quarta-feira, setembro 10, 2008

Resultados assustadores para a democracia

O jornalista e escritor angolano José Eduardo Agualusa defendeu hoje que os resultados das eleições legislativas de sexta-feira em Angola são "assustadores para a democracia", com o espectro de um "pensamento político único" nos próximos anos.

Em declarações à Agência Lusa, Agualusa considerou que os resultados, apontando para uma vitória do MPLA com mais de 80 por cento, representam "um regresso ao partido único", com a desvantagem de, agora, ser legitimado pelo voto.

"Os resultados são assustadores e preocupantes. É um regresso ao partido único, só que através do voto. Não há democracia sem oposição. Não há correntes de pensamento no Parlamento, por excelência, a casa da discussão democrática", sublinhou Agualusa desde Bruxelas, onde participa, quinta-feira de manhã, num evento promovido pelo Parlamento Europeu.

José Eduardo Agualusa, mostrando-se também "extremamente preocupado" com a pressa do reconhecimento da validade dos resultados, comparou, sem os pôr em causa, com uma eventual situação idêntica registada em Portugal ou noutro qualquer país europeu.

"Não acredito que ninguém ficasse preocupado. Os comentadores e jornalistas debateriam tudo até à exaustão. Só que é Angola... O resultado das eleições é um revés para a democracia e um pouco assustador. A grandeza da democracia está na diversidade de opinião e não na pobreza de pensamento", sustentou, aludindo ao facto de o futuro Parlamento angolano perder várias forças políticas.

Nesse sentido, Agualusa não deu qualquer importância ao facto de as principais forças da oposição ao MPLA não se terem unido em torno de um só objectivo, derrubar o partido no poder desde a independência, em 1975, defendendo que cada partido "tem a sua visão política".

"A oposição não tinha de se juntar, uma vez que cada partido tem a sua visão. Não concordo com essa ideia" de unificação da oposição para combater o poder do MPLA, explicou o jornalista e escritor angolano, lembrando que o Parlamento saído das eleições de 1992, as primeiras, era mais equilibrado.

Nota: Aqui no Alto Hama, bem como noutros locais onde impera o poder das ideias, tem-se dito a mesma coisa.

1 comentário:

Anónimo disse...

Então não será isto "africa a caminhar com os próprios sapatos"?

Pois deixemo-la caminhar.

Não é cada cabeça um voto?