Fernando Nobre, candidato às eleições presidenciais em Portugal, afirmou que a sua candidatura sai "ganhadora" das eleições de hoje, afirmando que obteve um "resultado histórico". É verdade, mas sabe a pouco.
Fernando Nobre, que falava a cerca de uma centena de apoiantes no hotel onde montou o seu quartel-general para acompanhar a noite eleitoral, destacou que mais de "500 mil votantes e cerca de 14 por cento dos votos" significou um "resultado histórico, tremendo".
"Se houve um ganhador foi a candidatura da cidadania", disse o candidato, salientando que "a cidadania está viva, recomenda-se e o futuro do nosso país vai ter que ter isso em conta".
Engana-se. O país dos mesmos para os mesmos não vai querer saber, e vai amordaçar quem queira saber, da cidadania e do que – tal como a abstenção e os votos brancos – isso quer significar.
Apostaram e bem, reconheça-se, na velha tese de que os portugueses são um povo de brancos costumes. E são mesmo. Apesar dos 700 mil desempregados, 20% de pobres e outros tantos com os pratos vazios, vão continuar a cantar e a rir... mesmo que com a barriga vazia.
Entretanto, o secretário-geral do PS, José Sócrates, considerou hoje que os portugueses optaram nas eleições presidenciais pela continuidade e pela estabilidade política em Portugal ao reelegerem Cavaco Silva.
Com amigos assim, Manuel Alegre não precisa de inimigos. Se. No dizer do sumo pontífice socialista, Cavaco Silva representa – para além da continuidade – a estabilidade política, o que representa Manuel Alegre?
Seja como for, a verdade é que os portugueses quiseram continuar a ser, como dizia Guerra Junqueiro, “um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas”.
Seja, por isso, feita a vontade da maioria... dos que votaram.
1 comentário:
Caro Orlando Castro, o que se viu ontem foi Portugal no seu melhor, um país de acomodados que gostam de apanhar, além dos que estão bem de vida e não precisam de mudar.
Mas será que haveriam possibilidades de mudar? Penso que não!
Tomemos dois ou três exemplos.
Por volta de 1958-1959 (posso estar errado quanto aos anos, mas foi por aí perto) certas de pessoas do MPLA (ou seus simpatizantes) contactaram, ou tentaram contactar Salazar, no sentido de se ir preparando com calma, via uma comunidade de estados lusófonos, a independência de Angola. Resultado, foram todos para a cadeia, pois a "cegueira do homem" não lhe permitia ver os ventos da história. Mas para ele e para muitos dos portugueses aquela obstinação era o único e correcto caminho. Deu no que deu!
Mas o que era o Salazar, além de um bom contabilista que colocou as contas de Portugal em ordem?
Um indivíduo que se doutorou na Universidade de Coimbra e que dois ou três anos depois já era Professor Catedrático. Que trabalho científico extenso e de qualidade é que o homem tinha feito, usando-se por exemplo como referências as universidades anglo-saxónicas, para justificar tal promoção meteórica ao topo da carreira?...
E hoje em dia, em alguns sectores das universidades portuguesas? Faça uma pesquisa e veja quantos artigos é que o Prof. Catedrático que agora está na berra publicou em revistas internacionais com avaliação por "peer review"? E quantas teses de doutoramento orientou para chegar igualmente ao topo? Por isso fazer exames por fax também não me parece nenhuma anomalia num país como Portugal, é o mesmo princípio a funcionar.
Não lhe parecem coincidências a mais? Mas olhando a veneração como certos "professores", nomeadamente nas áreas do direito e da economia, são tratados nos meios de comunicação portugueses, pode pensar-se que se está em presença de génios. Pelos vistos ignorados pelo resto do mundo, mas muito prezados na "tirinha" (era assim que os brasileiros chamavam a Portugal nos idos de 1822).
O Fernando Nobre pode ser muito considerado pelo que andou a fazer pelo mundo fora, mas o que interessa é o que ele vale dentro da "tirinha". E como o homem não tem pompa e circunstância...
Podíamos ir mais longe e falarmos de um certo Engenheiro de Petróleos, mas acho que não vale a pena.
Todos os países têm o que merecem, havendo maior margem para desculpas nos países africanos onde há graves problemas sociais e de desenvolvimento, mas certamente nenhumas para países europeus. E Portugal não tem desculpa!
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