Angola é o único Estado da CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, à qual aliás preside, que têm há 31 anos o mesmo presidente e que nunca foi eleito. Isto para além de ser (des)governado pelo mesmo partido, o MPLA, desde 1975.
Não está mal. Angola é uma ditadura? Formalmente não, de facto sim. Mas o que é que isso importa à CPLP, à UA, à ONU, se tem petróleo, que é um bem muito – mas muito - superior aos direitos humanos, à democracia, à liberdade, à cidadania?
Reconheça-se, contudo, que a hipocrisia não é uma característica específica de Portugal, se bem que nas ocidentais praias lusitanas tenha alguns dos seus mais latos expotentes. O Brasil afina pelo mesmo diapasão e os restantes membros da CPLP nem voto têm na matéria.
A hipocrisia internacional é de tal ordem que a própria UNESCO, por exemplo, projectou atribuir um prémio patrocinado pelo Presidente da Guiné-Equatorial, Teodoro Obiang Nguema, mais um dos grandes ditadores da actualidade.
Vê-se, por aqui, que a própria agência das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura chegou a equacionar dar cobertura a um dos mais infames ditadores mundiais, apesar de só estar no poder há... 31 anos. Mas tem petróleo, acrescente-se.
E como Angola tem petróleo (grande parte roubado na sua colónia de Cabinda), ninguém se atreve a perguntar a José Sócrates e a Cavaco Silva se acham que Angola respeita os direitos humanos ou se é possível que a presidência da CPLP seja ocupada por um país cujo presidente está no poder há 31 anos, sem ter sido eleito.
Reconheça-se, contudo, que tomando como exemplo Angola, a Guiné-Equatorial preenche todas as regras para entrar de pleno e total direito na CPLP. Não sabe o que é democracia mas, por outro lado, tem fartura de petróleo, o que é condição “sine qua non” para comprar o que bem entender.
Portugal, como não poderia deixar de ser, não vê o que se passa mas amplia o que gostava que se passasse. Vai daí, quando fez o balanço da sua presidência da CPLP, o Governo de José Sócrates destacou o compromisso assumido por todos os Estados membros para a promoção internacional da língua portuguesa.
E o resultado foi, continua a ser, tão positivo que – para além do analfabetismo na Guiné-Bissau (mais de 50%) ou a falta de livros em Timor-Leste – a CPLP vai abrir as portas a todas as ditaduras amigas. Tão amigas que, recentemente, José Sócrates elogiou a estabilidade política da Tunísia...
É claro que na lusofonia existem muitos seres humanos que continuam a ser gerados com fome, nascem com fome e morrem, pouco depois, com fome. Mas, é claro, morrem em... português... o que significa um êxito para a língua.
Sócrates, tal como Luís Amado, têm razão. O importante é mesmo os famintos e miseráveis da lusofonia saberem dizer, em bom português, “não conseguimos viver sem comer”. Continuarão, como até aqui, sem comida, sem medicamentos, sem aulas, sem casas, mas as organizações internacionais vão perceber o que eles dizem.
Tal como perceberam que Portugal transferiu a presidência da CPLP, com todo o brilhantismo e à volta de uma mesa farta, para um país que, por exemplo, mantém forte presença militar e policial na sua colónia de Cabinda, que não respeita os direitos humanos e que é dos mais corruptos do mundo.
Mas o que é que isso importa? O importante é que Angola fala português, com ou sem acordo ortográfico, tem petróleo que nunca mais acaba (embora a partir de uma colónia) e, mais importante do que tudo, está em vias de resolver os problemas económicos de Portugal.
Problemas que acabarão quando a Oferta Pública de Aquisição, parcial ou total, lançada pelo regime do MPLA sobre Portugal se concretizar.
Mas, se a Tunísia, tal como a Argélia, o Egipto, a Líbia, a Venezuela ou a China, podem ser os grandes parceiros do socialismo lusitano, porque carga de chuva não se poderá dar o mesmo estatuto a Angola?
Recordam-se que, no dia 6 de Maio de 2008, o músico e activista Bob Geldof afirmou, em Lisboa, que Angola é um país "gerido por criminosos"?
Geldof disse apenas o que, aqui no Alto Hama como noutros blogues, tem sido dito e repetido até à exaustão sem que, contudo, tenha merecido alguma atenção.
Nessa altura, Bob Geldof falava na conferência sobre Desenvolvimento Sustentável, organizada pelo Banco Espírito Santo e jornal Expresso, dedicando uma intervenção de cerca de vinte minutos ao tema "Fazer a diferença", no fim da qual o então embaixador angolano, Assunção dos Anjos, abandonou a sala.
As verdades são duras e o então embaixador não tinha outra solução. Não porque não soubesse que é verdade, mas porque o capataz do reino angolano, Eduardo dos Santos, lhe paga para dizer que é mentira. E paga bem.
Quando se referia às relações históricas e culturais de Portugal com o continente africano - "vocês serão uma voz importante no século XXI", Bob Geldof fez uma pausa e virou o discurso para Angola.
"Angola é gerida por criminosos", acusou o organizador do Live Aid e Live 8.
"As casas mais ricas do mundo estão a ser construídas na baía de Luanda, são mais caras do que em Chelsea e Park Lane", apontou, estabelecendo como comparação estes dois bairros luxuosos da capital inglesa.
1 comentário:
Angola só tem de agradecer ao Stº Antoninho de Santa Comba Dão tão dignificante exemplo, que tão bons frutos tem dado em Terras de Além Mar.
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