No dia 22 de Novembro do ano passado publiquei aqui no Notícias Lusófonas um texto intituado «Regime de Angola aperta o cerco a todos os que falam de Cabinda». Nele dizia que «em vários países, nomeadamente em Portugal, os serviços do MPLA estavam a apertar o cerco aos jornalistas, seja por ameaças físicas ou pelas tentativas de suborno».
Três dias depois fui contactado por uma jornalista da RDP/África. Cristina Magalhães, jornalista da RDP/África, dizia-me que tinha lido o artigo sobre Cabinda e que queria falar comigo sobre o assunto.
Para além de lhe fornecer, no mesmo dia, todos os meus contactos, falei com ela ao telefone disponibilizando-me para conversar sobre o assunto. Nesse texto publicado no NL afirmei (o que mantenho) que segundo o regime angolano urgia não só calar os jornalistas que mais atentos estão à questão, como evitar que de Cabinda saiam informações sobre as acções militares e policias que já estavam agendadas e que poderia ser desencadeadas a todo o momento.
Acrescentava igualmente que vários jornalistas que trabalham fora de Angola foram e estão a ser contactados por mandatários do regime angolano, sendo-lhe transmitidas duas soluções: “Quanto querem para deixar de falar de Cabinda” e “Ou deixam de falar de Cabinda ou a vossa integridade física corre sérios riscos”.
Mandatários esses que acrescentavam que “dinheiro não é problema”, reforçando que “também o resto não é problema”.
Acontece que até agora nunca mais fui contactado. Não é, aliás, de estranhar. Os critérios editoriais de quem manda servem exactamente para isso. Confesso que estranhei o contacto, desde logo porque não estava, nem estou, a ver a RDP/África a fazer algum trabalho que possa desagradar aos donos do poder, estejam eles em Luanda ou em Lisboa.
Mas esta história, triste para o Jornalismo mas lucrativa para quem dele se serve em vez de o servir, não é nova e tem outros protagonistas. No dia 12 de Outubro de 2007, já lá vai um tempito mas o conteúdo é o mesmo, a jornalista Isabel Guerreiro, do semanário português “O Diabo”, resolveu fazer-me, por escrito, três perguntas a propósito da Imprensa angolana.
Na altura perguntei à jornalista se, como é habitual quando se escreve o que não é esperado por quem manda (os tais critérios editoriais), não haveria o risco de as respostas serem enviadas directamente para a reciclagem.
Garantiu-me que não. Também eu quis acreditar que não. Mas a verdade é que as respostas nunca foram publicadas. E assim, cantando e rindo, vão as ocidentais praias lusitanas. Sempre satisfazendo os donos dos jornalistas e os donos dos donos. A bem, é claro, da Nação.
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