O líder da Federação do Partido Socialista do Porto, Renato Sampaio, apresentou hoje “Oposição a Norte”, livro que reúne crónicas dos últimos dez anos e que é “uma homenagem à região”, considerando que “falta coragem” às pessoas para escreverem o que pensam.
Essa de um socialista dizer que “falta coragem” às pessoas para escreverem o que pensam... não lembraria ao Diabo. Mas, é claro, lembrou a um dirigente socialista que sabe bem que, com o actual PS no Governo, dizer o que se pensa (quando isso não coincide com as ideias do dono do partido) é mais de meio caminho andado, entre outras consequências, para o desemprego.
“Às vezes falta alguma coragem às pessoas para escreverem, porque assim nunca são confrontadas com essas opiniões. É muito fácil, muitas vezes, omitir, ignorar, mas eu não tenho esse tipo de problemas. Acho que nós devemos dizer o que pensamos a cada momento, mesmo que muitas vezes nós próprios evoluamos num sentido ligeiramente diferente”, afirmou.
Que bonito! Falso, mas bonito. Renato Sampaio sabe que os actuais líderes do seu partido preferem ser assassinados pelo elogio do que salvos pela crítica. Sabe que entre um génio e um néscio com o cartão do partido, o PS escolhe o néscio. Sabe que todos os que ao longo dos anos, nomedamente na comunicação social portuguesa, escreverem coisas como estas porque assim pensavam... fazem hoje parte dos 700 mil desempregados que o país tem.
É por isso que para mim é confrangedor o culto ao chefe por parte dos socialistas. Eu sei que já há muitos a dar sinais de que a todo o momento (basta o chefe deixar de o ser) podem mudar de barricada. Mas, mesmo assim, tenho alguma dificuldade em entender como é que socialistas inteligentes continuam de cócoras e, parafraseando Renato Sampaio, tem “falta coragem para escreverem o que pensam”.
Também me custa a aceitar (cada vez menos, é verdade) que Portugal seja uma espécie de país onde os que dizem sempre que sim são bestiais e, é claro, onde os que só dizem que sim quando devem dizer que sim, são umas bestas.
Não é assim? Basta esperar que Sócrates deixe o poleiro para se ver que, afinal, havia muitos socialistas que até achavam que o primeiro-ministro tinha, no mínimo, conhecimento de um plano para controlar órgãos de comunicação social.
Embora seja uma prática corrente nas ocidentais praias lusitanas, alguém com alguma sanidade mental duvida que os governos de José Sócrates foram os que mais trabalharam para que os jornalistas fossem formatados, com ou sem chip, consoante os interesses (económicos, políticos e similares) dos donos do Poder?
Recordam-se, por acaso, de quem disse que "Sócrates reduz a política à sua pessoa"? Não. A frase não é minha, embora reflicta a minha opinião. Aliás, de há muito que aqui digo (aqui e onde posso, sendo que não posso em todos os sítios que gostaria) que o primeiro-ministro de Portugal tem todas as características de um ditador. Só quando chegou ao poder a enfermidade foi conhecida, mas a cada dia que passa tende a agravar-se.
Num artigo de opinião do jornal Público há para aí três anos, intitulado "Contra o medo", Manuel Alegre criticava "a confusão entre lealdade e subserviência" que, segundo o socialista, se verificam no Governo de José Sócrates. Recordam-se?
"Há um clima propício a comportamentos com raízes profundas na nossa História, desde os esbirros do Santo Ofício até aos bufos da PIDE", escreveu Manuel Alegre, acusando o Partido Socialista de "auto-amordaçar-se".
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