Diz o Semanário Angolense que os militantes da UNITA no Leste de Angola (Lundas Norte e Sul, Moxico e Kuando-Kubango) têm estado, amiúde, a aderir em massa para as fileiras do Partido de Renovação Social (PRS), liderado por Eduardo Kuangana.
Segundo o jornal, caso o Galo Negro não se acautele, corre o risco de perder o lugar de segundo maior partido político angolano para o PRS, que, de forma silenciosa, se agiganta cada vez mais em determinadas regiões do nosso país, particularmente no Leste, sua principal praça eleitoral.
“Seria interessante se se fizesse uma sondagem para saber se a UNITA ainda é o segundo maior partido do País e se está preparado para fazer frente ao MPLA nos próximos pleitos eleitorais”, escreve o SA.
No dia 24 de Fevereiro de 2002 alguém disse: «sekulu wafa, kalye wendi k'ondalatu! v'ukanoli o café k'imbo lyamale!». Ou seja, morreu o mais velho, agora ireis apanhar café em terras do norte como contratados.
Tirando os conhecidos exemplos da elite partidária, os soldados e simpatizantes da UNITA, bem como a maioria do Povo angolano, têm estado deste então a apanhar café, ou algo que o valha.
No rescaldo da guerra imediatamente a seguir à Independência, entre 1976 a 1978, houve uma brutal escassez de alimentos e a paralisação dos campos de algodão e café do norte de Angola.
Para fazer face a esse desafio, o governo de Angola reeditou a guerra do Kwata-Kwata, obrigando pela força das armas os contratados ovimbundos e ou bailundos (que outros poderiam ser?) a ir para as roças, sobretudo do norte de Angola.
Com a independência, os camponeses do planalto e sul de Angola sonharam com o fim do seu recrutamento forçado para aquelas roças. A reedição da estratégia colonial por um governo independente foi um golpe duríssimo na sua ilusória liberdade.
O então líder da UNITA, Jonas Savimbi, agastado com a fraqueza e quase exaustão das forças que conseguiram sobreviver à retira das cidades, em direcção às matas do leste (Jamba), onde reorganizou a luta de resistência, aproveitou esse facto, bem como a presença de estrangeiros, para mobilizar os angolanos.
«Ise okufa, etombo livala» (Prefiro antes a morte, do que a escravatura ), dizia Savimbi aos seus homens, militares ou não.
E agora? Será que os seus discípulos preferem a escravatura de barriga cheia ou a liberdade com ela vazia? Será que se lembram dos que só foram livres enquanto andaram com uma arma na mão?
Hoje, como ontem e certamente como amanhã, sempre que se fala em Democracia em Angola, ou sempre que falamos da Democracia de Angola, a reacção é um sorriso, um encolher de ombros, um abanar de cabeça.
Os angolanos, vivendo sob um regime ditatorial desde sempre, primeiro com o regime colonial português e depois com o regime imposto pelo MPLA, não têm motivos para esperar algo de diferente, até porque a UNITA está a mostrar-se incapaz de dar dar a volta ao problema.
Chamar democracia a tudo o que se passa em Angola é mascarar a realidade e os angolanos sabem-no bem. A realidade da vida do dia a dia é bem diferente de uma democracia.
O governo, finge que governa, mas o presidente Eduardo dos Santos decide em primeira e última análise tudo o que cada ministério faz.
Quanto ao Parlamento finge legislar, porque na realidade quem legisla são os acessores do presidente e por várias vezes, estes, desautorizaram os próprios deputados do MPLA.
Quanto aos tribunais, fingem julgar, mas as imparcialidades, os favores, a corrupção são diárias, públicas e desenvergonhadas.
O facto de existirem vários partidos não significa, só por si, que exista uma democracia. O país sabe-o, o Povo sabe-o, a comunidade internacional sabe-o, embora assobie e olhe para o lado.
A democracia deve ser exigida por todos, vivida por todos. O tempo dos reis absolutistas, ditatoriais, ainda não passou, mas terá de passar. E porque os angolanos devem exigir que os seus próprios partidos vivam em democracia é que, ao que parece, a UNITA – tal como a FNLA – tende a ser uma organização residual.
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