Angola votou, o MPLA ganhou e agora a comunidade internacional dorme descansada. Com a maioria absolutíssima conseguida, o MPLA vai fazer o que quer, quando quiser. É a democracia, dirão os adeptos do MPLA, é a porta da ditadura, digo eu.
Um dos primeiros passos do MPLA será, creio, rever a Constituição e dar-lhe a força necessária a um regime que uns chamam de democrático, outros de musculado, outros de autoritário mas que, em síntese, visa o reforço da concentração de todos os poderes nas mãos do Presidente da República.
De forma eufemística, ao estilo de onça escondida com o rabo de fora, o MPLA fala de regime semi-presidencialista, mas a verdade é que será ainda mais presidencialista e ponto final.
Falar de semi-presidencialismo quando o presidente será o chefe do Estado e do Governo é gozar com a chipla de pelo menos 80% dos angolanos que votaram no MPLA. Não percebo, aliás, qual é a diferença prática entre um regime com estas características e uma qualquer ditadura.
É claro que os angolanos não podem dizer livremente estas coisas. São livres, isso sim, de dizer o que o regime quer. Fora disso, cuidado. Mesmo no seio do MPLA o cuidado impera. É que todos os anos existe o mês de Maio e o dia 27.
"O MPLA é contra qualquer forma de ditadura, porque defende a democracia", referiu, no dia 9 de Fevereiro do ano passado, Eduardo dos Santos, pouco se importando com o facto de que em democracia não pode haver um Chefe de Estado não eleito no poder há tantos anos quantos os dele.
Na altura, discursando na abertura da sétima reunião ordinária do comité central do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no Futungo de Belas, arredores de Luanda, José Eduardo dos Santos rejeitou a ideia de que existam nos textos do partido ou na Constituição angolana quaisquer princípios totalitários.
"Não há nos documentos fundamentais do nosso partido, nem na Lei Constitucional da República de Angola nenhuma orientação ou princípio que consagre o poder totalitário de uma classe social através da ditadura do proletariado", salientou.
"Têm circulado alguns textos ultimamente, onde essa ditadura é considerada como sendo necessária para o desenvolvimento de Angola e onde também são apresentados conceitos e ideias abandonados por quase todos os partidos de esquerda ", disse então o líder do MPLA numa jogada pré-eleitoral que agora, ganhas as eleições, cai por terra com a previsível ditadura que será consagrada na revisão da Constituição.
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