolvido.

O resultado está à vista. Foi escolhido o principal protagonista do golpe. Diga-se, contudo, que seria impossível escolher alguém que nunca tivesse estado envolvido nos sucessivos golpes. Aliás, o lema da Guiné-Bissau parece ser: de golpe em golpe até ao golpe final.

A comunidade internacional pensa, por exemplo, que Malam Bacai Sanhá é Carlos Gomes Júnior são dirigentes políticos de uma democracia estabilizada e de um Estado de Direito. Infelizmente para todos, mas sobretudo para os guineenses, não é assim.

Recordo-me de, no início de Janeiro, o presidente da Guiné-Bissau ter convocado o Governo, o procurador-geral da República e o chefe das Forças Armadas para explicarem a razão pela qual o ex-chefe da Armada, Bubo Na Tchuto, se refugiara na sede da ONU em Bissau.

O contra-almirante Bubo Na Tchuto esteve refugiado na sede das Nações Unidas em Bissau após entrar no país de forma oficialmente clandestina, vindo da Gâmbia, onde se encontrava exilado desde Agosto de 2008, após ter sido acusado pelo Estado-Maior das Forças Armadas de ser o líder de uma alegada tentativa de golpe de Estado.

O governo da Guiné-Bissau exigiu então à ONU a entrega imediata e incondicional do oficial, invocando a necessidade de este ser apresentado à justiça para ser julgado pelos crimes de que era supostamente suspeito: tentativa de golpe de Estado, tentativa de alteração de Estado de Direito e deserção.

A ONU pediu calma ao Executivo guineense, argumentando com a necessidade de se encontrar uma solução pacífica (coisa com a qual a Guiné-Bissau parece não saber conviver) e legal para o caso, mas sempre salvaguardando as normas do direito internacional (outra das regras quase desconhecida em Bissau).

Tudo isto é, afinal, a reedição de um filme já gasto de tanto ser usado. Vão mudando os protagonistas principais, mas o argumento é sempre o mesmo. Também a assistência (CPLP e companhia) é sempre a mesma.

Recordam-se de um outro filme em que o director-geral dos Serviços de Informação do Estado (SIE) da Guiné-Bissau, coronel Antero João Correia, foi detido em Bissau por, ao que parece, se ter recusado a dar cobertura à alegada intentona golpista de 5 de Junho do ano passado?

Recordam-se que a morte de Hélder Proença e Baciro Dabó teria resultado dum tiroteio que se seguiu à resistência demonstrada por eles quando as forças da ordem, alegadamente, pretendiam detê-los pela sua suposta implicação na intentona?

Recordam-se que Kumba Ialá disse que "o senhor primeiro-ministro vai ter de explicar ao povo da Guiné-Bissau quem matou Hélder Proença, Baciro Dabó, Tagmé Na Waié e o general João Bernardo Nino Vieira. Catorze pessoas que morreram durante o seu mandato"?

Recordam-se que na Guiné-Bissau nenhum candidato, nenhum presidente acabou o seu mandato e em 15 anos o país já teve seis presidentes?

Recordam-se que o coronel Antero João Correia, antigo comandante-geral da Polícia, teria sido detido por ordens do então interino chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, Zamora Induta, depois de se recusar a assinar o comunicado do SIE que anunciava a neutralização da alegada tentativa de golpe de Estado?

Recordam-se que esta recusa teria obrigado os mentores do plano a confiar a assinatura do documento ao director-geral adjunto dos SIE, coronel Samba Djaló, que foi apontado como uma pessoa "muito próxima" (pudera!) de Zamora Induta e seu representante a nível do Ministério do Interior que tutela os SIE?

E assim se vai escrevendo a história do princípio daquilo que pode ser o fim da Guiné-Bissau. Realidade que não preocupa todos aqueles que vão continuando a cantar e a rir.

1 comentário:

Armando Quadé disse...

Espanha-1
Portugal-0

Guiné-Bissau-1America/Portutgal/E.U./O.N.U./Comunidade Internacional-0

Caro Sr. Orlando Castro,
Por Quê Falar Inglês...?!