sexta-feira, junho 18, 2010

Morreu o “pai” da Ibéria...

Hoje, sexta-feira, 18 de Junho, José Saramago faleceu às 12.30 horas na sua residência de Lanzarote, aos 87 anos de idade, em consequência de uma múltipla falha orgânica, após uma prolongada doença. O escritor morreu estando acompanhado pela sua família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila.

Não sei se alguém se recorda, a memória lusa é cada vez mais uma vaga ideia, mas no dia 15 de Julho de 2007, José Saramago resolveu, em entrevista ao “Diário de Notícias” (jornal do qual foi director em 1975) dizer que Portugal, "com dez milhões de habitantes", teria "tudo a ganhar em desenvolvimento" se houvesse uma "integração territorial, administrativa e estrutural" com Espanha.

A bondade da ideia colheu, ao que parece, a simpatia nacional – sobretudo a que vagueia nos areópagos da macro-política lisboeta, a ponto de a Casa dos Bicos ficar então à disposição do pai da Ibéria.

Quem não terá gostado muito da ideia, embora só o tenha manifestado a 4 de Setembro de 2007, foi o presidente da República que considerou as opiniões de Saramago "um absurdo".

Recorde-se que o prémio Nobel da Literatura em 1998 previu que Portugal vai acabar por tornar-se uma província de Espanha e integrar um país que se chamaria Ibéria para não ofender "os brios" dos portugueses. Se calhar Saramago até tem razão.

O escritor, que reside na ilha espanhola de Lanzarote, considerava que Portugal, "com dez milhões de habitantes", teria "tudo a ganhar em desenvolvimento" se houvesse uma "integração territorial, administrativa e estrutural" com Espanha.

Se for, na minha opinião, tão bom futurólogo como é escritor, todos podem estar descansados. Os portugueses continuarão a ser os mais europeus do norte de África e os mais africanos do sul da Europa.

Portugal tornar-se-ia assim, sugeria o Nobel português, mais uma província de Espanha: "Já temos a Andaluzia, a Catalunha, o País Basco, a Galiza, Castilla La Mancha e tínhamos Portugal".

"Provavelmente [Espanha] teria de mudar de nome e passar a chamar-se Ibéria. Se Espanha ofende os nossos brios, era uma questão a negociar", disse o escritor, membro do Partido Comunista Português desde 1986.

Então questionado sobre a possível reacção dos portugueses a esta proposta, Saramago disse acreditar que aceitariam a integração, desde que fosse explicada: "não é uma cedência nem acabar com um país, continuaria de outra maneira. (...) Não se deixaria de falar, de pensar e sentir em português".

Com o mérito (reconheça-se) de vender que se farta os seus livros, a que alguns chamam de literatura, Saramago é (foi) livre (mesmo pertencendo ao PC) de dizer o que bem entendia. Aliás, entre um génio e um eunuco mental a quem foi dado um Nobel… todos sabemos a quem a Imprensa dá destaque.

Na visão do escritor, Portugal não passaria a ser governado por Espanha, passaria a haver representantes de ambos os países num mesmo parlamento e, tal como acontece com as autonomias espanholas, Portugal teria também o seu próprio parlamento.

Numa entrevista de quatro páginas ao DN, Saramago falou também da sua fundação, que deverá "intervir social e culturalmente, preocupar-se com o meio ambiente e outras questões", também na província espanhola de Portugal.

Reagindo à morte de Saramago, o secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua(?) Portuguesa (CPLP), Domingos Simões Pereira, convidou todos os falantes de português (respeitando ou não o Acordo Ortográfico) a dedicar um “pensamento de respeito e admiração” pelo Nobel de Literatura.

Por saber está se o futuro membro de pleno direito da CPLP, a Guiné Equatorial, também vai ter esse “pensamento de respeito e admiração”.


Registe-e ainda que Saramago morreu no dia em que a Assembleia da República de Portugal aprovou um voto de pesar pela morte do almirante vermelho, Rosa Coutinho, com PSD e CDS-PP a rejeitarem o documento, contestando a sua dimensão política e criticando o papel do militar no processo de descolonização.

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