quarta-feira, setembro 03, 2008

Silêncio de Portugal porque é preciso
ajudar o MPLA a continuar no poder

Falando hoje na Polónia sobre Angola, Cavaco Silva limitou-se a dizer o óbvio: “Desejo que as eleiçõess ocorram com toda a paz, sem qualquer perturbação, justas e livres como costumam dizer as Nações Unidas nos processos eleitorais".

Seja. Nem mesmo o facto de quatro órgãos de comunicação social - SIC, Expresso, Público e Visão - não terem ainda vistos para entrar em Angola para cobrir as eleições mereceu comentários do presidente da República portuguesa. O MPLA agradece. Os angolanos não, mas essa é outra história.

Será que Cavaco Silva, embora mais comedido, pensa da mesma forma que José Sócrates, para quem Angola nunca esteve tão bem, mesmo tendo 68% dos angolanos na miséria?

Será que o MPLA possui algum tipo da kazumbiri que tolda a inteligência dos políticos portugueses, ou é apenas uma questão de dólares, de macro-economia, de Sonangol e similares?

De facto, como há já alguns anos dizia o Rafael Marques, os portugueses só estão mal informados porque querem, ou porque têm interesses eventualmente legítimos mas pouco ortodoxos e muito menos haminitários.

Custa a crer, mas é verdade que os políticos portugueses (há, é claro, excepções) fazem um esforço tremendo (se calhar bem remunerado) para procurar legitimar o que se passa de mais errado com as autoridades angolanas, as tais que estão no poder há 33 anos.

Alguém, pergunto eu, ouviu José Sócrates, Manuela Ferreira Leite ou até mesmo Cavaco Silva recordar que 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças?

Alguém os ouviu recordar que apenas 38% da população tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico?

Alguém os ouviu recordar que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade?

Alguém os ouviu recordar que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos?

Alguém os ouviu recordar que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação é agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino?

Pois é... Silêncio.

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