“Não te tratam mal. Eu vou-te cá mandar um jornalista da televisão para te fazer uma entrevista e tu dás essa entrevista na véspera da viagem e metes os portugueses no coração. E assim foi, fez uma entrevista belíssima. Quando cá chegou não houve nem uma manifestação de protesto”, conta o socialista Almeida Santos.
Este episódio refere-se à visita a Portugal de Samora Machel, líder da FRELIMO, partido que – tal como o MPLA em Angola – comanda os destinos do país desde a independência, há 35 anos.
“Eu vou-te cá mandar um jornalista”. A frase, verdadeira, mostra como os socialistas sempre gostaram de mandar na comunicação social. Desde 1974 que, com um outro pequeno e irrevante interregno, o PS sempre foi dono e senhor dos donos dos jornalistas e dos donos dos donos dos jornalistas.
José Sócrates, por exemplo, limita-se a seguir as lições dos seus anteriores mestres. Por alguma razão, no passado dia 18, na Guarda, o primeiro-ministro considerou que António de Almeida Santos é “um dos príncipes da democracia”, enaltecendo “as suas qualidades políticas”.
“Digo com emoção que nunca conheci um político com tão bom coração, tão bom companheiro, tão bom amigo, como Almeida Santos”, afirmou José Sócrates.
São, aliás, qualidades que até eu reconheço. Começando, desde logo, no Acordo de Alvor, que permitiu a (in)dependência de Angola e a anexação por esta de Cabinda, e que é – segundo disse o próprio Almeida Santos, um dos signatários - apenas "um pedaço de papel" que "não valeu nada".
Este político socialista, presidente do PS e flutuador nato da política portuguesa, “um dos príncipes da democracia” segundo Sócrates, que defende ideais de Esquerda mas prefere viver à Direita, tem razão. O Acordo de Alvor só valeria se o MPLA não ficasse no Poder. Como ficou...
Desde os tempos em que, entre outros, Melo Antunes, Rosa Coutinho, Costa Gomes, Mário Soares e Almeida Santos decidiram gozar com a chipala dos portugueses e dos angolanos quando assinaram o Acordo de Alvor, que acho que o actual presidente do PS (também) nunca tem dúvidas e raramente se engana.
Recordo, por exemplo, que Almeida Santos, afirmou no dia 17 de Fevereiro, com toda a convicção típica de quem há muito é impoluto dono da verdade nas ocidentais praias lusitanas, que o primeiro-ministro nada tem a explicar, entre outros casos, sobre a tentativa de compra da Media Capital pela PT e considerou que este caso "acabará em nada", como outros que envolveram Sócrates.
Ora aí está. Se Almeida Santos disse que mandava a Moçambique um jornalistas fazer propaganda a Samora Machel e cumpriu, e agora diz que todos os processos contra aquele que o considera “um dos príncipes da democracia” acabarão em nada, é isso mesmo que vai acontecer.
"O primeiro-ministro dá as explicações que ele próprio entende que deve dar. Neste caso, penso que não precisa, porque não foi acusado de nada que precise de ser explicado", sustentou o presidente do PS.
É isso aí. Desde quando é que quem está acima da lei tem de dar explicações? Sim, desde quando? Onde é que os portugueses julgam que estão? No Burkina Faso?
Tal como no tempo de Almeida Santos e companhia, José Sócrates, enquanto primeiro-ministro, chegou tão cedo ao sector da comunicação social que conseguiu, sem grande esforço e em muitos casos apenas por um prato de lentilhas, fazer com que os seus mercenários, chefes de posto ou sipaios, titulares, ou não, de Carteira Profissional de Jornalista, fizessem da imprensa o tapete do poder.
Mercenários, chefes de posto ou sipaios que – exactamente por isso – nunca se importaram de às segundas, quartas e sextas ser do PS; às terças, quintas e sábados do PSD e ao domingo de outra coisa qualquer.
José Sócrates, enquanto primeiro-ministro, chegou tão cedo – tal como no seu tempo fez “um dos príncipes da democracia” - que conseguiu, sem grande esforço e em muitos casos apenas por um prato de lentilhas, transformar jornalistas em criados de luxo do poder vigente.
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