terça-feira, setembro 30, 2008

Crise nos EUA não justifica pânico

O primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, afirma que as famílias portuguesas com poupanças podem estar tranquilas apesar do actual quadro de crise e elogiou a capacidade de resistências das instituições financeiras nacionais. Não é bem assim, mas não anda longe.

"As entidades de supervisão, o ministro das Finanças [Teixeira dos Santos] e eu próprio acompanhamos os desenvolvimentos. Mas o mercado português tem dado mostras de boa saúde para resistir", acrescenta José Sócrates, não reparando que se a casa do vizinhos está a arder o melhor, digo eu, é Portugal começar a pôr as barbas de molho.

Creio que a crise vai, mais uma vez, servir de mote para que haja uma convergência das partes de um todo para concorrem tendo em vista um mesmo resultado. Tudo isto se resume numa só palavra: sinergia.

Hoje em Portugal, sobretudo depois de José Sócrates ter descoberto a pólvora, as sinergias afiguram-se como um milagroso remédio que tudo cura, nem que isso signifique engordar a conta bancária dos poucos que têm milhões em detrimento dos muitos milhões que têm cada vez menos.

Numa actividade “sinergética” que mais parece cinegética por os contribuintes cada vez mais se assemelharem a troféus de caça, todos os meus neurónios convergem no sentido de me dizerem que, mais uma vez, o mexilhão é que se vai lixar. Está a ser assim nos EUA, é assim em Portugal, seja por haver crise financeira, seja por haver défice.

Seja como for, até porque não estão em causa os fundamentos macroeconómicos quer de Portugal, quer da Europa ou dos EUA, é preciso ter cuidado, o que não significa entrar em pânico.

Durante um período largo de tempo viveu-se no mercado de capitais uma situação de contínua subida nas diferentes bolsas, sobretudo na dos mercados desenvolvidos da Europa e dos EUA.

Terá isso sido bom? Não. Não foi. A realidade levou à generalização de que as bolsas e o mercado em geral estariam sempre condenados a subir. Aliás, essa era, isso sim, uma situação de anormalidade. E anormal tanto foi essa situação que se viveu durante um período largo de tempo como também, neste momento, a situação que se tem vivido nos mercados europeu e americano.

Há factores de alguma irracionalidade tanto num comportamento como no noutro. A primeira crise teve origem nos países asiáticos e que, graças à globalização do mercado de capitais, introduziram factores de nervosismo nos investidores e instabilidade nos mercados.

É uma crise profunda. O Japão atravessou há dez anos um momento de uma depressão prolongada onde ainda não se vislumbram com grande nitidez os caminhos para a recuperação económica e financeira. A grande instabilidade do sector financeiro e as fortes perdas nos mercados cambiais afectaram as praças internacionais, nomeadamente a praça americana e por essa via os diferentes mercados europeus.

Mais recentemente juntou-se a Rússia, não só pelas implicações económicas e financeiras da crise, mas, sobretudo, por razões políticas que trouxeram algum pessimismo aos investidores, com o consequente efeito nos mercados.

No caso português, como no europeu ou norte-americano, a queda nos mercados não resulta nem de depressões, nem de razões internas, nem de comportamentos negativos das principais empresas desses mercados. São claramente factores exógenos.

É claro que esses factores exógenos têm introduzido alguns comportamentos de irracionalidade junto dos investidores, nomeadamente no caso português.Irracionalidade justificável pelo facto de estarem a acumular ganhos sucessivos nos seus investimentos em bolsa. Esta descida, sobretudo a amplitude da descida, também encontra razão pelo facto dos investidores terem posições onde acumularam mais valias significativas.

Foi também pelo facto de se ter vivido numa conjuntura altista, onde os investidores foram acumulando mais valias potenciais e efectivas que, agora, perante a permanência da crise, perante a incerteza em torno dos EUA, aumentou o nervosismo e o pessimismo dos investidores.

Em matéria de perspectivas, e quando a maior parte dos analistas jogam com uma tripla, parece ser de perspectivar que os mercados vão continuar a estar em instabilidade nos próximos tempos, embora isso não signifique que a instabilidade seja apenas num sentido (descidas contínuas). Nesta conjuntura, fortemente volátil, haverá também boas oportunidades de investimento que serão, com certeza, aproveitadas pelos investidores.

Assim o investimento na bolsa deverá ser cuidadoso e feito sobretudo através de profissionais, pois, do ponto de vista dos investidores, nomeadamente dos particulares, é uma conjuntura extremamente sensível que, por isso, deve ter o apoio de profissionais.

Seja como for, vive-se um momento em que deve haver prudência e cautela, mas de forma nenhuma é um momento para desânimo ou para pessimismo exagerado ou pânico.

1 comentário:

Anónimo disse...

Quais famílias com poupanças? Só se for a dele!