Ao contrário do actual presidente da República portuguesa, Cavaco Silva, e do outro candidato ao cargo, Manuel Alegre, o presidente da AMI (Assistência Médica Internacional), Fernando Nobre, sabe o que é Cabinda, conhece os acordos assinados por Portugal. Apesar disso dá o dito por não dito.
Fernando Nobre afirmou hoje que gostaria de ver garantido o respeito pelos direitos humanos de todos os angolanos, independentemente do que acontecer em Cabinda.
“Desejo sinceramente que em todo o território de Angola, como em todos os países, inclusive o nosso, a Amnistia Internacional não tenha que fazer críticas ao comportamento que é, por vezes, aplicado a opositores do regime, porque é isso que define um regime democrático”, disse o candidato à Presidência da República.
“Desejo também que não se avance para o combate armado [em Cabinda), porque a partir do momento em que há conflitos armados as regras mudam de figura”, acrescentou Fernando Nobre nas comemorações do primeiro aniversário da Associação de Angolanos e Amigos de Angola, que decorreu hoje em Setúbal.
Natural de Angola e fundador da Associação Tratado de Simulambuco, que reconhecia Cabinda como um protectorado português, Fernando Nobre admite, no entanto, que aquele território é hoje parte integrante de Angola.
“É evidente que hoje não passa pela cabeça de ninguém que Angola não vá de Cabinda ao Cunene. Assim ficou definido no momento da independência”, disse.
Questionado pela agência Lusa sobre o diálogo que poderia manter com as autoridades angolanas sobre estas questões, caso fosse eleito Presidente da República, Fernando Nobre prometeu ser frontal em privado, mas comedido em público.
Os argumentos para a mudança de posição de Fernando Nobre sobre Cabinda são falaciosos e vergonhosos. Basta ver que a Associação Tratado de Simulambuco foi formada já depois da independência de Angola, em 2003, o que contraria a sua recente tese de que as fronteiras angolanas ficaram estabelecidas nessa altura, 11 de Novembro de 1975.
“Que o povo português nunca esqueça, apoiando-os, os povos irmãos angolano e cabinda com o qual partilha tantos laços de sangue e de História. Eles merecem.”
Quem é que disse isto? Quem é que escreveu “os povos irmãos angolano e cabinda“? Não, não foi Cavaco Silva. O presidente da República de Portugal, embora consciente de que está a aviltar a História e os factos do seu país, nunca faria a distinção entre angolanos e cabindas.
Todos devem “pugnar verdadeiramente pela tolerância e concórdia nacional (estou a pensar especificamente em Cabinda, atropelada pela História da descolonização e sempre sofredora)”.
Quem disse isto tudo, recentemente, foi Fernando Nobre. Disse-o quando, obviamente, era o que afinal deixou agora de ser: um Homem livre.
Ao contrário do que continuam a dizer os donos da verdade, paridos a partir de 1974 nas latrinas da ignorância e da ignominia, Cabinda e Angola foram, são e serão (queira ou não também Fernando Nobre) situações diferentes.
Assim, fazendo fé de que a História de Portugal não começou só a ser escrita a partir de 1974, a situação de Cabinda relativamente a Angola era, em 1974, idêntica à dos protectorados belgas do Ruanda e do Burundi em relação ao Congo Belga.
Isto significa que se tornaram independentes, separados do Congo ex-belga, depois de, em 1960, a grande colónia belga se ter tornado independente.
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