Recordam-se que, a 14 de Abril do ano passado, o então presidente do Congresso Nacional Africano (ANC) e hoje presidente da República da África do Sul, Jacob Zuma, quis processar o jornal britânico “The Guardian” por difamação?
Segundo o “The Times” sul-africano, a advogada Lies Gottert, que tinha a seu cargo a abertura de vários processos-crime por parte de Jacob Zuma, encontrava-se em Londres a tratar dos requisitos legais para avançar com o processo-crime por difamação contra o “Guardian”.
Zuma, que já processou vários jornais e jornalistas na África do Sul por artigos e cartoons publicados ao longo dos últimos anos – particularmente por alturas do seu julgamento por alegada violação de uma amiga de família, no qual foi ilibado – teria ficado incomodado com um artigo publicado no “Guardian” sob o título “Habituem-se a uma África do Sul corrupta e caótica mas não a ignorem”.
Como é que o jornal “The Guardian” descobriu que existe corrupção na África do Sul quando todos, até mesmo os britânicos, sabem que África é um continente onde o caos e corrupção não existem?
No artigo, escrito por Simon Jenkins, o presidente do ANC que foi eleito presidente do país oito dias depois, era descrito como “um líder zulu polígamo vestido de peles de leopardo”, bem como “um antigo terrorista sem escolaridade, simpatizante comunista e agitador das massas”.
Convenhamos que é uma linguagem inapropriada para a esmagadora maioria, ou até totalidade, dos líderes africanos.
Aliás, importa também recordar que Margaret Thatcher, que em Maio de 1979 se tornou a primeira mulher a dirigir um governo britânico, proibiu nesse ano o seu enviado especial à então Rodésia de se encontrar com Robert Mugabe, argumentando que "não se discute com terroristas antes de serem primeiros-ministros".
A maioria dos processos-crime que Zuma abriu contra jornais locais e contra o cartoonista Zapiro – que criou uma personagem que retrata um Jacob Zuma com um chuveiro no topo da cabeça depois do actual presidente da África do Sul ter declarado durante o seu julgamento que um duche após actos sexuais elimina o risco de transmissão do HIV – continua a correr nos tribunais sul-africanos.
O artigo que teria originado a contratação de uma equipa de advogados especializada em processos por difamação no Reino Unido, refere-se a Zuma como “mais um político africano para quem o poder tem a ver com enriquecimento pessoal em vez de boa governação”, comparando as franjas extremistas do ANC que o apoiam como “hordas de rufias semelhantes aos que protegem Robert Mugabe”.
E ainda dizem que os jornalistas portugueses (os poucos que existem) são demasiado duros com alguns ditadores da lusofonia...
"Não. Por favor, não se reúna com os dirigentes da 'Frente Patriótica'. Nunca falei com terroristas antes deles se tornarem primeiros-ministros", escreveu - e sublinhou várias vezes - Margaret Thatcher numa carta do Foreign Office de 25 de Maio de 1979 em que o então ministro dos Negócios Estrangeiros, Lord Peter Carrington, sugeria um tal encontro.
Assim sendo, Zuma parece ter tido bons mestres britânicos...
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