O grupo Media Investments, de capitais privados angolanos mas de origem oficialmente desconhecida, anunciou hoje a aquisição de três dos mais importantes jornais de Angola, o Novo Jornal, o Semanário Angolense e A Capital.
Embora de forma oficial não se saiba quem são os donos dos jornais, nem quem são os donos dos donos, o processo envolveu altas patentes militares com interesses empresariais do regime angolano que, para o negócio, tiveram o beneplácito estratégico do presidente da República e a cobertura financeira de fundos internacionais, também eles alimentados pelo clã Eduardo dos Santos.
É claro que com o monopólio que o grupo Media Investments terá com a compra destes três órgãos, todos eles pouco simpáticos para o regime que governa o país desde 1975 e cujo presidente está no poder há 31 anos, a liberdade de imprensa em Angola passará a ser ainda mais uma miragem.
Como sempre acontece nestas alturas, o grupo Media Investments diz tratar-se “de uma transacção normal, ditada exclusivamente por factores de mercado”, acrecentando que a linha editoral de cada um dos jornais vai continuar a ser a mesma.
É claro que todos sabem que não vai ser assim. Todos os colaboradores incómodos para o regime e que tinham nestes jornais algum espaço de manobra vão, a seguir a mero intervalo, ficar afónicos.
É um processo de domesticação conhecido em todo o mundo e que, mesmo em democracia plena e num Estado de Direito, tem sempre bons resultados para quem está no poder.
Veja-se, por exemplo, os muitos casos que existem em Portugal, em que jornais independentes foram comprados para passarem a ser correias de transmissão – mesmo que camufladas - dos donos do poder.
Aliás, mesmo em Portugal sabe-se em muitos casos quem são os donos dos jornais, mas não se sabe de forma assumida quem são os donos dos donos.
No caso de Angola, a fase seguinte – que nada tem de original – será calar também as vozes dissonantes dos próprios jornalistas, levando-os a pensar com a barriga. Mesmo assim, os que resistirem acabarão por ser despedidos com o argumento legal de uma qualquer reestruturação empresarial, ou da urgência de conjugar as sinergias do grupo.
Este é, pois, um filme já visto noutras paragens. Seguindo o guião, também a versão angolana vai entrar na fase da criação de uma linha de fabrico de textos de linha branca, garantida que esteja a obrigatoriedade de revelar apenas a verdade oficial.
Acresce, tal como em Portugal, que ninguém se preocupará com isso. E tal como afirma o governo potuguês, também o angolano vai reafirmar a sua determinação em defender com todos os meios ao seu alcance a liberdade de Imprensa.
1 comentário:
SAVANA Maputo 040610
Grupos ligados ao regime de Luanda compram jornais privados
E se a moda pega em Moçambique?
Evoluiu para uma nova etapa a pressão que os “grupos económicos” vêm exercendo sobre os media privados em Angola no sentido de influenciar o percurso dos mesmos e das suas respectivas linhas editoriais, críticas do actual regime de José Eduardo dos Santos. Três reputados semanários que lideram o “ranking” de aceitação e vendas são alvos de propostas irrecusáveis. Em Moçambique a pressão continua via publicidade, modernização de meios, parcerias externas e “memorandos de entendimentos”.
Os três jornais visados são o “Semanário Angolense” dirigido pelo veterano Graça Campos, o semanário “A Capital” de Tandala Francisco e uma publicação já da “nova vaga” saída dos preparativos das eleições gerais de 2008, o “Novo Jornal”, ancorado noutro veterano, o jornalista Gustavo Costa. A operação terá sido comandada por uma empresa denominada Media Investments, ligada ao general Kopelipa e ao assessor de imprensa do presidente José Eduardo dos Santos, Aldomiro da Conceição. As informações disponíveis indicam que terão sido gastos USD 15 milhões pela compra das publicações que, no seu conjunto, não ultrapassam os 10 mil exemplares. Apesar da profusão dos detalhes disponíveis, a informação não foi oficialmente confirmada, mas também ninguém a desmentiu. As nossas fontes em Luanda indicam que a causa próxima da operação, que terá tido total cobertura do regime do MPLA, foram matérias ligando o PCA da Sonangol, Manuel Vicente a esquemas de corrupção e escritas pelo conhecido articulista Rafael Marques.
Kopelipa está em todas
O “Novo Jornal”, publicação ao qual a ESCOM (grupo Banco Espírito Santo de Portugal) cortou apoio financeiro, foi também adquirido pelo grupo económico Porfírio, que detém participações no Banco de Espírito Santos (BESA) e no Banco de Fomento de Angola (BFA). A Media Investments teria comprado apenas uma participação de 40%. Os novos accionistas querem a saída do director adjunto Gustavo Costa que deverá ser objecto de uma indemnização. O DG (Director Geral) da publicação, Victor Silva, deverá também sair. Porém, Silva deverá fazer parte do conselho de administração da Rádio Nacional de Angola (RNA), a ser nomeada em breve.
O Novo Jornal viveu momentos de crise depois de em Outubro de 2009 terem feito manchete de capa com uma matéria reprovando os 12 meses de prestação do governo do MPLA, um ano após as segundas eleições realizadas em Angola. Uma das antigas accionistas identificada por Catarina ter-se-ia imediatamente manifestado contra a publicação e, para evitar embaraços com o regime angolano, retirou parte das acções. O Novo Jornal era suposto de ser uma “crítica soft” ao regime, assentando a sua aposta na divulgação dos feitos da economia angolana, ancorado na publicidade dos principais grupos económicos operando em Angola, uma estratégia com muitas semelhanças a um grupo de media moçambicano com um canal de televisão e um jornal diário.
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