«O elevador não funciona, pelo menos, há um ano e meio, na escadaria amontoam-se vestígios do consumo de droga e na passagem para a Sé é possível ver dejectos em cada recanto. Na Lada, Zona Histórica do Porto (Portugal), a degradação chega a assustar os turistas.
Os despojos da toxicodependência estão ali, paredes meias com um infantário. Já há anos a droga tinha feito com que a Câmara do Porto fechasse, no topo da Lada, a passagem para a Sé. Na altura, o corredor interior era já usado como refúgio de toxicodependentes. Pelos vistos, pouco ou nada mudou. A porta está com sinais claros de arrombamento. Há pratas queimadas e dejectos em vários recantos. "Só alguns turistas sobem até lá em cima, mas descem num instante, completamente desiludidos", esclareceu um morador daquela zona.
É dia da semana e o taxista reclama que ficar parado na Ribeira do Porto, "àquela hora da manhã é desperdício de tempo". Ainda assim, os turistas, de meias grossas e sandálias nos pés, fazem fila no cais de embarque para tomarem o gosto à nortada, enquanto passeiam num barco rabelo. Parecem formigas, frenéticos nos movimentos, a rodar o mapa turístico à feição do olhar.
Entre o colorido edificado, que contribuiu para que o Centro Histórico do Porto ganhasse, em 1996, o título de Património Mundial da Unesco, há um mundo que escapa ao primeiro olhar dos turistas. Poucos são aqueles que, apalpando terreno, deambulando entre artesanato de lenços coloridos e cestaria rústica, descobrem um outro lado da cidade escondido por trás dos arcos da Ribeira.
Passamos a fronteira. Ninguém nos segue os passos. A Ribeira, noctívaga, ainda não acordou. Caminhamos por "por pedras sujas e gastas e lampiões tristes e sós", como canta Rui Veloso.
O elevador da Lada (ascensor da Ribeira, de nome próprio) está fechado a cadeado. Por causa do gradeamento, ninguém acede aos dois bancos que estão no patamar.
A população há muito que se habituou a vê-lo assim. "Está fechado há ano e meio. Esteve durante muito tempo avariado, e agora não abre. Está assim...", explica, em tom resignado, um comerciante.
Sentado numa cadeira de plástico, com boné enterrado na cabeça a tapar o sol, um morador "perdeu a conta" aos anos em que o elevador está sem funcionar. "Em termos práticos , isto não serve para nada", reclama. Mas já serviu. Facilitava a vida a quem ainda resiste na encosta da Lada e, em particular, às crianças que frequentam o ATL do Barredo, situado num local íngreme de difícil acesso.
Já em 2003, o elevador esteve parado dois meses devido a avaria. Nessa altura, o ascensor não foi arranjado porque a Câmara alegava falta de fundos. O JN tentou perceber, junto do gabinete de comunicação da Autarquia, se o motivo para a actual paragem é o mesmo. Não obteve resposta.
Sem elevador, a solução é percorrer 60 metros, subindo corajosamente uma escadaria de 136 degraus, por onde se espalham vestígios de toxicodependência. »
Texto de Marta Neves publicado no Jornal de Notícias
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