José Lemos, presidente da Bolsa de Valores de Lisboa, analisa a actual situação vivida pelas principais bolsas internacionais em diferentes planos, desde logo porque, salienta, é importante olhar para trás e atender à contiguidade que a globalização económica implica.
Seja como for, até porque não estão em causa os fundamentos macroeconómicos quer de Portugal, quer da Europa ou dos EUA, José Lemos entende que é preciso ter cuidado, o que não significa entrar em pânico.
«Durante um período largo de tempo (desde finais de 1996, princípio de 1997 e até agora) viveu-se no mercado de capitais uma situação de contínua subida nas diferentes bolsas, sobretudo na dos mercados desenvolvidos da Europa e dos EUA», recorda o também vice-presidente do Central - Banco de Investimentos.
Terá isso sido bom? «Não», diz José Lemos, acrescentando que essa realidade levou à generalização de que as bolsas e o mercado em geral «estariam sempre condenados a subir». Aliás, acentua, «essa era, isso sim, uma situação de anormalidade». E anormal tanto foi «essa situação que se viveu durante um período largo de tempo como também, neste momento, a situação que se tem vivido nos mercados europeu e americano».
José Lemos entende que em toda este contexto «há factores de alguma irracionalidade tanto num comportamento como no noutro». O presidente da Bolsa diz que a primeira crise teve origem nos países asiáticos e que, graças à globalização do mercado de capitais, introduziram factores de nervosismo nos investidores e instabilidade nos mercados.
«É uma crise profunda. O Japão atravessa um momento de uma depressão prolongada onde ainda não se vislumbram com grande nitidez os caminhos para a recuperação económica e financeira. A grande instabilidade do sector financeiro e as fortes perdas nos mercados cambiais afectaram as praças internacionais, nomeadamente a praça americana e por essa via os diferentes mercados europeus», retrata José Lemos.
Mais recentemente juntou-se a Rússia, «não só pelas implicações económicas e financeiras da crise, mas, sobretudo, por razões políticas que trouxeram algum pessimismo aos investidores, com o consequente efeito nos mercados».
No caso português, como no europeu ou norte-americano, diz José Lemos, «a queda nos mercados não resulta nem de depressões, nem de razões internas, nem de comportamentos negativos das principais empresas desses mercados. São claramente factores exógenos».
É claro, reconhece, que esses factores exógenos têm introduzido «alguns comportamentos de irracionalidade junto dos investidores», nomeadamente no caso português.
Irracionalidade justificável? «Sim. Também têm justificação pelo facto de, há mais um ano, estarem a acumular ganhos sucessivos nos seus investimentos em bolsa. Esta descida, sobretudo a amplitude da descida, também encontra razão pelo facto dos investidores terem posições onde acumularam mais valias significativas».
«Foi também pelo facto de se ter vivido numa conjuntura altista, onde os investidores foram acumulando mais valias potenciais e efectivas que, agora, perante a permanência da crise asiática, perante a incerteza em torno da Rússia, aumentou o nervosismo e o pessimismo dos investidores», assinala José Lemos.
Em matéria de perspectivas, e quando a maior parte dos analistas jogam com uma tripla, José Lemos considera que «os mercados vão continuar a estar em instabilidade nos próximos tempos», embora, corrobora, isso não signifique que «a instabilidade seja apenas num sentido (descidas contínuas). Nesta conjuntura, fortemente volátil, haverá também boas oportunidades de investimento que serão, com certeza, aproveitadas pelos investidores».
O presidente da BVL recomenda, por isso, que «o investimento na bolsa deverá ser cuidadoso e feito sobretudo através de profissionais, pois, do ponto de vista dos investidores, nomeadamente dos particulares, é uma conjuntura extremamente sensível que, por isso, deve ter o apoio de profissionais».
José Lemos dá razão ao ministro das Finanças quando este, há poucos dias, afirmou que a instabilidade do mercado bolsista, nomeadamente do português, não se fundamenta em aspectos de natureza macroeconómica interna ou de comportamentos negativos das nossas empresas.
