Na lista dos 10 países mais susceptíveis de se tornarem estados falhados, sete são da África sub-saariana, nomeadamente Somália, Sudão, Zimbabué, Chade, República Democrática do Congo, Costa do Marfim e República Centro Africana. Os outros três são asiáticos: Iraque, Afeganistão e Paquistão.
A democracia tem destas coisas. Disseram que era preciso haver eleições e a Costa do Marfim realizou-as. No entanto, como é habitual, não explicaram que quem perde tem de sair. É que, se tivessem explicado, não haveria eleições.
Mas não é só em África que isto acontece. Em Portugal, um “cidadão de reconhecida consciência política e cívica”, que foi militante comunista desde 1969, tornou-se depois do 25 de Abril de 1974 o mais exaustivo e cáustico arauto do “verdadeiro socialismo” que liderava a educação das massas contra a “democracia burguesa” e os “salazaristas do CDS”. Chamava-se José Saramago.
Em Angola verifica-se, por exemplo, que ao Ocidente basta uma UNITA com 10% dos votos para dar um ar democrático à ditadura do MPLA. Aliás, por alguma razão o Ocidente não reagiu às vigarices, às fraudes protagonizadas pelo MPLA. E não reagiu porque não lhe interessa que a democracia funcione em Angola. É sempre mais fácil negociar com as ditaduras.
"Algumas pessoas já entenderam a essência da democracia, mas outras nem por isso, e os que nos querem hoje ensinar o que é a democracia são aqueles que atrasaram o país durante 500 anos e que são, ainda, as antenas e os acólitos do neocolonialismo na Guiné-Bissau", afirmou em tempos o ex-presidente guineense, Kumba Ialá.
Para o Ocidente, o importante é que se façam eleições o mais rapidamente possível, seja onde for, mesmo sabendo que os povos vão votar com a barriga (vazia). Mesmo sabendo que votar nestas condições nunca será sinónimo de democracia. Mesmo sabendo que, desta forma, não tardará que estejamos todos a lamentar mais umas mortes violentas.
É claro que, em democracia (dir-me-ão sobretudo os que não têm os problemas financeiros que atingem a esmagadora maioria dos portugueses) a indignação não se manifesta com violência física.
E se não se manifesta com violência física, fica-se confinado a protestos limitados à urbanidade típica dos que, por força das circunstâncias, comem e calam.
É claro que o primeiro-ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, arranja sempre maneiras, prenhes de urbanidade, de desviar as atenções dos aumentos constantes do custo de vida que "roubam" o direito a uma sobrevivência digna, e continua a ter estrategemas para atirar fumo para a chipala dos portugueses.
Estando o país, ou pelo menos parte dele, de tanga, que importa que existam em Portugal pelo menos dois milhões de pobres e que mais de 20% (vinte por cento, vinte em cada cem, uma em cada cinco) de crianças estejam expostas ao risco de pobreza?
Estando o país, ou pelo menos parte dele, de tanga, que importa o facto de, a seguir à Hungria e à República Checa, Portugal ser o país europeu onde as pensões são mais baixas e seriam precisos em média mais de 110 euros por pessoa para fazer face às despesas domésticas básicas, uma realidade que mais uma vez tem maior incidência nas classes sociais mais baixas?
Ao fim e ao cabo, os portugueses são um povo solitário (mais de meio milhão vive sozinho), ingénuo (ainda acreditam em José Sócrates), lixado e mal e pago (bem mais do que 700 mil desempregados).
São e, pelos vistos, assim vão continuar...
Sem comentários:
Enviar um comentário