quinta-feira, setembro 11, 2008

Avisos, alertas e recados de quem não quer
dar voz a quem a não teve durante 33 anos

Gente de peso em Portugal fez o favor, que agradeço, de me alertar (ou seria avisar?) que como Jornalista deveria levar em conta que, citanto por minha iniciativa António Bustorff, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, “Angola é vista como o paraíso incondicional para o investimento português”.

Presumo que o alerta (ou seria aviso?) vai no sentido de que do ponto de vista do Governo português e do MPLA, será politicamente incorrecto que alguém lembre que mais de 68% da população angolana vive em pobreza extrema ou que a taxa estimada de analfabetismo é de 58%, enquanto a média africana é de 38%.

Presumo que o alerta (ou seria aviso?) vai no sentido de que do ponto de vista do Governo português e do MPLA, será politicamente incorrecto que alguém lembre que entre 1997 a 2001, Angola consagrou à educação uma média de 4,7% do seu orçamento, enquanto a média consagrada pela SADC foi de 16,7%.

Presumo que o alerta (ou seria aviso?) vai no sentido de que do ponto de vista do Governo português e do MPLA, será politicamente incorrecto que alguém lembre que embora a economia esteja a crescer em força, está a crescer mal, quer na estrutura da produção interna, quer na distribuição da riqueza nacional: 76% da população vive em 27% do território.

Presumo que o alerta (ou seria aviso?) vai no sentido de que do ponto de vista do Governo português e do MPLA, será politicamente incorrecto que alguém lembre que mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros, que mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões de angolanos.

Presumo que o alerta (ou seria aviso?) vai no sentido de que do ponto de vista do Governo português e do MPLA, será politicamente incorrecto que alguém lembre que o MPLA fundamenta a sua estratégia para enclausurar a liberdade de escolha dos angolanos em cinco pontos:

- Dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o ‘cabritismo,” – este método é utilizado para amordaçar os dirigentes, quadros, deputados, governantes e militantes do Partido da situação e não só.

- A coação e ameaças são utilizadas para silenciar os jornalistas, sobretudo em Angola mas também noutros países.

- A violência física e a intolerância política são as formas preferidas para intimidar os militantes e simpatizantes da UNITA e não só.

- A coação e a instrumentalização são utilizadas contra as autoridades tradicionais e algumas entidades religiosas.


- A corrupção política e económica é, hoje como ontem, utilizada contra todos.

Presumo que o alerta (ou seria aviso?) vai no sentido de que do ponto de vista do Governo português e do MPLA, será politicamente incorrecto que alguém diga algumas verdades.

Tomei nota do alerta (ou seria aviso?) mas, como sempre, só é derrotado quem desiste de lutar. E aqui no Alto Hama, pelo menos aqui, continuarei a dar voz a quem a não tem, mesmo que isso seja, do ponto de vista do Governo português e do MPLA, politicamente incorrecto. Politicamnte e não só, eu sei. Quase se diria: a bem da Nação.

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