A comunidade internacional é a principal responsável pelo que se passa na Costa do Marfim, entre muitos outros exemplos. Esqueceu-se de dizer que, para além de haver (uma espécie de) eleições, quando as há, quem perde tem de sair.
Laurent Gbagbo lá pôs o povo a votar, mas como não explicaram tudo, ele esqueceu-se (como fez em Angola o seu grande amigo José Eduardo dos Santos) de pôr os mortos a votar. Vai daí, perdeu. Perdeu mas não sai.
Um dos últimos episódios diz que Laurent Gbagbo ordenou a "requisição" das agências no país do Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO), ao que o presidente eleito, Alassane Ouattara, respondeu ordenando o seu "encerramento".
O pessoal das agências do BCEAO foi requisitado para "assegurar os serviços ordinários" dos estabelecimentos, lê-se num decreto presidencial assinado por Gbagbo, que se autoproclamou presidente.
Acrescente-se que Laurent Gbagbo não só se autoproclamou presidente como recebeu o apoio, sobretudo militar, dos seus amigos mais democratas, casos de Eduardo dos Santos e Robert Mugabe.
Alassane Ouattara, o presidente que é reconhecido pela comunidade internacional mas que se arrisca a ser presidente de coisa nenhuma, reagiu a esta medida qualificando-a de "ilegítima, ilegal e, como tal, sem efeito" e anunciou "o encerramento" das agências do banco regional no país a partir de hoje, segundo um comunicado igualmente... presidencial.
E, para que não restem dúvidas, hoje de manhã forças fiéis a Gbagbo guardavam a sede do BCEAO em Abidjan, referindo alguns jornalista no local que entre os militares que apoiam o ex-actual presidente alguns falavam português.
O decreto de Laurent Gbagbo foi conhecido depois de, no sábado, Philippe-Henry Dacoury-Tabley, governador costa-marfinense do BCEAO, considerado um próximo do presidente cessante, ter sido forçado a demitir-se. O governador foi acusado de ter desrespeitado as ordens da União Económica e Monetária da África Ocidental, que considera Ouattara o presidente legítimo, e ter autorizado o levantamento de cerca de 90 milhões de euros para o regime de Gbagbo.
O BCEAO, sedeado em Dacar, reúne as finanças de oito países da África Ocidental: Benim, Burkina Faso, Costa do Marfim, Guiné-Bissau, Mali, Níger, Senegal e Togo. Além de emitir moeda, o banco reúne as reservas de divisas dos oito países.
Laurent Gbagbo e Alassane Ouattara reclamam ambos a vitória na segunda volta das presidenciais, realizada a 28 de Novembro. Ouattara foi reconhecido pela ONU e pela quase totalidade da comunidade internacional como presidente legítimo, mas Gbagbo recusa abandonar o poder.
O acesso de Gbagbo aos fundos estatais foi revogado em Dezembro, mas Ouattara afirma que Gbagbo tem conseguido aceder aos fundos no banco central, o que lhe permite continuar a pagar às forças policiais e militares, seu principal apoio para se manter no poder.
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