sábado, setembro 13, 2008

Reflexão sobre o (mau) estado da UNITA
(Ainda é a ética que comanda a política?)

Para esta reflexão sobre a UNITA, mais longa do que é habitual, parto de dois princípios que, para mim, continuam a ser basilares e que também o eram (será que ainda o são?) para a União Nacional para a Independência Total de Angola: é a ética que deve dirigir a política e as batalhas ganham-se ou perdem-se por causa dos generais, nunca por causa dos soldados.

Os resultados das últimas eleições não revelaram propriamente uma derrota. São, importa que todos o reconheçam, uma humilhação nacional e internacional. É claro que, como dizia o Presidente Jonas Savimbi, só é derrotado quem deixade lutar. É, por isso, necessário que a UNITA continue a luta depois, é claro, de pôr a casa em ordem.

E pôr a casa em ordem começa por fazer contas, sérias e honestas, ao facto de com esta derrocada a UNITA ter atirado centenas, ou milhares, dos seus quadros para as ruas do desespero. É que agora as verbas relativas aos 70 deputados e atribuídas pelo Orçamento Geral do Estado foram, ou vão ser, drasticamente reduzidas.

Embora seja ponto assente que houve fraude, manipulação e outros estrategemas por parte do MPLA, desde 1992 que se sabia que isso voltaria a acontecer logo que houvesse eleições. E se durante a guerra não foi possível pensar nisso, os últimos seis anos de paz deram, deveriam ter dado, tempo para que a UNITA se preparasse para o que já sabia que iria acontecer.

E, mais uma vez, o exemplo deve partir de cima. Não basta que o Presidente Isaías Samakuva assuma a responsabilidade política pela catástrofe. Ele tem, ou deve, dar o exemplo. Exemplo ético de que mandou o seu “exército” pela caminho errado pelo que, como em tudo na vida, deve pôr o lugar à disposição de quem, de frente, possa ser alternativa.

Se em qualquer guerra, até mesmo nas muitas que a UNITA travou em prol dos angolanos, os generais que falharam são punidos, a situação actual é, ou deverá ser, a mesma.

Aliás, se a UNITA responsabilizar quem falhou, por muita honestidade que tenha posto na luta, está a dar um bom exemplo aos angolanos para que estes percebam que, afinal, existe uma substancial diferança entre a democracia que a UNITA defende e a que é imposta pelo MPLA. Acredito, inclusive, que os militantes até queiram que Samakuva continue a liderar o partido. Mas devem ser eles a decidir e não os seus principais colaboradores.

É que, no tal contexto da ética, Samakuva e os seus pares não podem dizer que Eduardo dos Santos devia ser substituído porque cometou muitos e graves erros (que de facto cometeu) e, apesar de terem também cometido muitos e graves erros, quererem continuar no poder como se nada se tivesse passado.

E se a UNITA quer, julgo que quer mesmo, ser diferente (para muito melhor, entenda-se) do que o MPLA, não pode usar a máxima “olhai para o que dizemos e não para o que fazemos”.

Importa igualmente recordar agora, e mais uma vez, que Samakuva (mesmo que tenha sido alguém por ele não o iliba) afastou da direcção do partido quadros que, na minha óptica, constituiam não só mas também a nata da UNITA. A tendência para substituir a competência pela subserviência deu no que deu. Uma catástrofe.

Terá sido por isso, estou em crer, que os subservientes colaboradores do Presidente o aconselharam a esquecer as zonas que eram, chamemos-lhe assim, afectas ao Abel Chivukuvuku (Lundas, Moxico, Namibe, Cabinda, Malange).

Neste contexto, o caso do Kuando-Kubango parece-me paradigmático. Apesar de o governador ser da UNITA, o presidente... da UNITA só lá foi uma vez nos últimos seis anos. Agora, durante a campanha.

Campanha que, mais uma vez, revelou a aposta em gente de boa vontade mas de nula competência ou experiência. Samakuva esqueceu-se, ou deram-lhe informações erradas, que a competência ou a experiência não se conseguem por decreto.

Vejam-se alguns exemplos que revelaram boa vontade mas que, na verdade, só serviram para que o MPLA comesse a UNITA de cebolada.

A campanha foi coordenada por Abílio Camalata Numa, secretário-geral, que da matéria pouco sabia pois, em 1992, integrava as Forças Armadas de Angola. Adalberto da Costa Júnior, que foi responsável pela informação, em 1992 estava em Portugal. Domingos Maluka, figura de destaque na campanha e vice-presidente da bancada parlamentar, era em 1992 militante da JMPLA. Aliás, o próprio Isaías Samakuva estava nessa altura em Londres

(Lembrei-me agora dos tempos em que o porta-voz UNITA-Renovada para a Europa, Baltazar Capamba, abriu caminho ao encontro, em Paris, entre o enviado do MPLA e Isaías Samakuva que, desde sempre, foi considerado por Eduardo dos Santos o político ideal para liderar a UNITA depois da morte de Savimbi.)

Dizem-me, entretanto, que as listas da UNITA revelaram uma grande democraticidade e transparência. No entanto, ainda não percebi (é certamente falha minha) como é que Adalberto da Costa Júnior que vence no círculo nacional pela Huíla surge como cabeça de lista por Luanda, ou como o general Demosthenes Amos Chilingutila, que entra no círculo eleitoral do Namibe aparece como o coordenador da campanha eleitoral da UNITA em Luanda.

Também ainda não percebi (é certamente falha minha), como é que nas listas da UNITA apareceram tantos nomes de familiares de figuras influentes e outros, verdadeiros “generais” que seriam decisivos para vencer esta batalha, ficaram de fora.

É que ficaram de fora os que estiveram presentes, e sobreviveram, em 1992 e que por isso estavam mais do que qualquer outros habilitados a saber o que o MPLA iria novamente fazer em 2008.

O que é feito (e porque razão foram afastados ou semi-afastados) de Carlos Kalitas, José Pedro Kachiungo, Marcial Dachala, Carlos Morgado, Urbano Chassanha, Tito Kandongo, Luís Kissanga ou até mesmo Samuel Chiwale?

2 comentários:

Anónimo disse...

Fiquei intrigado, com tão boas ideias e capacidade de saber quem é melhor e o que melhor fazer porquê que não foi para Angola ajudar na campanha? De facto, há quanto tempo vive em Portugal sem ir ao terreno?

Justifique-se num texto ou então será apenas mais um treinador de bancada.

Anónimo disse...

"Embora seja ponto assente que houve fraude, manipulação e outros estrategemas por parte do MPLA...)

Ó Sr. Orlando:

Quem assentou o tal "ponto assente"? A OUA, a UE, os Estados Unidos, as Igrejas de Angola, o vaticano? Quem, Sr. Castro?

Com essa sua segueira, não creio que volte um dia a Angola; não acredto que se volte a banhar nas Águas Quentes do Alto Hama!

É que o meu amigo parece não aprender com a História, neste caso a história de Angola, a Angola actual e real, que o senhor apenas conhece á distância. Vá lá ao terreno, sr. Castro...

Saudações

Augusto Silva