Não sendo a língua portuguesa essencial para fazer parte da Comunidade de Países de Língua... Portuguesa, custa a perceber a importância que a CPLP dá ao Acordo Ortográfico que, presumo, seja relativo à língua... portuguesa.
Ingenuamente pensei que, por exemplo, uma das razões para a não entrada efectiva, entre outros países, da Guiné-Equatorial na Comunidade de Países de Língua... Portuguesa seria o facto de esse país, embora rico em petróleo, não falar... português.
Reconheço, contudo, que é um fraco argumento. Desde logo porque sendo a Guiné-Bissau um membro de pleno e total direito da CPLP, o seu ex, futuro, chefe da Armada, contra-almirante Bubo Na Tchuto, bem como o seu ex-vice e hoje chefe do Estado Maior das Forças Armadas, o general António Indjai, nem uma palavrinha sabem dizer, com ou sem Acordo Ortográfico, em... português.
É, portanto, fácil concluir que a língua portuguesa (com ou sem Acordo Ortográfico) não representa qualquer condição para se ser membro da CPLP. Devo, contudo, acrescentar que tanto Bubo Na Tchuto como António Indjai, entre muitos outros, falam uma outra língua internacionalmente, mas sobretudo em África, bem conhecida: o Kalashnikovês.
Pois é. Em vez de se potenciar a língua (com ou sem Acordo Ortográfico) como o principal elo de ligação, como factor decisivo de todas as outras vertentes da sociedade globalizada, a CPLP (enquanto manta de retalhos) pensa que essa é uma vitória eterna. E não é. Nunca foi.
Nas comunidades de origem portuguesa, as novas gerações pouco ou nada falam português. Nos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) assiste-se ao legítimo proliferar dos dialectos locais e ao galopante êxito do inglês. O Português, com ou sem Acordo Ortográfico, tenderá (se nada for feito, se tudo continuar na mesma) a ser apenas uma língua residual.
Ao contrário do que fazem franceses e ingleses, os portugueses têm por hábito deixar para amanhã o que deveriam ter feito ontem.
Não existe, na língua como noutros sectores, uma conjugação estratégica de objectivos. Cada um rema para o seu lado e, é claro, assim o barco comum (a Lusofonia) não chega a nenhum porto. Há projectos sobrepostos, e muitas áreas onde ninguém chega. Ninguém não é verdade. Chegam os ingleses, os franceses, os norte-americanos, os chineses, os cubanos.
A CPLP deveria ser, com ou sem Acordo Ortográfico, o organismo que, por excelência, poderia divulgar a língua. Está, contudo, adormecida. Quando acordar verá que a Lusofonia - como parece ser o seu objectivo não assumido - já morreu...
A China, por exemplo, está a preparar muitos dos seus melhores quadros para que dominem, com ou sem Acordo Ortográfico, a língua portuguesa. Fazem-no para conquistar os mercados lusófonos. Nada mais do que isso.
De uma forma geral, todos (mais uns do que outros, importa dizê-lo) continuam à espera que o burro aprenda a viver sem comer. Mas, quando olharem para o lado, vão ver que quando o burro estava quase a saber viver sem comer... morreu.
A Lusofonia, essa realidade que - com ou sem Acordo Ortográfico - em muito ultrapassa os 250 milhões de cidadãos em todos os cantos do planeta, parece condenada a ser ultrapassada, ou até mesmo aniquilada.
Quando será que, de forma consciente e consistente, a CPLP unirá forças, com ou sem Acordo Ortográfico, para entregar a carta a Garcia, indiferente aos que dizem para a deitar na valeta mais próxima?
Para mim, para alguns de nós, a Lusofonia (com ou sem Acordo Ortográfico) deveria ser um desígnio nacional. Defender esta tese é, provavelmente, pregar paras os peixes. Mas vale a pena continuar a lutar. Lutar sempre, apesar da indiferença de (quase) todos os que podiam, e deviam, ajudar a Lusofonia.
Até agora continuam a ser mais os exemplos dos que, com ou sem Acordo Ortográfico, em vez de privilegiarem a competência preferem a subserviência. Que em vez do português preferem o inglês ou até mesmo o Kalashnikovês.
Até agora continuam a ser mais os exemplos dos que, com ou sem Acordo Ortográfico, em vez de privilegiarem a competência preferem a subserviência. Que em vez do português preferem o inglês ou até mesmo o Kalashnikovês.
3 comentários:
A expressão «com ou sem Acordo Ortográfico» aparece 10 vezes repetida neste seu texto, pelo teor do qual, aliás, devo cumprimentá-lo.
Ao contrário das aparências, ainda existe muita gente em Portugal - arriscaria dizer, sem risco de errar, tratar-se de uma larga maioria - que tem bastas e fundamentadas razões para preferir "sem".
Por isso mesmo está em curso uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos (ILC) para revogação da entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990. São necessárias 35.000 assinaturas.
Texto da ILC e impresso de subscrição em http://ilcao.cedilha.net
(...)grado devia estar por alguem ali tentando falar a tua lingua!!!
O Acordo Ortográfico é combatido, desculpem-me a dureza do termo, por pura tacanhês económica ou metal. Foi essa tacanhês que provocou a independência do Brasil, que transformou a independência das colónias de África numa tragédia e impede que muitos vejam o papel importante que a Lusofonia e a CPLP podem desempenhar.
Concordo com as críticas à atuação da CPLP que, até agora, tem sido anémica; não posso, porém, concordar com as críticas ao AO, visto ele poder ser um elemento aglutinante.
Tentar impedir a entrada em vigor do AO é um ato de irresponsabilidade, quase de xenofobia ! ...
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