O Governo português, que (ainda) não é da Ibéria, decidiu hoje, em reunião extraordinário do Conselho de Ministros, decretar dois dias de luto nacional, sábado e domingo, pela morte do escritor José Saramago.
Não sei quantos dias de luto serão decretados na Comunidade de Países de Língua(?) Portuguesa, mas calculo que possam seguir o exemplo português. Provavelmente (seria um gesto bonito) também o próximo membro da CPLP, a Guiné Equatorial, deverá fazer o mesmo.
Em comunicado oficial, o Governo declara luto nacional por dois dias “como forma de expressão de pesar pela morte do escritor José de Sousa Saramago”.
“José Saramago foi o autor português contemporâneo mais traduzido, com livros editados em todo o mundo, tendo recebido vários prémios literários e graus honoríficos, nacionais e internacionais, entre os quais o prémio Camões, em 1995, e o prémio Nobel da Literatura, em 1998”, justifica o Executivo.
O Governo refere também que José Saramago é considerado “o principal responsável pelo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa”, tendo sido “romancista, poeta, dramaturgo, cronista, crítico literário, tradutor, jornalista e cidadão de reconhecida consciência política e cívica”.
O comunicado do Conselho de Ministro não salienta, tanto quanto é do meu conhecimento (admito por isso que possa haver uma falha da minha parte, pela qual peço desde já desculpa ao Governo na pessoa de José Sócrates), que José Saramago quando, em 1975, chegou à Direcção do Diário de Notícias afirmou aos jornalistas: “Quem não está com a Revolução, é melhor não estar no Diário de Notícias”.
Também não refere que os editoriais de José Saramago (embora não assinados) faziam a apologia radical dos então portugueses de primeira e que, recorde-se, eram apenas os que seguiam as ideias de Vasco Gonçalves no Movimento das Forças Armadas.
O comunicado do Governo também não diz que José Saramago liderou o saneamento de cerca de 30 jornalistas que, parafraseando o comunicado de hoje, levaram o “cidadão de reconhecida consciência política e cívica” a impor que esses jornalistas ou comiam e calavam ou iam para a rua. E foram.
O “cidadão de reconhecida consciência política e cívica” (José Saramago) foi militante comunista desde 1969 e tornou-se depois do 25 de Abril o mais exaustivo e cáustico arauto do “verdadeiro socialismo” que liderava a educação das massas contra a “democracia burguesa” e os “salazaristas do CDS”.
1 comentário:
Apesar de entender que Saramago honrou a Língua Portuguesa,espero que a ideia da Ibéria tenha morrido com ele.
Enviar um comentário