Portugal, como não poderia deixar de ser, não vê o que se passa mas amplia o que gostava que se passasse. Vai daí, sem meias medidas, fez hoje um balanço positivo da sua presidência da Comunidade dos Países de Língua (?) Portuguesa (CPLP).
Embora só termine Julho, o Governo de José Sócrates destaca o compromisso assumido por todos os Estados membros para a promoção internacional da língua portuguesa.
E o resultado foi, continua a ser, tão positivo que – para além do analfabetismo na Guiné-Bissau (mais de 50%) ou a falta de livros em Timor-Leste – a CPLP vai abrir as portas a uma ditadura onde se pode contar pelos dedos de uma mão apuntada, os que falam português. Falo da Guiné... Equatorial.
“No domínio da língua, foi muito importante o que conseguimos fazer ao longo dos últimos dois anos”, disse hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Luís Amado, referindo-se à importância que foi dada na primeira década de vida da CPLP à cooperação e à concertação político-diplomática em detrimento do terceiro princípio fundador da organização, a promoção da língua.
Pois é. Luís Amado, sem esquecer o seu inefável colaborador João Gomes Cravinho, podem dormir descansados e – como habitualmente – de barriga cheia. Podem até, pasme-se, sonhar em português.
É claro que na lusofonia existem muitos seres humanos que continuam a ser gerados com fome, nascem com fome e morrem, pouco depois, com fome. Mas, é claro, morrem em... português.
“A assumpção, de todos os países da CPLP, do português como uma língua com um peso específico nas organizações internacionais nas próximas décadas satisfaz-nos bastante”, acrescentou o ministro, salientando a importância dessa “dimensão multilateral” de apoio a “um programa ambicioso de expansão da língua portuguesa”.
Luís Amado tem razão. O importante é mesmo os famintos e miseráveis da lusofonia saberem dizer, em bom português, “não conseguimos viver sem comer”. Continuarão, como até aqui, sem comida, sem medicamentos, sem aulas, sem casas, mas as organizações internacionais vão perceber o que eles dizem.
Portugal transfere a presidência rotativa de dois anos da organização para Angola na próxima Cimeira da CPLP, marcada para 23 de Julho, em Luanda.
Transfere, presume-se com todo o brilhantismo e à volta de uma mesa farta, para um país cujo presidente não foi eleito e está no poder há 31 anos, para um regime que mantém forte presença militar e policial na sua colónia de Cabinda, que não respeita os direitos humanos e que é dos mais corruptos do mundo.
Mas o que é que isso importa? O importante é que Angola fala português, com ou sem acordo ortográfico, tem petróleo que nunca mais acaba (embora a partir de uma colónia) e, mais importante do que tudo, está em vias de resolver os problemas económicos de Portugal.
Problemas que acabarão quando a Oferta Pública de Aquisição, parcial ou total, lançada pelo regime do MPLA sobre Portugal se concretizar. E já faltou mais...
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