segunda-feira, janeiro 17, 2011

"O pior do desemprego já passou". Porreiro, pá! Dizem, de barriga vazia, os portugueses!

O Secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional de Portugal, Valter Lemos, admitiu hoje à Lusa que a taxa de desemprego em 2010 deverá ultrapassar os 10,6 por cento previstos pelo Governo.

Apesar disso, ou talvez por causa disso, Valter Lemos disse hoje que "o pior do desemprego já passou", destacando a redução do número de desempregados em Portugal em Dezembro, face ao mês anterior.

Valter Lemos disse que os dados revelados hoje pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) "parecem indicar que o pior do desemprego já passou", referindo que a situação deverá melhorar nos próximos meses.

As declarações do secretário de Estado do Emprego surgem depois de o IEFP ter revelado que o número de desempregados em Portugal recuou 0,9 por cento em Dezembro face a Novembro, apesar de ter aumentado 3,3 por cento em termos homólogos.

Ou seja? Os portugueses continuam lixados e mal pagos. Mas é verdade que o primeiro-ministro das ocidentais praias lusitanas a norte (embora cada vez mais a sul) de Marrocos, José Sócrates, sempre que fala ou quer dançar o tango, garante que o Governo usará todos os recursos ao seu alcance para auxiliar empresas, trabalhadores e famílias.

E sempre que o diz todos dormem mais descansados. De barriga vazia... mas descansados.

Se José Sócrates o diz é porque assim vai ser. Não sei se tal se conseguirá através de menos despedimentos, se por meio de mais um cobertor para os sem-abrigo ou, quiçá, através da oferta de uma ficha de filiação no PS.

Recordam-se da mensagem de Natal de 2008, que se fosse levada a sério teria dado à RTP um estrondoso pico de audiências, em que José Sócrates teve uma conversa em família ao estilo de Marcelo (Caetano)?

O primeiro-ministro sublinhou então que o ano de 2009 ia ser "difícil e exigente para todos" (isto é como quem diz... sempre para os mesmos), razão pela qual o dever do seu Governo era "não ficar à espera que os problemas se resolvam por si próprios". Foi então que resolveu aumentá-los.

"Pela minha parte, e pela parte do Governo, quero garantir-vos que não temos outra orientação que não seja defender o interesse nacional neste momento particularmente difícil. E defender o interesse nacional é usar todos os recursos ao nosso alcance, com rigor, sentido de responsabilidade e iniciativa, para ajudar as famílias, os trabalhadores e as empresas a superarem as dificuldades, e para incentivar o investimento económico que gera riqueza e emprego", disse então José Sócrates.

Digam lá que o homem não fala bem? É claro que não sabe o que diz e nem diz o que sabe. Se assim não fosse diria, desde logo, que o Governo iria responsabilizar, por exemplo, os empresários que, devido à suposta generalização da crise, contratam directores para descobrirem a melhor forma de porem as suas empresas também em crise.

Além da garantia de acção perante a crise, usando para tal todos os meios possíveis ao alcance do Estado, José Sócrates pretendeu também deixar uma mensagem de "esperança" em relação ao futuro e de "confiança" face aos próximos desafios resultantes da "grave crise económica e financeira" mundial.

Foi no Natal de 2008. Uma mão cheia de nada. Muitos portugueses estavam nessa altura como estão hoje e estarão nos próximos anos. Isto é, estão como o tolo no meio da ponte. Não sabem para que lado devem ir. E é nessa altura que descobrem que afinal nem ponte existe.

Sócrates frisou que "os portugueses podem contar com a determinação do Governo" no presente "momento difícil da Europa e do mundo". Podem contar para quê? Para andarem no TGV? Para voarem para o novo aeroporto da capital? Ou para terem forma de pagar a casa e ao merceeiro?

"Determinação no apoio à economia. Determinação, também, na defesa e na promoção do emprego. Mas, determinação, sobretudo, na protecção das famílias, especialmente às famílias de menores rendimentos, protegendo-as das dificuldades que sentem e ajudando-as nas suas despesas principais", acrescentou Sócrates. Recordam-se?

E depois das palavras, Sócrates volta a olhar para o lado e a assobiar, dizendo que são as regras de uma economia de mercado.

"Foi por isso que criámos as condições para que baixassem os juros com a habitação, generalizámos o complemento solidário para idosos, protegemos as poupanças, aumentámos o salário mínimo e actualizámos os salários da função pública acima da inflação", disse, ainda e nessa altura Sócrates em referência a medidas tomadas pelo Governo.

Disse e é verdade. Mas o cerne da questão não está na justeza (embora por cumprir) de apoiar quem mais precisa. Está no facto de permitir que poucos tenham milhões à custa de milhões que pouco ou nada têm. De milhões que cada vez têm menos.

"O país precisa de atitude, de empenhamento e de determinação", salientou José Sócrates. Será que ninguém diz ao primeiro-ministro que nada disso é possível num país onde o primado da competência foi substituído pelo da subserviência? Ninguém lhe diz que a bajulação vale muito, muito mais, do que o profissionalismo?

Ninguém lhe diz que o país valoriza quem não erra, esquecendo-se de verificar que os que não erram são os que nada fazem? Ninguém lhe diz que entre um competente e um néscio com uma boa cunha, ou cartão do partido, o país escolhe o néscio?

Seja como for, o presente é, ou parece ser, de todos aqueles que às segundas, quartas e sextas são do PS, às terças, quintas e sábados do PSD e ao domingo negoceiam com o CDS, com o BE e com o PCP.

Pelo meio deste circuito aparecem, sobretudo quando as eleições alteram algumas moscas, velhos sipaios de farda nova que acalentam a esperança de serem chefes de posto.

Tal como os chefes de posto, também com nova indumentária, querem algo mais pelos altos serviços prestados a bem da nação. Querem e conseguem, mesmo que no lugar da assinatura da filiação partidária tenham de pôr a impressão… digital.

Numa coisa, reconheço, José Sócrates tem razão. Agora não são exactamente os mesmos a pagar a crise. Ou seja, são os mesmos de sempre e mais uns milhares que até agora tinham escapado. Do outro lado, aí sim, continuam sempre os mesmos (banqueiros, administradores, gestores, directores, empresários, deputados, ex-ministros etc.).

E a vida tem destas coisas. Depois admirem-se que entre uma ditadura de barriga cheia e uma democracia com ela vazia, os portugueses não tenham dúvidas em escolher. E, note-se, já há muita gente que nem sabe se tem barriga...

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