Os palestinianos, tal como os israelitas, voltam a estar na ribalta. Oito cidadãos turcos e um norte-americano de origem turca foram identificados como as nove vírimas mortais do ataque israelita à flotilha dita humanitária que se dirigia à Faixa de Gaza.
As nove vítimas estavam a bordo do navio turco Mavi Marmara, embarcação líder da frota dita humanitária, em que ocorreram os confrontos mais violentos durante o ataque israelita, na segunda-feira.
Israel informou que os passageiros da embarcação atacaram os soldados, mas os organizadores da frota afirmaram que os militares dispararam primeiro e perguntaram depois.
A flotilha, que foi atacada em águas internacionais por Israel, tinha (diz-se) como missão levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza.
Em África milhares de crianças, mulheres e homens inocentes continuam a ser mortos, deslocados e feridos. Mas o que é isso, em termos mediáticos, comparado com os nove activistas mortos quando, dizem, estavam em singela missão humanitária para ajudar os palestinianos na Faixa de Gaza?
A epidemia de cólera no Zimbabué fez e faz milhares de mortos. Em Angola muita, mesmo muita, gente continua a ser gerada com fome, nasce com fome e morre pouco depois de fome.
Mas o que é que isso agora importa? As atenções mundiais estão concentradas noutros palcos.
Sapatos contra Bush, casamentos gay em Portugal, ataques aos amigos dos palestinianos, colisão entre o Paquistão e a Índia ou, dentro de dias, o campeonato do mundo de futebol, na África do Sul, fazem com que África real “desapareça” do mapa.
É claro que os africanos podem desaparecer, mas as riquezas naturais continuam lá à disposição dos donos do mundo. É a civilização ocidental no seu melhor.
É certo que a situação na República Democrática do Congo, por exemplo, continua a ferro e fogo, tal como continua perigosamente instável a vida na Guiné-Conacri, na Somália, no Sudão...
Mas o que são os eventuais 60.000 potenciais casos de cólera no Zimbabué comparados com os nove activistas agora mortos por Israel?
E o que são os milhões de pessoas que em toda a África morrem de fome, de doença ou pelos efeitos da guerra, comparados com os festejos dos gays e lésbicas portugueses que até tiveram direito a uma homenagem do primeiro-ministro, José Sócrates?
É claro que o importante é mostrar ao mundo que, por exemplo, a aviação israelita torna em escombros grande quantidade de prédios em Gaza. Reconheço que tal não acontece em África. Em zonas onde há milhões de pessoas que vivem em cubatas é difícil, calculo eu, ter imagens de prédios destruídos.
Além disso, o que interessa não são os africanos mas, antes , o petróleo e outros produto vitais para o Ocidente. E se até Sarah Palin não tinha a noção do que era essa coisa chamada África, é bem natural que as ruas das principais cidades mundiais se encham de cidadãos de primeira preocupados com outros cidadãos quase de primeira, os palestinianos, e não com essa espécie menor a que chamam negros.
E assim se faz a história onde as prioridades, entre outras justificações, são feitas pela cor da pele. Racismo? Não. Nem pensar. Apenas uma realidade indesmentível: uns são negros, outros não!
Sem comentários:
Enviar um comentário