A ministra da Cultura de Portugal desafiou os jovens do Alentejo a ingressarem na aprendizagem das artes tradicionais, afirmando que esta área poderá ser uma "oportunidade de afirmação" da economia local e de "criação de emprego".
Creio que Gabriela Canavilhas deveria estender esta questão das artes tradicionais ao Jornalismo, actividade cada vez mais artesanal e que corre sérios riscos de extinção, degolada que foi pela produção de conteúdos comerciais.
"Os tempos de crise são tempos de oportunidade", afirmou Gabriela Canavilhas, em declarações à Agência Lusa, acrescentando que, "neste momento, em que há uma mudança de paradigma do comportamento social e da forma como o emprego se desenvolve nas regiões, porque não olhar-mos para este setor como também uma oportunidade de afirmação da economia local e da criação de emprego".
Embora em Portugal se fale de Jornalismo e de Democracia, não creio que estas sejam questões relevantes para os donos do poder. A urgência é outra. Estando o país, nesta matéria como noutras, cada vez mais perto do Burkina Faso, não há necessidade de facto (de jure há algumas medidas cosméticas) se preocupar com miragens, no caso o jornalismo e a democracia.
No que ao jornalismo lusitano respeita, basta ver que um qualquer badameco a quem sai o euromilhões, ou a quem a banca o dá, pode ser dono de um ou mais meios de comunicação social, mesmo que a sua experiência e formação empresarial tenha sido feita em prostíbulos.
De igual modo, basta ver que para “ser” jornalista é suficiente abrir as pernas, ou pôr-se de cócoras, ao patrão ou ao director ou, também, ter estagiado em algum dos prostíbulos mais ou menos conhecidos, mesmo que nos de face oculta.
Não creio por isso que Portugal esteja minimamente preocupado com estas questões. Desde logo porque o “jornalismo” é apenas uma forma de comércio pelo que, penso, essas peregrinas ideias de “dar voz a quem a não tem”, de “entender que a verdade é a melhor qualidade dos jornalistas” já foi chão que, há muito, muito tempo, deu uvas.
Aliás, os jornalistas que ainda acreditam nessas igénuas regras sentem-se cada vez mais como um tolo no meio da ponte. Não sabem se devem ir em frente ou voltar atrás. E, nos raros momentos de sanidade mental, chegam à conclusão que... nem sequer existe ponte.
Qundo as organizações que querem defender os jornalistas e as que dizem que os querem defender se juntam, surge a dúvida sistémica: que tendências, que desafios?
Embora a dúvida seja sempre a mesma, a resposta é bem conhecida. A tendência é para a extinção do jornalismo, substituído pela produção em série de conteúdos comerciais de linha branca. Desafios? Apenas alguns protagonizados pelos idealistas que não deixam de lutar, nem que seja para que o Jornalismo passe a ser reconhecido como uma profissão artesanal.
E, pelos vistos, poderão agora contar com o apoio da ministra da Cultura.
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