«As empresas portuguesas que estão cotadas são empresas sólidas, geradoras de boas oportunidades de mercado, os seus resultados estão em crescimento, estão a investir e a diversificar as suas actividades», salienta e, citando o exemplo da Cimpor, exemplifica que elas estão «a atravessar um excelente momento da sua actividade», pelo que «não há razões para estar pessimista quanto à qualidade do investimento».
Toda esta vasta e complexa questão deve ser analisada, segundo o presidente da BVL, do ponto de vista do funcionamento e do comportamento nos mercados internacionais, porque - como se sabe - se há área mais sujeita ao efeito «dominó», ela é a área financeira».
Seja como for, José Lemos entende que se vive um momento em que deve haver «prudência e cautela, mas de forma nenhuma é um momento para desânimo ou para pessimismo exagerado ou pânico».
(*) Artigo publicado no Jornal de Notícias (Portugal) em 4-9-1998
«É uma crise profunda. O Japão atravessa um momento de uma depressão prolongada onde ainda não se vislumbram com grande nitidez os caminhos para a recuperação económica e financeira. A grande instabilidade do sector financeiro e as fortes perdas nos mercados cambiais afectaram as praças internacionais, nomeadamente a praça americana e por essa via os diferentes mercados europeus», retrata José Lemos.
Mais recentemente juntou-se a Rússia, «não só pelas implicações económicas e financeiras da crise, mas, sobretudo, por razões políticas que trouxeram algum pessimismo aos investidores, com o consequente efeito nos mercados».
No caso português, como no europeu ou norte-americano, diz José Lemos, «a queda nos mercados não resulta nem de depressões, nem de razões internas, nem de comportamentos negativos das principais empresas desses mercados. São claramente factores exógenos».
É claro, reconhece, que esses factores exógenos têm introduzido «alguns comportamentos de irracionalidade junto dos investidores», nomeadamente no caso português.
Irracionalidade justificável? «Sim. Também têm justificação pelo facto de, há mais um ano, estarem a acumular ganhos sucessivos nos seus investimentos em bolsa. Esta descida, sobretudo a amplitude da descida, também encontra razão pelo facto dos investidores terem posições onde acumularam mais valias significativas».
«Foi também pelo facto de se ter vivido numa conjuntura altista, onde os investidores foram acumulando mais valias potenciais e efectivas que, agora, perante a permanência da crise asiática, perante a incerteza em torno da Rússia, aumentou o nervosismo e o pessimismo dos investidores», assinala José Lemos.
Em matéria de perspectivas, e quando a maior parte dos analistas jogam com uma tripla, José Lemos considera que «os mercados vão continuar a estar em instabilidade nos próximos tempos», embora, corrobora, isso não signifique que «a instabilidade seja apenas num sentido (descidas contínuas). Nesta conjuntura, fortemente volátil, haverá também boas oportunidades de investimento que serão, com certeza, aproveitadas pelos investidores».
O presidente da BVL recomenda, por isso, que «o investimento na bolsa deverá ser cuidadoso e feito sobretudo através de profissionais, pois, do ponto de vista dos investidores, nomeadamente dos particulares, é uma conjuntura extremamente sensível que, por isso, deve ter o apoio de profissionais».
José Lemos dá razão ao ministro das Finanças quando este, há poucos dias, afirmou que a instabilidade do mercado bolsista, nomeadamente do português, não se fundamenta em aspectos de natureza macroeconómica interna ou de comportamentos negativos das nossas empresas.
«As empresas portuguesas que estão cotadas são empresas sólidas, geradoras de boas oportunidades de mercado, os seus resultados estão em crescimento, estão a investir e a diversificar as suas actividades», salienta e, citando o exemplo da Cimpor, exemplifica que elas estão «a atravessar um excelente momento da sua actividade», pelo que «não há razões para estar pessimista quanto à qualidade do investimento».
Toda esta vasta e complexa questão deve ser analisada, segundo o presidente da BVL, do ponto de vista do funcionamento e do comportamento nos mercados internacionais, porque - como se sabe - se há área mais sujeita ao efeito «dominó», ela é a área financeira».
Seja como for, José Lemos entende que se vive um momento em que deve haver «prudência e cautela, mas de forma nenhuma é um momento para desânimo ou para pessimismo exagerado ou pânico».
(*) Artigo publicado no Jornal de Notícias (Portugal) em 4-9-1998
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