quarta-feira, junho 16, 2010

“É assim que eu quero e é assim que vai ser"

Afonso Camões, presidente da Lusa, não está com meias medidas. Falando na Comissão de Ética, Sociedade e Cultura do Parlamento português, a propósito do encerramento das delegações, foi taxativo ao afirmar: "Não fechámos, mas vamos fechar. É assim que eu quero e é assim que vai ser".

É por estas e por outras que, no reino lusitano, a liberdade de imprensa está em vias de extinção. Se os donos dos meios de comunicação, se os donos dos donos, assim querem “é assim que vai ser”.

Para além da minha débil experiência profissional (só ando nisto há 36 anos), faço contas aos jornalistas desempregados, aos que mudaram de profissão, aos que estando no activo estão na prateleira, aos que tendo emprego estão desempregados, aos que adoptaram uma coluna vertebral amovível, aos que se filiaram no partido para garantir o emprego, aos que em vez de erectos andam de cócoras, aos que por um prato de lentilhas dizem ámen a tudo.

"Se há coisa que não falta em Portugal é liberdade de expressão," garantiu João Marcelino, director do Diário de Notícias, na Comissão de Ética, Sociedade e Cultura na Assembleia da República.

E como em qualquer democracia, em qualquer Estado de Direito, o presidente de uma empresa pública pode sempre dizer “é assim que eu quero e é assim que vai ser".

Aliás, não é exactamente isso que diz o primeiro-ministro do Burkina Faso, perdão, de Portugal? É isso, sem tirar nem pôr. Quanto um país tem o raro privilégio de ter cidadãos (obviamente socialistas) que são donos da verdade, a única solução é comer e calar. É assim que eles querem, é assim que foi e é assim que será.

No Jornalismo, se um jornalista – aprendia-se – não procura saber o que se passa, é um imbecil. Se sabe o que se passa e se cala, é um criminoso. Sempre existiram, é verdade, imbecis e criminosos. Mas nunca, como agora, ser imbecil e criminoso é condição sine qua non para ser “jornalista” mas, sobretudo, para ser director e até administrador. Isto já para não falar em ser deputado ou membro do Governo.

Creio, aliá, que a regra socialista é mesmo “é assim que eu quero e é assim que vai ser". Sempre, é bom de ver, abem da Nação.

Por alguma razão, quando em 2004 chegou à liderança do PS, José Sócrates jurou a pés juntos que a liberdade de imprensa era para si sagrada... Chegou depois à liderança do Governo e instituíu que “é assim que eu quero e é assim que vai ser". E não lhe faltam seguidores.

Segundo a organização internacional não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que claramente nada percebe da poda, a liberdade de imprensa em Portugal diminuiu, registando uma queda do 16º para o 30º lugar na lista dos países que mais respeitam o trabalho dos jornalistas.

Por outras palavras, o poder quer que os jornalistas perguntem não o que o Estado/país/bordel pode fazer por eles, mas sim o que eles podem fazer pelo bordel/país/Estado.

E o que melhor podem fazer é aceitar que para serem um dia directores ou administradores de um jornal têm de ser criados do poder.

“E não há dúvida nenhuma de que, aconteça o que acontecer, a imprensa, uma imprensa livre, continuará a ser um dos grandes pilares da democracia”, disse recentemente María Teresa Fernández de la Vega na abertura do Congresso Mundial de Jornalistas “La Pepa 2012”, que decorreu em Cádis, Espanha.


Se uma imprensa livre é um dos grandes pilares da democracia, a dita está, no reino lusitano de Sua Excelência José Sócrates, coxa. Muito coxa. Até porque não baste dizer que existe democracoa porque “é assim que eu quero e é assim que vai ser".

Quando o deputado roubou os gravadores aos jornalistas, no caso Ricardo Rodrigues, do Partido Socialista, vice-presidente do Grupo Parlamentar e membro do Conselho Superior de Segurança Interna de Portugal, disse que apenas “tomou posse” dos gravadores.

Não teria sido mais fácil dizer: “Era assim que eu queria, foi assim que aconteceu?”

A ser verdade, mesmo não dizendo “é assim que eu quero e é assim que vai ser", que uma imprensa livre é um dos grandes pilares da democracia, que regime é esta em que Portugal vive?

Em Portugal, José Sócrates chegou tão cedo que deu carácter não só legal como nobre ao facto de o servilismo ser regra para bons empregos, garantindo que esses servos vão estar depois a assessorar partidos, empresas ou políticos. Sempre, é claro, levando em conta que uma imprensa livre é um dos grandes pilares da democracia.

E quando alguém contesta, ele limita-se a dizer, com todo o espírito democrático: “É assim que eu quero e é assim que vai ser".

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