quinta-feira, janeiro 01, 2009

Ao Jornalista José Saraiva

Se não for possível deixar às gerações vindouras algum património, ao menos lutemos, nós os que ainda pensam que são Jornalistas, para lhes deixar algo mais do que a expressão exacta da nossa incompetência e cobardia.

Começo o ano a recordar um amigo, um colega, um director que embora já tenha partido, de vez em quando aparece no meio da malta: José Saraiva.

O Zé sabia que na profissão de Jornalista a única tarefa humilhante é a que se realiza com mentira, deslealdade, ódio pessoal, ambição mesquinha, inveja e incompetência.

O Zé sabia que um Jornalista nunca (nunca) vende a sua assinatura para textos alheios, tantas vezes paridos em latrinas demasiado aviltantes.

O Zé sabia que se o Jornalista não procura saber o que se passa no cerne dos problemas é, com certeza, um imbecil. E sabia que se o Jornalista consegue saber o que se passa mas, eventualmente, se cala é um criminoso.

O Zé sabia que o chefe é o primeiro a chegar e o último a sair, tal como sabia que se o chefe for imposto por decreto os seus colaboradores não passarão de voluntários devidamente amarrados.

O Zé sabia que um chefe não é apenas o que comanda mas, sobretudo, o que dá o exemplo. Também sabia que pensar que se é bom chefe só porque se usa gravata ou porque alguém lhe deu o título, é, mais ou menos, como pensar que se é pintor só porque se conhecem as cores do arco-íris.

O Zé sabia que estamos todos os dias em cima de um tapete rolante que anda para trás e que, por isso, se nos limitarmos a caminhar, ficamos com a sensação de que avançamos mas, de facto, estamos sempre no mesmo sítio.

O Zé sabia que muitos de nós para esconder as meias rotas preferem não tirar os sapatos, tal como sabia que uns perguntam o que não sabem, e só são ignorantes durante o tempo que leva a chegar a resposta, e que outros preferem ficar ignorantes toda a vida.

Zé: Tenho pena que nem todos os que contigo privaram tenham levado em conta o que sabias, mesmo que nem sempre o praticasses. Tenho pena. Mas, como vês, alguns guardaram o que de melhor sabias e que lhes permite contar até 12 sem tirar os sapatos...

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