O líder do MPLA (partido que governa Angola desde 1975), presidente da República de Angola e chefe do Governo, José Eduardo dos Santos, apontou no dia 7 de Dezembro do ano passado como caminho para o seu partido "não pactuar com a corrupção e com a apropriação de meios do erário público ou do partido".
Os meses vão passando (e depois virão os anos) e tudo continua na mesma, e até os mais optimistas e ingénuos começam a pensar que nem as moscas mudaram. E se os mais cépticos perguntam o que é que andaram a fazer durante 35 anos, os mais realistas continuam a fazer contas com o dinheiro que passa por baixo da mesa.
Recordo que nesse dia, numa intervenção sistematicamente interrompida pelos aplausos dos mais de 3.000 delegados ao VI Congresso, num visível e marxista culto da personalidade do chefe, José Eduardo dos Santos deixou um lote recheado de recados para o MPLA e para o país.
Recorde-se, contudo, que o chefe do partido para o qual manda recados é ele próprio há dezenas de anos, tal como o é do país. Mais uma vez, a política é a de sempre: olhai para o que eu digo e não para o que eu (e os meus amigos) faço.
Tiveram, aliás, bons mestres. E se tiverem dúvidas, não quanto à corrupção mas à forma de a camuflar, basta pedirem umas lições a Portugal.
"Hoje é voz corrente equiparar a pessoa investida em funções políticas a um homem sem palavra, desonesto e sem escrúpulos. É necessidade absoluta assumir atitudes positivas que desfaçam essa imagem pálida e inconveniente de forma a dar credibilidade, valorizar e repor a nobreza da função dos dirigentes políticos".
Não, não foi José Sócrates, Passos Coelho, Paulo Portas, Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa ou até Cavaco Silva quem fez esta afirmação, embora ela retrate o que se passa no reino lusitano.
Quem o disse foi o soba de um outro reino, no caso Eduardo dos Santos.
José Eduardo dos Santos sublinha que o partido "tem dito isto por outras palavras" e adverte que "as nossas palavras e promessas devem corresponder aos actos que praticamos".
Uma treta semelhante ao que se passa em Portugal. Treta para enganar os cerca de 70% de angolanos que vivem na pobreza, 35 anos depois da independência e oito após a paz ter regressado ao país, tal como em Portugal é usada para enganar os 700 mil desempregados, os 20% que vivem (isto é...) na miséria e os outros 20% que a têm à porta de casa.
Eduardo dos Santos, tal como José Sócrates, pede o "fim da intriga, dos boatos e a manipulação de factos na comunicação social para prejudicar os outros".
Bem me parecia que em Angola, como em Portugal, a comunicação social é a fonte de todos os males. Foi ela, a comunicação social independente, que forçou o MPLA a reconhecer a corrupção e outras grandes enfermidades, e é exactamente por isso que é a culpada de tudo.
"Devemos aperfeiçoar o modo de encarar a política, um modo pró-activo e rigoroso de mostrar o nosso empenho e dedicação que sirva para mobilizar milhões para a nossa causa", diz Eduardo dos Santos, certamente depois de ter tido num só dia o que milhões de angolanos não têm durante muitos dias: refeições.
O presidente da República e do MPLA disse também que "em cada 100 angolanos, 60 são muito pobres, não conseguem comer normalmente todos os dias, não têm acesso fácil a água potável, acesso aos cuidados de saúde nem casa normal para se abrigar".
É preciso ter lata. O MPLA está no poder há 35 anos, Angola está em paz há oito anos, e mesmo assim o dono do país não assume que é ele o principal, em muitos casos o único, responsável por este descalabro?
O "desemprego, o analfabetismo e a pobreza são três problemas muito graves e difíceis de resolver, que atingem especialmente as mulheres, as famílias e as crianças", disse Eduardo dos Santos (o mesmo poderia, aliá, ser dito pelo seu amigo José Sócrates) em mais uma manifesta enciclopédia de hipocrisia que, contudo, foi aplaudida pelos súbditos de sua majestade.
Certamente anestesiado pelas ovações dos seus vassalos, José Eduardo dos Santos disse também que o MPLA pugna desde 1975 “pela defesa das liberdades direitos e garantias dos cidadãos, e considera o direito à associação como fundamental". Foi mais um atestado de menoridade passado aos angolanos. Mas como foi dito pelo chefe... foi aplaudido.
Para os problemas que persistem no país, como a pobreza, José Eduardo dos Santos, retomou a evocação da "pesada herança do colonialismo" que foi "agravada pelo período de guerra que o país viveu" até 2002.
Nisto tem razão. Se 36 anos depois da conquista da democracia os portugueses continuam também a desculpar-se com a pesada herança do salazarismo, é legítimo que o MPLA acuse o colonialismo, um bode expiatório que aguenta ainda ser utlizado aí por mais uns trinta anos.
1 comentário:
Hipersensibilidade natural provocada por certas pessoas, ou reacção alérgica natural, orgânica ....
Sempre que vejo a fronha deste (inginheiro das obras feitas), tenho disenteria...
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